Bolsonaro usa encontro com embaixadores para atacar sistema eleitoral
Presidente voltou a apresentar informações já desmentidas sobre as urnas e a criticar ministros do TSE
Em um encontro com embaixadores estrangeiros realizado na tarde desta 2ª feira (18.jul), no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro voltou a usar informações já desmentidas para lançar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Bolsonaro iniciou a apresentação mostrando um inquérito da Polícia Federal sobre um ataque hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições de 2018. Segundo o presidente, o hacker teria ficado "oito meses dentro do sistema do TSE".
O documento é o mesmo apresentado pelo chefe do Executivo em live feita em julho do ano passado e as informações já foram desmentidas pela Justiça Eleitoral. A checagem do TSE, inclusive, cita o servidor mencionado nominalmente por Bolsonaro, Giuseppe Janino, e afirma que, "embora o invasor tenha conseguido acessar sistemas internos da Corte, isso não foi suficiente para alterar o resultado das Eleições Gerais de 2018, pois as urnas não são ligadas à internet. Além disso, a rede de transmissão dos dados para totalização no TSE é exclusiva e segura, à prova de invasões".
Também no encontro, Bolsonaro repetiu que existem vídeos que mostram eleitores em 2018 tentando digitar 17 nas urnas mas o equipamento autocompletando para 13 -- número do então candidato Fernando Haddad (PT). Logo após as eleições -- quatro anos atrás -- o TSE desmentiu os vídeos e ressaltou "que não existe a possibilidade de a urna autocompletar o voto do eleitor, e isso pode ser comprovado pela auditoria de votação paralela".
Em outubro do ano passado, o TSE decidiu, por seis votos a um, cassar o mandato do deputado estadual do Paraná Fernando Francischini por difundir fake news, por divulgar os vídeos citados por Bolsonaro.
Críticas a ministros
O presidente também repetiu críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nominalmente, foram citados Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Edson Fachin -- este sempre creditado como "responsável por tornar Lula elegível". Em sua fala, Bolsonaro explicitou que o encontro foi uma contraofensiva ao movimento de Fachin que também se reuniu com embaixadores, mas para defender a confiança no processo eleitoral brasileiro.
"O senhor Barroso, também o senhor Fachin, começaram a andar pelo mundo me criticando como se eu estivesse preparando um golpe por ocasião das eleições. É exatamente o contrário do que está acontecendo", afirmou Bolsonaro. "Eu estou questionando antes porque temos tempo ainda de resolver esse problema, com a própria participação das Forças Armadas, que foram convidadas pelo TSE", acrescentou.
Bolsonaro ainda acusou os ministros -- a quem chamou de "grupo de três pessoas" -- de querer "trazer instabilidade para o nosso país". "Nós não queremos instabilidade no Brasil. O Brasil está voando. Nos comportamos muito bem durante a pandemia", arrematou, sem citar os 675.347 mortos por covid-19 no país.
Assim como a live de julho do ano passado, o encontro foi transmitido ao vivo pela TV Brasil e por veículos que precisaram se comprometer a exibir a apresentação na íntegra.
TSE
O TSE divulgou uma lista de checagens feitas pelo própria Corte ou por agências especializadas que rebatem afirmações feitas por Bolsonaro. Entre os 20 temas rebatidos pelo TSE estão a afirmação de que apenas dois países utilizam sistema eleitoral semelhante ao brasileiro e a de que um hacker teve acesso a todo o sistema da Justiça Eleitoral após invasão nas eleições de 2018. O Tribunal também nega que Fachin -- hoje presidente da Corte -- tenha sido o responsável por tornar Lula elegível. "O ministro Luiz Edson Fachin ficou vencido no tema da execução da pena após a condenação em segunda instância e na competência da justiça eleitoral para julgar as ações oriundas de grandes esquemas de corrupção. Vencido, no entanto, não se furtou em aplicar a posição consolidada pelo Plenário", diz.