Eleições 2024: Casos de violência marcam disputa por prefeituras pelo Brasil
Observatório da Violência Política Eleitoral registrou ao menos 311 casos de agressões contra lideranças este ano
As eleições deste ano foram marcadas pelo aumento nos casos de violência física e verbal nas disputas pelas prefeituras no país. Dados do Observatório da Violência Política Eleitoral no Brasil indicam ao menos 311 ataques contra lideranças em 2024 - metade deles ocorreram só no mês de setembro.
São Paulo é o estado que lidera esse ranking: foram 50 episódios, mais de 16%. Dentre os crimes, estão ameaças, agressões, atentados, sequestros e até assassinatos e homicídios de familiares de políticos.
O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas, Marco Antônio Teixeira, avalia que esta já é uma das eleições mais violentas da história do país. "Eu acompanho a eleição desde a redemocratização das eleições municipais, que se deu com o embate do Jânio com o Fernando Henrique, para a Prefeitura de São Paulo. O que aconteceu naquele momento - do Jânio desinfetando a cadeira porque o Fernando Henrique sentou antes da hora, das perguntas que os jornalistas faziam para o Fernando Henrique, que se ele acreditava em Deus, se ele já tinha fumado maconha -, é fichinha perto do que acontece hoje", ele pontua.
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Teixeira chama a atenção ainda para a gravidade das acusações e da violência verbal observada durante a campanha eleitoral nestas eleições. "Dizer para um candidato que ele consumiu droga e fazer, inclusive, uma representação teatral disso, depois de descobre que era um homônimo desse candidato e não se assume isso como erro; dizer para uma determinada candidata que a culpa do suicídio do pai é dela; dizer para o outro candidato que ele não era homem; botar o dedo na cara do outro candidato dizendo que ele roubou, que ele corrompeu, essas coisas todas", observa o cientista político.
Especialistas apontam a influência das redes sociais no aumento das hostilidades. Nem mesmo o risco de ações na Justiça tem coibido postagens acusatórias, sem provas. Mas, como frear um processo que ultrapasse os limites da liberdade de expressão? Para estudiosos do tema, a solução está em punições mais severas e educação política.
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"A cidade de São Paulo saiu de cena. Estamos falando da cidade que tem as principais universidades do país, onde se produz conhecimento de ponta, onde a modernização tecnológica se instalou, onde os acessos a bens culturais são hiper diversos, onde a gastronomia é referência para o mundo, e temos um processo eleitoral completamente distante dessas qualidades que a cidade apresenta... não faz sentido algum!", pondera Marco Antônio Teixeira.
Para os eleitores, sobram ofensas e faltam debates realmente propositivos. "Discutir o que a gente precisa de melhorias, isso a gente não vê. É só discussão, é só ataque", aponta uma eleitora. "Existe muito apontamento de dedo, mas falar realmente o que vai ser feito... não estou vendo nada", concluiu outra.