Secretário desdenha de alerta para aumento da temperatura na Amazônia
Representante do Ministério do Meio Ambiente chamou pesquisa da Fiocruz, Inpe e USP de "futurologia"
André Anelli
O secretário adjunto de clima e relações internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Freire, classificou como "futurologia" uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de São Paulo (USP) divulgada nesta 6ª feira (1º.out). O estudo aponta que o desmatamento da Amazônia e o aquecimento global podem elevar a temperatura média da região Norte do país em até 11,5°C, colocando em risco a vida, a natureza e o clima no bioma.
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"Há mais de 40 anos, todo ano a gente tem uma pesquisa dessa, desempenhada por alguém, dizendo que daqui a cinco anos a Amazônia vai virar um deserto, o Norte vai ficar inabitável, então não vou gastar muito tempo com futurologia. Não sei nem que pesquisa é essa", disse o secretário adjunto, durante evento que explicava a Cédula de Produto Rural Verde (CPR), que institui pagamento por serviços ambientais a produtores rurais.
A pesquisa, que o secretário disse desconhecer, foi publicada na revista científica Nature e tomou como base modelos matemáticos para simular os efeitos acumulados na Amazônia, diante do cenário de aquecimento global e savanização do bioma. De acordo com o levantamento, as temperaturas máximas na região podem ficar acima dos 40ºC à sombra em pelo menos 7% dos dias do ano no fim deste século, podendo ultrapassar os 46ºC.
O Ministério do Meio Ambiente tem sido cobrado pela comunidade internacional a garantir a preservação da Amazônia, sob pena de restringir ou suspender a compra de produtos agropecuários brasileiros oriundos de propriedades que não obedecem a legislação ambiental brasileira. O suposto beneficiamento do ex-ministro Ricardo Salles a madeireiras clandestinas na região Norte foi uma das polêmicas que o forçou a deixar a pasta, em junho.