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Lula aposta em esperança e legado para vencer no 1º turno

Veja estratégias, erros e curiosidades da campanha do candidato líder nas pesquisas

Lula aposta em esperança e legado para vencer no 1º turno
Lula durante ato em São Paulo
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O candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, chega neste 2 de outubro como favorito, segundo pesquisas de intenção de voto, com chances de vencer no primeiro turno, mesmo que dentro da margem de erro (entre 48% e 52%, segundo pesquisa Datafolha de sábado). A reportagem do SBT acompanhou por mais de 60 dias a pré e a campanha do petista em atos, comícios, eventos, reuniões, entrevistas e, agora, apresenta uma síntese das estratégias, erros e curiosidades que contribuíram para o posicionarem na pole position da corrida eleitoral até aqui. 

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Estratégias: esperança, legado e medo

O mote da esperança é ideia de Lula, que tem habilidade rara em dialogar com o povo desde os tempos de líder sindical na década de 1970. 

Lula, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, apostou todas as fichas em convencer os eleitores de que a condição de vida de todos vai melhorar se ele voltar ao poder, especialmente a dos mais pobres. Como um narrador observador, Lula detalha em seus discursos a imagem da prosperidade. Ele envolve o espectador a se ver como parte da história: "O pobre vai voltar a tomar café da manhã, a almoçar e a jantar todos os dias"; "O pobre vai voltar a viajar. E não é de ônibus, não, o pobre vai andar de avião e o aeroporto vai voltar a parecer uma rodoviária"; "O pobre vai comer picanha. Vai pegar aquela gordurinha da picanha e molhar na farofa, durante o churrasquinho do fim de semana, tomando uma cervejinha gelada". E também tem essa, que sempre explode em aplausos: "A mãe vai ver seu filho ir pra escola de barriguinha cheia, banho tomado, de sapatinho novo, roupinha nova e quando crescer vai pra faculdade, vai pro ensino técnico, vai ter uma profissão".

Em um comício na região Norte do país, Lula revelou sua estratégia: "Eu sei que vocês não estão aqui para ver político falar. Vocês estão aqui para ouvir palavras de esperança. Para que a gente dê esperança pra vocês". 

Lula não costuma detalhar quais atitudes tomará, se eleito presidente da República, para viabilizar suas promessas. Como fiadoras das bonanças futuras, ele apresenta as faturas do que já fez no passado. A principal delas é sobre ter retirado o Brasil do mapa mundial da fome em 2014 (com análise dos dados de 2002 a 2013, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura, FAO, contemplando boa parte de seus dois mandatos). O mapa não é mais divulgado desta maneira, mas, atualmente, no Brasil, cerca de 30% da população (mais de 60 milhões de pessoas) passam por insegurança alimentar, segundo dados de 2019 a 2021 analisados pela FAO.

O ex-presidente também destaca a chegada ao ranking das sete maiores economias do mundo em seu governo. Em 2020, era a 12ª e em março deste ano subiu para a 10ª, de acordo com ranking da agência de classificação de risco Austing Rating.

Para falar com os mais politizados (não necessariamente os mais ricos), Lula tem em seu arsenal de campanha o medo, mesma arma de seu principal adversário, o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).

Para convencer os votantes, o atual presidente do Brasil propaga o medo de que "o Brasil vire uma Venezuela", de que as crianças sejam sexualizadas precocemente nas escolas, de as igrejas serem fechadas ou de o aborto e as drogas serem liberados com a volta do PT, o que não aconteceu em 13 anos de governos petistas.

Já Lula propala a ameaça do fim da democracia e da instauração de uma ditadura no país caso o atual presidente se reeleja, o que também já era um "fantasma" na eleição de 2018 que continua associado à imagem de Bolsonaro por conta de suas insinuações contra o sistema eleitoral e por não dizer claramente que reconhecerá o resultado da eleição em caso de derrota.

Ajudam a reforçar a tese da ameaça à democracia os apoios que o petista vem amealhando já no primeiro turno. Parte de quem adere ao lulismo neste ano argumenta o fazer pela preservação de um bem maior. Lula adaptou uma frase de Paulo Freire, de A Pedagogia da Esperança, e resumiu: "É estar com os divergentes para combater os antagônicos".

Há os apoios explícitos, como a aliança com dez partidos, chamado de "frente ampla", além da união de todas as centrais sindicais (exceto uma, que está com Ciro Gomes) e praticamente todos os movimentos sociais. 

Lula também tem o endosso de ex-candidatos à Presidência, como Henrique Meirelles (União Brasil) e Marina Silva (Rede). Há ainda a preferência cifrada de figuras como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e concorrentes presidenciáveis do pleito atual, como Simone Tebet (MDB), que dizem preferir estar sempre "ao lado da democracia", o que no caso seria estar com Lula e não com Bolsonaro. 

Maior erro: subestimar o discurso aos evangélicos 

Desde a pré-campanha Lula tinha uma convicção: não seria preciso um discurso voltado especificamente aos evangélicos. Pensava assim: os cristãos vão ao posto de combustíveis e pagam caro, compram comida e sofrem com a inflação, não tiveram aumento real no salário, etc. Bastaria falar de economia e não de religião ou sobre a pauta de costumes para dialogar com os que representam hoje quase 30% da população brasileira. 

A tese poderia até fazer sentido, mas se mostrou o erro mais custoso da campanha até agora. Atualmente, cerca de 50% deles estão com Bolsonaro, quanto 32% votam em Lula, segundo Datafolha de 23 de setembro. 

As notícias falsas espalhadas em redes sociais e também por pastores de que Lula fechará igrejas caso seja eleito contaminaram parte do eleitorado cristão. 

Também tiraram votos de Lula as ações da maior revelação da campanha do adversário: a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que, sempre discreta, resolveu, às vésperas da eleição, cruzar os limites do Palácio da Alvorada, assumir o microfone, discursar, pregar, dançar, cantar e reintroduzir Bolsonaro nos cultos. 

Diante do mau desempenho entre os evangélicos, Lula, depois de muito aconselhamento, decidiu ceder e misturar política com religião. Topou participar de um evento em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, onde há a maior concentração de igrejas evangélicas do país. Ele se reuniu com centenas de pastores de pequenas congregações, já que os grandes e mais poderosos estão fechados com Bolsonaro. Foi um evento esquisito. Lula não parecia à vontade. Pouco falou sobre religião e reforçou o que de fato é sagrado para ele: as religiões devem ser respeitadas e o Estado deve continuar laico.

Outro erro identificado até aqui tem sido a falta de interlocução com o setor agropecuário, raia poderosa em que Bolsonaro corre praticamente sozinho.

Uma passagem para ilustrar: recentemente, Lula participou de um evento em São Paulo com milhares de cooperativados. Havia cooperativas de catadores de papel, urbanas, de empresas falidas e a maciça maioria de representantes do Movimento dos Sem Terra, que atualmente é destaque na agricultura familiar. O SBT questionou a equipe petista se ele faria algum evento com o agro, porque a campanha já estava na fase final. A resposta foi de que ele daria uma entrevista ao Canal Rural, o que ocorreu dias depois. E só.

Mas por que ele não estava se reunindo com grandes produtores agropecuários? Até que uma fonte disse com todas as letras: porque os grandes produtores, até agora, não querem sentar com Lula. O ex-governador de São Paulo e vice na chapa, Geraldo Alckmin, teria o papel de ajudar nesta mediação. Mas não conseguiu. 

Para piorar, Lula disse que o agro era fascista durante uma entrevista. Depois, passou dias se explicando, dizendo que referia-se a uma pequena parcela dos produtores.

Curiosidades: Janja, verde-amarelo-vermelho e segurança

Ao longo da campanha, a socióloga Janja da Silva, esposa de Lula, foi ganhando protagonismo. Ela já era ativa nos bastidores desde as primeiras reuniões de organização, dando ideias, opinando e vetando. Também esteve presente em praticamente todos os eventos do marido, um dos poucos que faltou foi para assistir ao Rock in Rio. Mas, ao longo da corrida do primeiro turno, Janja ampliou seu papel nos comícios, que inicialmente era o de esquentar a plateia cantando o jingle Lula lá, em uma versão atualizada da canção de 1989.

Houve a conclusão de que ela seria a melhor pessoa para rebater as falas de Michelle Bolsonaro, sem citar diretamente a primeira-dama. Empunhou o microfone dizendo que mulher não é "ajudadora" de marido e que estará ao lado dele, lutando por um país melhor. Em outro evento, falou que as mulheres não são princesas, mas, sim, de luta. E passou a discursar de forma mais livre. Ela, que nasceu em Santa Catarina mas se criou no Paraná, fez um discurso emocionado em Curitiba, em que lamentou a morte da mãe, vítima da covid-19.

Em 2018, ainda na esteira da Lava Jato, do impeachment de Dilma Rousseff e da prisão de Lula, o PT estava com a imagem desgastada e os símbolos relacionados ao petismo ficaram mais escondidos do que neste pleito.

Agora, o vermelho, a estrela e fotos de Lula estampadas em camisetas, toalhas, bonés e broches apareceram com força total nas "passarelas" da campanha. Mas com o objetivo de resgatar também os ícones nacionais, usados pelo principal adversário, e imprimir a ideia de que, se eleito, vai governar para todos os brasileiros, a linguagem visual de todos os eventos de Lula incluem o verde e amarelo e a bandeira do Brasil -- projetada em telão e de forma física, na mão do candidato ao fim do ato. E todo comício também só começa depois da execução do Hino Nacional, em ritmo de samba, frevo, forró, sertanejo, executado em coral lírico ou de forma tradicional.

A preocupação com a segurança de Lula tomava o espírito de aliados, familiares e principalmente da Polícia Federal. Lula, na medida do possível, foi obediente. Cumpriu os planejamentos feitos pelas equipes de segurança, vestiu colete à prova de balas quando mais precisou (destaque para os comícios na periferia do Rio). E, para alívio da PF, desistiu de fazer uma caminhada no Rio de Janeiro, na última 6ª feira (30.set). A inteligência desaconselhava: muita exposição, dificuldade em controlar a aproximação do público... tudo isso em pleno berço bolsonarista. Não se sabe se foram os apelos da segurança ou a previsão de chuva na capital fluminense, mas, em cima da hora, os planos mudaram e Lula foi atender os aliados na Bahia e no Ceará. 

A expectativa de ganhar no primeiro turno é grande, mas como a margem está apertada, Lula tem uma ordem à equipe e aos aliados: caso dê segundo turno entre ele e Bolsonaro o resultado não poderá ter gosto de derrota. E a militância terá que se manter animada.

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