Lula critica inteligências: "Impressão de que era um golpe de Estado"
Presidente avalia que Bolsonaro passou a imagem de que "tinha muito a ver" com os atos golpistas
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A primeira impressão do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, diante dos atos golpistas, em 8 de janeiro, era de que havia em curso a tentativa de um golpe de Estado. Segundo ele, era possível que aquelas pessoas estavam acatando alguma orientação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Muito tempo ele mandou invadir a Suprema Corte, muito tempo ele desacreditou do Congresso Nacional, muito tempo ele pedia que o povo andasse armado, que isso era democracia", declarou Lula em entrevista à Globonews.
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Ele afirmou que houve negligência por parte das forças de segurança. "Só via gente entrando e não via soldado reagindo", avaliou. "Eles entraram porque a porta estava aberta. Alguém de dentro do palácio abriu a porta para eles. Houve conivência de alguém que estava aqui dentro."
A impressão, disse, era de que a polícia estava dando "guarida às pessoas, estava protegendo as pessoas que estavam fazendo quebra-quebra".
O presidente declarou, ainda, que não aceitou decretar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para não perder a autoridade sobre o governo, como teria acontecido, em 2018, com o ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão. "Virou rainha da Inglaterra."
"O importante é que eu fui eleito presidente da República deste País. Eu não ia abrir mão de cumprir com as minhas funções de exercer o poder na sua plenitude."
Bolsonaro
Para Lula, o seu antecessor sabia previamente do que aconteceria naquele dia. O petista avalia que as decisões de Bolsonaro de manter-se calado após as eleições, de não passar a faixa presidencial e viajar para Miami (EUA), "como se estivesse fugindo com medo de alguma coisa", e o silêncio posterior tem um significado.
"Dava a impressão de que ele sabia de tudo o que estava acontecendo, que ele tinha muito a ver com aquilo que estava acontecendo. Obviamente que quem vai provar isso são as investigações, mas a impressão que me deixava era essa", declarou.
Segundo o presidente, houve uma grande falha das áreas de inteligência, como as da Abin, do GSI, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. "A verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para me avisar que poderia ter acontecido isso. Se eu soubesse na 6ª feira que viriam 8 mil pessoas, eu não teria saído de Brasília."
Investigações
Quanto ao ex-ministro da Justiça e então secretário de Justiça do Distrito Federal no dia dos atos, Anderson Torres, Lula acredita que ele sabia o que ia acontecer. "Ele foi embora e quando voltou deixou o celular lá pra gente não fazer as investigações, mas nós vamos fazer."
"Nós vamos apurar com muita paciência. As pessoas que foram presas vão ser ouvidas e vão ter direito à defesa. As pessoas vão ser punidas se a gente provar que elas foram culpadas. Senão, a gente não garante a existência, a sobrevivência da democracia, e com a democracia a gente não pode brincar."
Forças Armadas
Na próxima 6ª feira, o petista deve se reunir com os comandantes das Forças Armadas. Para o presidente, eles precisam assumir a responsabilidade de orientar as tropas sobre os seus papéis constitucionais.
"Eu não quero ter problemas com a Força e não quero que eles tenham problema comigo. Eu quero que a gente volte à normalidade. É isso. As pessoas estão aí para cumprir as suas funções e não para fazer política. Quem quiser fazer política tira a farda, renuncia ao seu cargo, cria um partido político e vai fazer política."
O presidente afirmou, ainda, que os militares que tiverem envolvimento comprovado com os atos serão punidos. "Não importa a patente, não importa a força que ele participe. Terão que ser afastados das suas funções e vão responder perante a lei", pontuou.