Governo
Bolsonaro foi elogiado em jantar por acabar com a Lava-Jato
Há 10 dias, autoridades reconheceram mérito do presidente por acabar com "estado policialesco", durante jantar na casa de Kátia Abreu
Débora Bergamasco
• Atualizado em
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Na noite de 28 de setembro, no apartamento funcional da senadora Kátia Abreu (PP-TO), na quadra 309 da Asa Sul, em Brasília, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) puxou o assunto que martelava em sua cabeça havia dias: o presidente Jair Bolsonaro havia desmontado o estado policialesco em que se transformou o Brasil nos últimos tempos. Ou o que muitos chamam de arruinar a operação Lava-Jato.
Renan desenvolveu sua tese. Bolsonaro conseguiu resolver em pouco mais de um ano o problema que sequestrou a paz e as energias da classe política nacional durante seis primaveras. Agora, os políticos podem, finalmente, voltar a pensar nas questões importantes para levar prosperidade ao país. Na visão do parlamentar, Bolsonaro, considerado inábil por muitos, fez o que mestres da política não conseguiram, como o senador Romero Jucá, que propôs "estancar a sangria" promovida pela Lava-Jato e quase saiu preso, sem poupar uma gota sequer. O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes ouvia com atenção a fala de Renan. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AC), também.
O jantar oferecido naquela noite já fresca, depois de um dia seco que bateu os 33º C, tinha como objetivo testar se Gilmar daria seu apoio à iminente indicação do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para a vaga no STF. O nome do desembargador Kássio Nunes Marques, o verdadeiro escolhido, àquela altura nem existia no mapa de possibilidades. E, sim, Gilmar concederia a bênção. Mas a tese de Renan sobre Bolsonaro estava interessante e os seletos convidados se engajaram na reconstituição de uma linha do tempo do tal desmonte.
Pela teoria do senador, tudo começou em maio do ano passado, quando Bolsonaro tira o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) das mãos do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e passa para o ministério da Economia, de Paulo Guedes, que rapidamente se livra da batata quente e a joga para o Banco Central. O Coaf havia vasculhado as movimentações financeiras de Fabrício Queiroz e de Flávio Bolsonaro, quando os dois trabalhavam juntos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No MJ, o órgão era comandado por Roberto Leonel, com quem Moro teve contato próximo no caso Banestado. No BC, Leonel foi demitido.
Os comensais continuavam a elaboração do raciocínio. Em setembro, Bolsonaro sanciona a lei de abuso de autoridade, para conter os excessos de juízes, ou amedrontá-los, dependendo do ponto de vista. Este projeto, que começou como uma reação do STF e do Superior Tribunal de Justiça a um mau comportamento de juízes de primeira instância, acabou abraçado pela maioria do Congresso Nacional.
Entre uma taça e outra de vinho, um deles lembrou da indicação de Augusto Aras para a Procuradoria Geral da República, também em setembro. Avaliaram que ao Bolsonaro escolher um nome fora da lista tríplice, alçou um subprocurador sem débitos com a corporação, composta em boa parte por "lavajatistas". Além de outras qualidades que com o tempo Aras demonstrou ter.
Em dezembro, Bolsonaro acerta mais uma marretada em Moro, um dos símbolosdo sucesso da Lava Jato: sanciona a figura do juiz de garantias, proposta pelo Congresso. Mas que acabou suspensa pelo Supremo.
Em abril deste ano, desgastado, Moro pede demissão, sai atirando e acusa Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. Esse tema ainda está sob investigação, mas algumas trocas na PF agradaram autoridades da República e, avalia-se, ajudou a desanuviar certas tensões.
Depois de toda essa viagem no tempo, os colegas voltaram ao momento presente do jantar, vésperas da indicação no novo ministro do STF. Estavam animados. Achavam que Jorge Oliveira, por quem Bolsonaro nutre carinho e confiança quase paternais, viraria o jogo nas votações da Segunda Turma do Supremo, somando maioria de magistrados garantistas e imprimindo derrotas às pretensões da Lava Jato. Acredita-se que este papel Kássio vá cumprir igualmente ou até melhor.
Ao ver sua tese referendada pelos colegas na casa de Kátia, Renan Calheiros empolgou-se. A repetiu algumas vezes reservadamente e nesta semana achou por bem declará-la ao canal por assinatura CNN Brasil, com síntese cirúrgica, boa para viralizar na internet. A história não teve a calorosa recepção de como quando foi proferida entre amigos. Ao contrário. Causou tanta gritaria que Jair Bolsonaro teve que responder. Renan já calculava tal desfecho. Só não imaginava que o presidente se sairia com essa frase: "Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo", disse o chefe do Executivo. Mais uma vez, Bolsonaro mostra que a inabilidade está nos olhos de quem vê.
( A foto que ilustra a reportagem é de Marcelo Camargo da Agência Brasil )
Renan desenvolveu sua tese. Bolsonaro conseguiu resolver em pouco mais de um ano o problema que sequestrou a paz e as energias da classe política nacional durante seis primaveras. Agora, os políticos podem, finalmente, voltar a pensar nas questões importantes para levar prosperidade ao país. Na visão do parlamentar, Bolsonaro, considerado inábil por muitos, fez o que mestres da política não conseguiram, como o senador Romero Jucá, que propôs "estancar a sangria" promovida pela Lava-Jato e quase saiu preso, sem poupar uma gota sequer. O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes ouvia com atenção a fala de Renan. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AC), também.
O jantar oferecido naquela noite já fresca, depois de um dia seco que bateu os 33º C, tinha como objetivo testar se Gilmar daria seu apoio à iminente indicação do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para a vaga no STF. O nome do desembargador Kássio Nunes Marques, o verdadeiro escolhido, àquela altura nem existia no mapa de possibilidades. E, sim, Gilmar concederia a bênção. Mas a tese de Renan sobre Bolsonaro estava interessante e os seletos convidados se engajaram na reconstituição de uma linha do tempo do tal desmonte.
Pela teoria do senador, tudo começou em maio do ano passado, quando Bolsonaro tira o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) das mãos do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e passa para o ministério da Economia, de Paulo Guedes, que rapidamente se livra da batata quente e a joga para o Banco Central. O Coaf havia vasculhado as movimentações financeiras de Fabrício Queiroz e de Flávio Bolsonaro, quando os dois trabalhavam juntos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No MJ, o órgão era comandado por Roberto Leonel, com quem Moro teve contato próximo no caso Banestado. No BC, Leonel foi demitido.
Os comensais continuavam a elaboração do raciocínio. Em setembro, Bolsonaro sanciona a lei de abuso de autoridade, para conter os excessos de juízes, ou amedrontá-los, dependendo do ponto de vista. Este projeto, que começou como uma reação do STF e do Superior Tribunal de Justiça a um mau comportamento de juízes de primeira instância, acabou abraçado pela maioria do Congresso Nacional.
Entre uma taça e outra de vinho, um deles lembrou da indicação de Augusto Aras para a Procuradoria Geral da República, também em setembro. Avaliaram que ao Bolsonaro escolher um nome fora da lista tríplice, alçou um subprocurador sem débitos com a corporação, composta em boa parte por "lavajatistas". Além de outras qualidades que com o tempo Aras demonstrou ter.
Em dezembro, Bolsonaro acerta mais uma marretada em Moro, um dos símbolosdo sucesso da Lava Jato: sanciona a figura do juiz de garantias, proposta pelo Congresso. Mas que acabou suspensa pelo Supremo.
Em abril deste ano, desgastado, Moro pede demissão, sai atirando e acusa Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. Esse tema ainda está sob investigação, mas algumas trocas na PF agradaram autoridades da República e, avalia-se, ajudou a desanuviar certas tensões.
Depois de toda essa viagem no tempo, os colegas voltaram ao momento presente do jantar, vésperas da indicação no novo ministro do STF. Estavam animados. Achavam que Jorge Oliveira, por quem Bolsonaro nutre carinho e confiança quase paternais, viraria o jogo nas votações da Segunda Turma do Supremo, somando maioria de magistrados garantistas e imprimindo derrotas às pretensões da Lava Jato. Acredita-se que este papel Kássio vá cumprir igualmente ou até melhor.
Ao ver sua tese referendada pelos colegas na casa de Kátia, Renan Calheiros empolgou-se. A repetiu algumas vezes reservadamente e nesta semana achou por bem declará-la ao canal por assinatura CNN Brasil, com síntese cirúrgica, boa para viralizar na internet. A história não teve a calorosa recepção de como quando foi proferida entre amigos. Ao contrário. Causou tanta gritaria que Jair Bolsonaro teve que responder. Renan já calculava tal desfecho. Só não imaginava que o presidente se sairia com essa frase: "Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo", disse o chefe do Executivo. Mais uma vez, Bolsonaro mostra que a inabilidade está nos olhos de quem vê.
( A foto que ilustra a reportagem é de Marcelo Camargo da Agência Brasil )
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