PSol avalia se integrará governo: "Não dá para acender vela a Deus e ao diabo"
Sigla aguarda definição de alianças e, principalmente, sinais sobre a gestão econômica de Lula
Roseann Kennedy
O PSol está com receio de integrar o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a sigla está dividida sobre o rumo que deverá tomar: se aceitará vaga na Esplanada dos Ministérios ou não. Primeiro, os psolistas querem saber que partidos farão parte da aliança, quais serão os nomes escolhidos e se a prioridade da gestão será seguir uma pauta mais social e à esquerda ou cederá às pressões do mercado financeiro.
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"A prioridade vai ser proteger os mais pobres, viabilizar as políticas sociais, combater a pobreza extrema logo de cara ou vai ser acender a vela pro mercado, garantir a estabilidade fiscal, os ganhos do mercado financeiro, dos acionistas da Petrobras? Não dá mais para acender uma vela para Deus e outra pro diabo, como foi feito nos períodos de expansão da economia mundial, no início dos anos 2000. Agora vai ter que tomar lado, vai ter que fazer escolhas, e elas é que vão balizar nossa decisão", afirmou o presidente do PSol, Juliano Medeiros, em entrevista ao SBT News.
Juliano, que faz parte da coordenação política da transição, admite que Lula precisará se aproximar, por exemplo, do Centrão, e diz que o PSol ainda não discutiu veto a algum partido na Esplanada para decidir, mas confirma que o tema fará diferença. Embora não cite nenhuma sigla, há entre os psolistas incômodo na tentativa de aproximação do PT com o União Brasil, partido que é resultado de uma fusão do DEM com o PSL, que, em 2018, elegeu Jair Bolsonaro (PL).
Hoje, porém, a principal preocupação é com a definição de políticas públicas. "Claro que reconheço que esse governo é de reconstrução nacional, não é um governo que vai ser montado em condições normais de temperatura e pressão. Tivemos quatro anos de um pesadelo. Então, entendo que esse governo Lula não é puramente de esquerda, é de reconciliação nacional", observou.
O PSol sabe que será cobrado diretamente pela militância na hora que tomar uma decisão. "Nenhum partido entra no governo e sai do mesmo jeito que entrou. Isso impacta a dinâmica, a organização e os debates de um partido político. Especialmente como o PSol, um partido de esquerda sério, que tem princípios e forte presença no movimento social", analisou.
Crescimento do partido
Nas eleições deste ano, o PSol cresceu. Elegeu a maior bancada de deputados federais da história do partido, com 12 parlamentares. Além disso, fez o deputado mais votado de São Paulo, Guilherme Boulos, que conseguiu mais de um milhão de votos. A sigla comemora internamente os resultados acumulados de 2018 para cá, quando Boulos deu bastante visibilidade ao partido com sua candidatura presidencial e depois surpreendeu nos desempenho na disputa pela prefeitura de São Paulo. Agora não quer correr o risco de integrar um governo e terminar perdendo parte de seus filiados, como ocorreu com o PT em 2003, quando houve uma debandada da sigla e um grupo chegou a ser expulso por não concordar com a política econômica que estava sendo adotada no início da primeira gestão de Lula.
Ministra dos Povos Originários
Apesar da indefinição do PSol, um nome do partido ganha força para ocupar o Ministério dos Povos Originários, que será criado por Lula, o da deputada federal Sonia Guajajara (SP), mulher indígena mais votada do país. E o partido ainda tem Célia Xakriabá (MG).
A decisão sobre compor a equipe só será tomada depois do dia 15 de dezembro. "Seja qual for a decisão, nós vamos colaborar, para viabilizar as políticas que foram prometidas pelo Lula na campanha", ressaltou Juliano.
Assista à íntegra da entrevista: