Interferência da CIA sinaliza preocupação com democracia brasileira
Professor Juliano Cortinhas explica ao SBT News que tipo de cobrança política feita pelos EUA não é comum

Bruna Yamaguti
O alerta que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) fez ao governo de Jair Bolsonaro (PL) para não colocar dúvida sobre as eleições pode significar que as preocupações em relação ao pleito deste ano estão se intensificando. Tal sinalização mostra que os sucessivos ataques do chefe do Executivo ao sistema eleitoral brasileiro podem estar, inclusive, chegando ao cenário externo.
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Em entrevista ao SBT News, o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Juliano Cortinhas afirma que o tipo de cobrança política feita pelos norte-americanos não é comum. "Mas também é importante dimensionar que não é comum um presidente atacar o seu próprio sistema eleitoral, como Bolsonaro vem fazendo desde que foi eleito, dizendo que houve fraude na própria eleição em que ele foi escolhido o presidente do nosso país", ressalta.
Além disso, ele destaca o fato de que os EUA já viveram um episódio de ameaça à democracia em 2021, com a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro. "Quando há problemas na democracia dos Estados Unidos, que é a mais tradicional do mundo, eles também perdem legitimidade para fazer cobranças a outros países. Mas o fato é que estão preocupados com o próprio vazamento dessa conversa", pondera.
Segundo Cortinhas, o alerta feito pela CIA ter vindo à tona sinaliza uma inquietação internacional com o bom andamento do pleito deste ano, a ser realizado em outubro. "Para mim, esse vazamento não foi ao acaso, eles realmente estão externando essa preocupação não só ao próprio presidente, quanto à sociedade como um todo", destaca.
Entenda
O diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) disse a altos funcionários ligados ao governo de Jair Bolsonaro (PL) que o mandatário brasileiro deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema eleitoral do Brasil. A informação foi divulgada nesta 5ª feira (5.mai) pela agência de notícia Reuters.
Em nota, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) afirmou que "os assuntos tratados, em reuniões, na área de inteligência, são sigilosos. O GSI não recebe recados de nenhum país do mundo, nem os transmite".