Posso contrair covid pela 2ª vez mesmo vacinado? Infectologista responde
Governador de SP disse na 5ª feira que está novamente com a doença, apesar de ter completado ciclo vacinal
Guilherme Resck
O anúncio de que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), contraiu a covid-19 pela segunda vez, feito pelo próprio chefe do Executivo paulistano pelo Twitter nesta 5ª feira (15.jul), pode suscitar dúvidas a respeito do verdadeiro risco que o novo coronavírus representa e, inclusive, sobre a capacidade das vacinas em conter a pandemia. A comunidade científica, porém, já sabe como respondê-las, e essas respostas consideram por exemplo o potencial do Sars-CoV-2 de levar ao surgimento de variantes.
Segundo o infectologista Julival Ribeiro, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), "existem casos descritos na literatura que uma vez que você tenha tido covid, não são muitos casos, não é tão frequente, mas você pode ter por exemplo, após 90 dias, novamente a doença". "Para eu dizer que foi uma reinfecção é necessário fazer um teste genético, ou seja, o sequenciamento do coronavírus, para saber se são duas cepas diferentes. Se forem duas cepas diferentes, está constatado que você teve uma reinfecção", completou em entrevista ao SBT News.
Em nota técnica, o Ministério da Saúde acrescenta que ser infectado em momentos diferentes por cepas homólogas também é possível, o que sugere uma queda na imunidade adquirida contra o microrganismo após a primeiro período de doença. Entretanto, diz a pasta, "no atual cenário, e em virtude do conhecimento de que o Sars-CoV-2 pode provocar eventualmente infecções por períodos prolongados de alguns meses, faz-se necessário determinar critérios de confirmação, como sequenciamento genômico, para comprovação de que se tratam de infecções em episódios diversos, por cepas virais diferentes".
De todo modo, mesmo após completar o ciclo vacinal contra a covid-19, ou seja, receber as duas doses dos imunizantes ou uma -- no caso da substância da Janssen -- qualquer pessoa ainda pode ser contaminada pelo coronavírus. O motivo, explica o infectologista da SBI, é que "nenhuma vacina, de nenhuma plataforma, de nenhum fabricante, lhe dá 100% de eficácia". "Qual a grande importância da vacina? É que você tomando as duas doses ou uma dose, como é no caso da Janssen, ela vai lhe proteger para casos graves, para evitar mortes, evitar internações. Esse é o grande mérito da vacinação da covid, como é o grande mérito da vacinação para influenza", pontuou.
O governador João Doria afirmou nesta 4ª feira que, apesar da doença, está se sentindo "muito bem" e não tem receios sobre a possibilidade de agravamento da covid, por ter sido vacinado. Por outro lado, Julival relembra ainda que "mesmo você tomando qualquer das vacinas disponíveis, as duas doses ou uma dose, de acordo com o fabricante, em alguns casos raríssimos você pode, sim, ter a covid, ter um caso grave e vir a óbito".
Há estudos também, reforça o infectologista, segundo os quais a variante Delta do novo coronavírus -- identificada originalmente na Índia -- pode reduzir a efetividade das vacinas Pfizer/BioNTech e Oxford/AstraZeneca. Portanto, Julival pontua: "mesmo pós-vacina, nós devemos continuar mantendo as medidas preventivas. Quais são? Usar máscara, evitar aglomerações, fazer higienização das mãos, manter o distanciamento social". Até o momento, não foi observado um padrão para a gravidade da covid-19 em uma reinfecção, de modo que a doença pode ser pior na primeira vez do que na segunda, ou vice-versa.
Coinfecção por coronavírus
Também em entrevista ao SBT News, Julival alertou sobre a possbilidade de coinfecção por coronavírus: "foi visto agora através de publicação na Bélgica uma primeira pessoa, uma senhora, que teve coinfecção, ou seja, ela teve duas cepas do coronavírus diferentes. Esse foi o primeiro caso relatado no mundo. O que se especula nesse caso em particular é que ela vivia numa casa de saúde e talvez ela fosse infectada por duas pessoas diferentes que a levou essa infecção, com essas duas cepas diferentes". Esse primeiro registro veio à tona no último final de semana, após pesquisadores apresentá-lo no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas.