ANÁLISE: Respeitem o Butantan, por Carlos Nascimento
Leia a análise do âncora do SBT Brasil sobre a maior fabricante pública de vacinas da América Latina
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Instituto Butantan foi construído durante a pandemia da peste bubônica do começo do século XX | Divulgação
A disputa política em torno das vacinas da Covid 19, infelizmente expõe a risco a imagem e a competência do Instituto Butantan, uma das joias brasileiras na área da farmacologia e Saúde Pública. Para os paulistas um grande orgulho e símbolo de eficiência, confiança e dedicação.
O primeiro a falar do Butantan foi meu pai, na estação da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, na qual apanhávamos o jornal vindo da capital. Eu menino perguntei o que havia naquelas caixas de madeira deixadas sobre a plataforma e trancadas com cadeados. Papai explicou, para a minha perplexidade que eram serpentes. Os fazendeiros capturavam as cobras e as mandavam para o Butantan extrair o veneno e enviar de volta algumas doses do soro antiofídico.
Contei essa história aos meus filhos, eles aos meus netos e todas as vezes em que falamos do Butantan é como se fizéssemos uma reverência. Esta é a instituição que neste momento se dedica de corpo e alma a produzir uma vacina para salvar vidas no Brasil e onde for necessário.
Não tenho intimidade com o governador João Doria, não conversei com ele e nem com Dimas Covas, diretor do Butantan. Escrevo por minha conta e risco para não dizerem que estou deste ou daquele lado. Na verdade todos estamos. Do lado dos que se empenham em salvar vidas ameaçadas pela pandemia.
Soube por boa fonte do otimismo, da energia e da disposição da equipe voltada para a fabricação da vacina, chamada Coronavac e da confiança no êxito desse trabalho. A produção começou antes de ontem e será mantida durante 24 horas, 7 dias por semana, com o domínio da tecnologia e a mão-de-obra habituada a fazer o que está fazendo.
Em tupi-guarani 'Butantan' significa solo duro, terra batida. Segundo a prefeitura de São Paulo, o Instituto surgiu em 1901 para enfrentar uma epidemia de peste bubônica. Sob a coordenação do médico Vital Brasil dedicou-se à pesquisa e à produção de soros.
Trata-se de uma instituição séria e que certamente entregará uma vacina confiável, submetida ao mais exigente controle de qualidade e aprovada pelos órgãos competentes, conforme determina a vigilância sanitária. Ou, fora desses critérios, não entregará.
É injusto misturar a reputação e o nome do Instituto Butantan a querelas políticas e usá-lo em campanhas eleitorais deste ou daquele partido. E muito menos desmerecer a qualidade da vacina.
Quando chegamos ao ponto a que chegamos, uma pandemia provocada por um vírus que já matou quase 200 mil brasileiros, não existem mais a vacina dos Estados Unidos, a da Inglaterra, a da Fiocruz, da China ou do Butantan.
Existem as vacinas fruto do esforço de médicos, pesquisadores e farmacologistas do mundo inteiro, das quais necessitamos para nos proteger e sobreviver.
*O jornalista Carlos Nascimento é âncora do SBT Brasil
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