Eleições
Joice Hasselmann diz que pesquisas eleitorais erram; leia entrevista na íntegra
Candidata estreou a série do SBT News com os concorrentes à Prefeitura de São Paulo
Mariana Zylberkan
• Atualizado em
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Candidata à Prefeitura de São Paulo pelo PSL, Joice Hasselmann fez críticas às pesquisas eleitorais em entrevista ao SBT News, na tarde desta 3ª feira (13.out). "As pesquisas estão errando como erraram nas últimas seis eleições. Pelas pesquisas lá atrás, João Doria foi candidato a prefeito e ele não seria eleito, mas foi no primeiro turno. Bolsonaro não seria eleito, mas foi para o segundo turno. Witzel no Rio não seria eleito, mas foi. Então, as pesquisas têm errado e eu sou uma das maiores críticas das pesquisas", diz a candidata, relativizando a sua pontuação na corrida eleitoral - 1% das intenções de voto, segundo o último levantamento do Datafolha, divulgado em 8 de outubro.
Assista abaixo à íntegra da entrevista de Joice ao SBT News - ou, se preferir, leia a transcrição mais abaixo.
SBT News: Queria fazer a primeira pergunta sobre Educação, que é um problema muito grave na cidade de São Paulo, independente da pandemia. Salas superlotadas, professores que são mal remunerados, filas, falta de vagas, e a pandemia piorou essa situação. Como que a senhora, se eleita, vai lidar com essa questão, pensando que já havia um problema e ele se agravou? No início de uma gestão, as escolas municipais voltam com aulas presenciais, ou mantém as aulas online, que infelizmente não alcançou com totalidade os alunos?
Joice Hasselmann: É, esse ano, (Fábio) Diamante (repórter do SBT), foi um ano perdido para a maioria das nossas crianças das escolas municipais. O que nós estamos vendo é que foi um ano de faz-de-conta, porque mesmo aquelas que tinham um conteúdo encaminhado pelas escolas não tinham internet com qualidade suficiente para acompanhar essas aulas. Então a gente vai ter que estipular, já no início da minha gestão, a educação em tempo integral. Em um misto de criança na escola, sim. Eu abro as escolas imediatamente após tomar posse, antes mesmo do início tradicional do ano letivo, para que essas crianças já comecem a recuperar o prejuízo.
A gente vai precisar fazer um teste de aptidão com essas crianças para entender quem absorveu um pouco do conteúdo, quem absorveu muito conteúdo e quem não absorveu conteúdo nenhum, para que a gente possa criar essas divisões das salas de aula. E para que a gente possa ter dois, três e até quatro professores, a depender do nível que essa criança esteja na absorção desse conteúdo. Paralelo a isso, o ensino online veio para ficar, só que esse professor não foi capacitado, qualificado para embalar esse conteúdo. Veja que o professor estava acostumado a dar aula tradicionalmente, na lousa, com seus alunos, e de repente teve que passar para o ensino online. Então, muitas vezes nem o computador adequado ele tem, nem internet adequada ele tem. Então, esse professor tem que ser chamado para essa capacitação, tem que ter o computador adequado, a internet adequada. E vai ter um contraturno online, sim, para que possamos reduzir os prejuízos causados a essas crianças durante esse tempo de pandemia.
Candidata, a pandemia, entre outras consequências, notrouxe o desemprego para a nossa cidade, em diferentes setores da economia de São Paulo. No seu plano de governo, a senhora propõe o empreendedorismo justamente como uma das formas e estratégias para se combater o desemprego. E com a oferta de cursos de formação, prioritariamente, para jovens entre 16 e 25 anos. Cursos de gastronomia nordestina, manutenção predial, mecânica. Me chama atenção essa faixa, que a senhora coloca como prioritária, a partir dos 16 anos. Quer dizer, a senhora acha que a partir dessa idade existe um caminho para este adolescente empreender e não estar todo o tempo na escola?
É claro que transformar aquele que está desempregado em um empreendedor é o jeito mais rápido de você conseguir fazer essa pessoa ter acesso à renda. A geração de emprego é absolutamente necessária, mas é algo de médio prazo.
Imediatamente, eu consigo transformar não só o adolescente - nós damos um destaque ao adolescente - mas o plano de governo ainda está em construção. Ali são macroideias, dessas macroideias eu tenho outras tantas, uma espinha dorsal saindo dessas macroideias. Então há capacitação sim do jovem, ele pode ser capacitado. Eu quero um jovem estudando, eu quero um jovem com curso de formação técnica e eu quero um jovem fora das drogas, é isso que eu quero.
Então, é a responsabilidade do município, mas dentro desse escopo todo de capacitação, eu tenho uma coisa chamada Pronto Socorro do Emprego, que é um grande guarda-chuva. Dentro deste guarda-chuva, há várias gavetinhas ali, além da questão do jovem, eu estou dando muita atenção para a questão das mulheres. Então, dentro do Pronto Socorro do Emprego, tem o Banco da Mulher. O Banco da Mulher também atua com capacitação, capacitação rápida, coisa de cem horas, onde a mulher vai poder escolher se ela quer fazer um curso técnico de cabeleireira, padeira, confeiteira, costureira, modista, de acordo com a especificidade que ela gosta. Mas ela sai não só qualificada, mas também com assessoria técnica da prefeitura e ela sai com dinheiro no bolso.
Exatamente como eu fiz com o Pronamp. Para quem não sabe, eu sou relatora desse programa nacional, que é um programa de crédito para o pequeno e microempreendedor. Eu vou fazer um Pronamp para as mulheres aqui de São Paulo, no Banco da Mulher, e ela vai poder sair da fila desemprego para ser uma empreendedora e para também empregar, então isso vai ser estendido para todos os grupos em São Paulo. Mas claro, a capacitação para um jovem é um tipo de capacitação, a capacitação para mulher empreendedora é de outro tipo, até porque ela vai ter acesso ao crédito, então é uma responsabilidade ainda maior. Mas dentro do Pronto Socorro do Emprego, eu tenho várias gavetinhas, que eu vou esmiuçando, que eu vou abrindo durante a campanha.
Candidata, vamos falar de saúde, que também é outro problema gravíssimo. Já era um problema grave, que se agravou com a pandemia. O próximo prefeito vai ter essa dificuldade: ele ainda vai ter que continuar lidando com a pandemia, mas, ao mesmo tempo, ele vai ter que resolver outro problema, as consultas médicas eletivas. A fila, que já era enorme de consultas de exames na cidade de São Paulo, ficou ainda maior. As cirurgias eletivas não aconteceram. Então, o desafio do próximo prefeito é muito importante porque ele vai ter que lidar com as duas coisas. Qual é a receita da senhora para resolver esse problema?
A receita é trabalhar, fazer gestão, o que não teve. O que nós tivemos aqui, Diamante, foi uma incompetência absoluta, tanto do atual prefeito, quanto do próprio governador. Eles decidiram fazer uma "guerrinha" política com essa questão da pandemia. Os hospitais todos foram fechados para a pandemia, e eles deixaram todo mundo que tinha um problema eletivo, quer dizer, um problema que não era tão grave, na fila.
Quando eu assumir a prefeitura, eu vou ter gente que tinha uma cirurgia muito simples para ser feita, já em um ponto de fazer uma cirurgia mais grave [devido à demora]. Aquele problema, aquele aneurisma que era pequenininho, agora já cresceu. Aquela hérnia, que era uma coisa de cirurgia que era pra ficar 24 horas no hospital, agora já é uma coisa mais grave. E tudo isso, de novo, por incompetência, porque nós poderíamos ter dividido a cidade em hospitais que atenderiam exclusivamente [casos de] "covid" e hospitais que continuariam dando vazão a essa fila de cirurgias eletivas. Então a gente vai ter que fazer mutirões, e mutirões com muita força para que essas pessoas que estão nas filas entrem num dia no hospital, façam de manhã o exame. Não adianta fazer o exame e mandar embora. Tem que fazer o exame, ficar no hospital, pegar o resultado à tarde, já se interna.
Por exemplo, alguém que tem uma hérnia. Tem gente morrendo de hérnia umbilical. Quem é que morre de hérnia umbilical em uma cidade como São Paulo? Pois está acontecendo. Eu tenho acesso a famílias que têm reclamado justamente desse problema específico.
Então, a pessoa vai entrar, vai fazer o exame, vai pegar o resultado do exame, vai ficar internado naquele dia mesmo. No outro dia de manhã faz a cirurgia, fica 24 horas no hospital e vai embora. Ela não vai precisar pegar um atestado médico, dois, três, quatro, dez atestados, como hoje tem que pegar. Com medo de perder o emprego, ela não pega. Ela diz "não, eu não vou. Demora demais. Vão me empurrar pra uma fila aqui".
Então tem que fazer gestão. Tem que fazer acelerar esse processo, e é fácil de fazer. Além disso, para aqueles pacientes que ficaram aguardando na fila, aguardando uma simples consulta, a gente tem que usar a tecnologia. Nós votamos no Congresso, eu votei e defendi a aprovação da telemedicina. Por que alguém atendido por um hospital como o [Albert] Einstein, por exemplo, não pode ser atendido por um grande médico, no seu celular? Ele pega o celular e vai lá, e o médico conversa com ele, e aí o médico vai saber com uma anamnese, que são aquelas perguntinhas todas que o médico faz para o paciente, se aquele paciente precisa de fato ir numa Unidade Básica de Saúde, a um pronto-socorro, a um hospital ou buscar um médico mais especializado; ou se ele está só com uma dor de cabeça, vai ter que tomar um "tylenol" e ficar em casa. O médico tem condições de fazer isso pelo celular, e essa pessoa não entra na fila. Então, gestão, parceria, parceria com hospitais privados e com os hospitais universitários, com as universidades e muita tecnologia pra gente resolver o problema da saúde. Dá pra resolver. Não resolveram porque não quiseram.
Candidata, há quantos anos a senhora vive em São Paulo?
Desde 2013 direto em São Paulo. Eu morei em todas as regiões do Brasil, Simone. Eu morei em todas as regiões do Brasil. Eu morei no Norte, morei no Sul, morei no Sudeste, morei no Centro Oeste, morei no Nordeste. Então conheço o Brasil como ninguém. Então, se você for me perguntar: "Ah, você acha que está pronta para administrar São Paulo conhecendo pouco São Paulo?". São Paulo é a representação do Brasil, e eu conheço melhor o Brasil que todos esses candidatos juntos. Então, sim, eu estou pronta.
Não era essa a minha pergunta. A minha observação seria: com esse tempo que a senhora já mora aqui, então já deu pra perceber que aqui cai uma chuvinha leve, dá um ventinho e os faróis apagam, as árvores caem, os buracos brotam do asfalto. O que eu queria saber da senhora é: quais são seus planos para que o paulistano não tenha a percepção, a ideia, de que vive numa cidade abandonada?
Não é a percepção não, Simone. A cidade está abandonada. Os últimos prefeitos, e quando eu falo os últimos, você pode ir empurrando lá pra trás? dez prefeitos atrás, quinze prefeitos atrás. Os últimos prefeitos ficaram dormindo em berço esplêndido. A cidade está abandonada.
Eu tenho andado em regiões com comunidades que existem há 40 anos, 50 anos, 60 anos. E me dizem: "nunca, nunca um prefeito pisou aqui. Nunca!". Então, a cidade está abandonada. O trabalho para resolver tudo isso é hercúleo. O que se tem que fazer para resolver? Tem que trabalhar. São Paulo virou a cidade das ideias, das maquetes, de estelionatos eleitorais que chegam, prometem, prometem, prometem, e que na hora de fazer, não fazem coisa nenhuma. Então tem que fazer. Que sentido tem, na maior cidade do país e a cidade mais rica do país, cair uma chuvinha no Itaim e o semáforo parar em Sapopemba? É isso que acontece e o inverso também é verdadeiro, então alguma coisa está muito errada.
A gente precisa rever todos os contratos dos prestadores de serviço, colocar vida inteligente no trânsito. Em relação à "buraqueira" da cidade, a gente sabe que parece que tem fila de buraco esperando a vez de entrar. É um buraco atrás do outro. A cidade está abandonada. O prefeito resolveu agora só fazer calçada em cima de calçada para fazer uma maquiagem na cidade. É um problema gigantesco. Isso não se resolve do dia pra noite, mas se resolve com equipe, com gente séria. Discutindo com a população, inclusive, quais são as prioridades, já que o orçamento é finito.
A gente tem uma peça, que é o orçamento. O orçamento é finito e eu ainda vou pegar o "abacaxi" de ter um orçamento bem menor do que pegou o Bruno Covas e não fez nada. Eu vou pegar aí uns R$ 9 bilhões a menos do que tem hoje. Então eu vou ter que resolver mais com menos. Como é que se resolve isso? Combatendo a corrupção, porque daí não vaza dinheiro pelo ralo da corrupção; botando gente eficiente para trabalhar, não como fez o atual prefeito botando os amiguinhos que enriqueceram em torno; rompendo contratos com quem tá "metendo a mão" no dinheiro público - tem que fazer isso, tem que ter coragem pra enfrentar - e enfrentando as máfias que hoje existem dentro da prefeitura nas mais diversas áreas. É máfia da saúde, é máfia da educação, você tem máfia do transporte. Virou uma esculhambação.
A maior cidade, a mais rica do país, hoje é a cidade que também mais concentra pobreza no país. Há locais aqui em São Paulo em que os índices são africanos. Eu vejo pessoas passando fome, convivendo com ratos que tem o tamanho de gatos, morando em cima de esgoto, e isso é aqui na nossa cidade mais rica. Então, assim, o leque para se resolver é: o que precisa resolver em São Paulo? Tudo, tudo! Nada foi resolvido. Precisa resolver tudo. E como é que resolve? Com trabalho, com gestão, com coragem, com eficiência. Eu posso oferecer isso.
Candidata, a senhora por muito tempo teve uma boa relação com o governador de São Paulo, João Doria. Ao mesmo tempo a senhora também teve um bom relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro. Evidentemente os mais otimistas diziam que durante a eleição a relação dos dois não era de aliados, mas sim de opositores. Onde estava a sua coerência? Já que os dois atualmente são inimigos políticos e fazem ataques públicos um ao outro.
Estava exatamente onde está, Diamante. A minha coerência permanece onde está. Eu não mudei uma vírgula do que eu era, do que o sou, e do que eu estou.
Aliás, muito antes de entrar no meio político. Por que eu me distanciei do atual presidente da República? Porque ele rasgou a bandeira de combate à corrupção para defender um filho bandido que pode ser preso a qualquer momento. Alguém que roubou dinheiro público.
A minha coerência está aqui. Onde está a coerência dele? Onde está a coerência de quem garantiu que iria defender a Lava Jato até o fim e que agora admite: "Eu acabei com a Lava Jato". Onde está a coerência de quem disse que eu jamais faria toma-lá-dá-cá, e prometeu isso para mim olhando nos meus olhos e para todos aqueles que votaram nele? E agora está lá, agarrado com o centrão para proteger filhos e amigos de corruptos ou envolvidos em outros esquemas.
Então a minha coerência permanece ilibada. A coerência do atual presidente, infelizmente, não. Ainda que eu continue ajudando o presidente, eu continuo deputada, continuo trabalhando por ele lá no Congresso, ou melhor, por ele não, pelo Brasil. Porque eu não vou deixar o nosso país e continuo trabalhando com eles, eu não serei jamais vaquinha de presépio de ninguém. Eu prometi lutar contra a corrupção e eu continuo. Se o presidente acabou com a Lava Jato nacionalmente, eu vou criar a Lava Jato municipal aqui em São Paulo.
Em relação ao governador de São Paulo, João Doria, eu sou deputada, tenho a obrigação de fiscalizar. E quando o governador toma decisões erradas, quando ele se descompromete com a segurança pública, com a polícia que prometeu tanto defender... Ele prometeu para mim. Eu levei parte das polícias militares civil que não queriam nem conversar com o PSDB a conversar com o governador. Ele disse: "nós vamos melhorar os salários desses guerreiros. Nós vamos trabalhar para que esses guerreiros sejam reconhecidos". Não fez. Então, eu tenho direito de criticar porque a promessa foi feita também para mim.
Quando eu vejo economia sendo quebrada, porque o governador de São Paulo fica fazendo queda de braço com o presidente da República, tipo duas crianças... A gente fala no sul, "piá pançudo", tipo duas crianças trocando ali, um jogando bolinha de papel no outro. E quem se lasca é a população. Quem se lasca é o comerciante que está quebrando. Comércio quebra e quando o comércio quebra as pessoas vão pra rua do desemprego. Então a minha coerência se mantém exatamente aqui onde esteve. A coerência deles, não. Então essa é a diferença entre mim e eles.
Quando a senhora foi eleita deputada federal, teve a maior votação que uma mulher já conquistou para a Câmara Federal. A senhora teve mais de 1 milhão de votos e, no entanto, agora, dois anos depois, nas pesquisas atuais, a senhora tem apenas 1% das intenções de voto. O que que aconteceu com seu capital político?
Não aconteceu nada. As pesquisas estão errando como erraram nas últimas seis eleições. Pelas pesquisas lá atrás, João Doria foi candidato a prefeito (em 2016) e ele não seria eleito, mas foi no primeiro turno. Bolsonaro não seria eleito, mas foi para o segundo turno. Witzel no Rio não seria eleito, mas foi. Então as pesquisas têm errado, e eu sou uma das maiores críticas das pesquisas.
Aliás, boa parte da imprensa que analisa a pesquisa eleitoral, se a gente dá uma olhadinha nas últimas eleições, a gente vai ver que nós, imprensa, divulgamos, e depois nós, imprensa, criticamos. Porque erram todas. Quando tem uma bolha de pessoas dentro da internet fazendo barulho, aquela coisa toda, isso é só barulho. As pessoas na vida real, as pessoas aqui em São Paulo, me recebem de braços abertos aonde quer que eu vá.
A minha candidatura é um reposicionamento nacional do meu partido, PSL. Que é um partido de direita, racional, e que é um partido liberal, que respeita as diferenças. É um partido que dialoga. Não é aquela direita maluca que quer explodir Congresso, que quer explodir o STF. Não, eu não faço parte disso. Eu liderei o governo Bolsonaro no ano mais difícil do governo, que foi o primeiro ano. Ninguém queria esse abacaxi. Eu lhe liderei o governo e consegui aprovar tudo o que o governo precisava. Incluindo a Reforma da Previdência, incluindo o projeto que hoje deu o dinheiro para o governo pagar o Bolsa Família. Como é que eu fiz isso? Sendo direita racional e conversando. Inclusive com a esquerda. Sentando em uma mesa e conversando. Então é assim que se faz política racional. E é assim que eu vou fazer. O meu capital político é um capital que deriva da racionalidade. Aqueles que querem irracionalidade, realmente não encontrarão em mim alguém que os represente.
A senhora foi alvo de muitos ataques na internet, de machismo, gordofobia. A senhora fez, inclusive, um pronunciamento bastante emocionado na Câmara dos Deputados. Eu queria lhe perguntar o seguinte: se a senhora fosse um homem, acha que teria sofrido todos esses ataques?
Nunca. Indique um só (homem) em toda essa guerra ideológica que nós passamos. De direita e esquerda. De Lula pra lá, de Bolsonaro pra cá. Me indica um homem que tenha passado 10% do que eu passei. Nenhum homem. Aliás, nenhuma outra mulher passou por isso, suportar uma máquina inteira de desgaste, de mentiras, de montagens e de sujeira em cima de mim. A ponto de eu ir parar no hospital, de ir parar na UTI, de perder o meu útero.
A senhora, inclusive, foi defendida por outras mulheres que são inimigas políticas, como Manuela D'Ávila. Como a senhora se sentiu nesse momento?
Ideologia... Quando a gente trata com as mulheres, Diamante, a ideologia não pode passar da nossa capacidade de ser humano. De ter empatia com o outro. De ter compaixão com outro. Eu jamais defenderia alguém agredir uma mulher, seja ela quem quer que seja. Seja de qualquer área ideológica, ainda que eu a considere equivocada. Mas que agrida no pessoal, que a chama de porca ou de palavras muito mais feias do que essa... Que faça montagens sexuais, como fizeram comigo.
Então quando uma mulher, independente da sua ideologia, se posiciona e diz "eu não concordo com isso", ela está sendo mulher. Eu faria exatamente a mesma coisa. Nós temos dentro da Câmara o nosso grupo de mulheres, que está muito suprapartidário. Nós defendemos pautas das mulheres. Então quando eu vejo as mulheres se identificando comigo, vendo o que eu passei e me defendendo, eu sinto um conforto muito especial. Porque o que eu passei pouca gente aguentaria. Se eu não tivesse estrutura eu não estaria aqui. Muitas mulheres me dizem: "Joice, se eu passasse metade do que você passou, eu não aguentaria viver". Mas eu aguentei e estou aqui firme. E agora estou representando as mulheres do país e aqui da cidade de São Paulo.
Assista abaixo à íntegra da entrevista de Joice ao SBT News - ou, se preferir, leia a transcrição mais abaixo.
SBT News: Queria fazer a primeira pergunta sobre Educação, que é um problema muito grave na cidade de São Paulo, independente da pandemia. Salas superlotadas, professores que são mal remunerados, filas, falta de vagas, e a pandemia piorou essa situação. Como que a senhora, se eleita, vai lidar com essa questão, pensando que já havia um problema e ele se agravou? No início de uma gestão, as escolas municipais voltam com aulas presenciais, ou mantém as aulas online, que infelizmente não alcançou com totalidade os alunos?
Joice Hasselmann: É, esse ano, (Fábio) Diamante (repórter do SBT), foi um ano perdido para a maioria das nossas crianças das escolas municipais. O que nós estamos vendo é que foi um ano de faz-de-conta, porque mesmo aquelas que tinham um conteúdo encaminhado pelas escolas não tinham internet com qualidade suficiente para acompanhar essas aulas. Então a gente vai ter que estipular, já no início da minha gestão, a educação em tempo integral. Em um misto de criança na escola, sim. Eu abro as escolas imediatamente após tomar posse, antes mesmo do início tradicional do ano letivo, para que essas crianças já comecem a recuperar o prejuízo.
A gente vai precisar fazer um teste de aptidão com essas crianças para entender quem absorveu um pouco do conteúdo, quem absorveu muito conteúdo e quem não absorveu conteúdo nenhum, para que a gente possa criar essas divisões das salas de aula. E para que a gente possa ter dois, três e até quatro professores, a depender do nível que essa criança esteja na absorção desse conteúdo. Paralelo a isso, o ensino online veio para ficar, só que esse professor não foi capacitado, qualificado para embalar esse conteúdo. Veja que o professor estava acostumado a dar aula tradicionalmente, na lousa, com seus alunos, e de repente teve que passar para o ensino online. Então, muitas vezes nem o computador adequado ele tem, nem internet adequada ele tem. Então, esse professor tem que ser chamado para essa capacitação, tem que ter o computador adequado, a internet adequada. E vai ter um contraturno online, sim, para que possamos reduzir os prejuízos causados a essas crianças durante esse tempo de pandemia.
Candidata, a pandemia, entre outras consequências, notrouxe o desemprego para a nossa cidade, em diferentes setores da economia de São Paulo. No seu plano de governo, a senhora propõe o empreendedorismo justamente como uma das formas e estratégias para se combater o desemprego. E com a oferta de cursos de formação, prioritariamente, para jovens entre 16 e 25 anos. Cursos de gastronomia nordestina, manutenção predial, mecânica. Me chama atenção essa faixa, que a senhora coloca como prioritária, a partir dos 16 anos. Quer dizer, a senhora acha que a partir dessa idade existe um caminho para este adolescente empreender e não estar todo o tempo na escola?
É claro que transformar aquele que está desempregado em um empreendedor é o jeito mais rápido de você conseguir fazer essa pessoa ter acesso à renda. A geração de emprego é absolutamente necessária, mas é algo de médio prazo.
Imediatamente, eu consigo transformar não só o adolescente - nós damos um destaque ao adolescente - mas o plano de governo ainda está em construção. Ali são macroideias, dessas macroideias eu tenho outras tantas, uma espinha dorsal saindo dessas macroideias. Então há capacitação sim do jovem, ele pode ser capacitado. Eu quero um jovem estudando, eu quero um jovem com curso de formação técnica e eu quero um jovem fora das drogas, é isso que eu quero.
Então, é a responsabilidade do município, mas dentro desse escopo todo de capacitação, eu tenho uma coisa chamada Pronto Socorro do Emprego, que é um grande guarda-chuva. Dentro deste guarda-chuva, há várias gavetinhas ali, além da questão do jovem, eu estou dando muita atenção para a questão das mulheres. Então, dentro do Pronto Socorro do Emprego, tem o Banco da Mulher. O Banco da Mulher também atua com capacitação, capacitação rápida, coisa de cem horas, onde a mulher vai poder escolher se ela quer fazer um curso técnico de cabeleireira, padeira, confeiteira, costureira, modista, de acordo com a especificidade que ela gosta. Mas ela sai não só qualificada, mas também com assessoria técnica da prefeitura e ela sai com dinheiro no bolso.
Exatamente como eu fiz com o Pronamp. Para quem não sabe, eu sou relatora desse programa nacional, que é um programa de crédito para o pequeno e microempreendedor. Eu vou fazer um Pronamp para as mulheres aqui de São Paulo, no Banco da Mulher, e ela vai poder sair da fila desemprego para ser uma empreendedora e para também empregar, então isso vai ser estendido para todos os grupos em São Paulo. Mas claro, a capacitação para um jovem é um tipo de capacitação, a capacitação para mulher empreendedora é de outro tipo, até porque ela vai ter acesso ao crédito, então é uma responsabilidade ainda maior. Mas dentro do Pronto Socorro do Emprego, eu tenho várias gavetinhas, que eu vou esmiuçando, que eu vou abrindo durante a campanha.
Candidata, vamos falar de saúde, que também é outro problema gravíssimo. Já era um problema grave, que se agravou com a pandemia. O próximo prefeito vai ter essa dificuldade: ele ainda vai ter que continuar lidando com a pandemia, mas, ao mesmo tempo, ele vai ter que resolver outro problema, as consultas médicas eletivas. A fila, que já era enorme de consultas de exames na cidade de São Paulo, ficou ainda maior. As cirurgias eletivas não aconteceram. Então, o desafio do próximo prefeito é muito importante porque ele vai ter que lidar com as duas coisas. Qual é a receita da senhora para resolver esse problema?
A receita é trabalhar, fazer gestão, o que não teve. O que nós tivemos aqui, Diamante, foi uma incompetência absoluta, tanto do atual prefeito, quanto do próprio governador. Eles decidiram fazer uma "guerrinha" política com essa questão da pandemia. Os hospitais todos foram fechados para a pandemia, e eles deixaram todo mundo que tinha um problema eletivo, quer dizer, um problema que não era tão grave, na fila.
Quando eu assumir a prefeitura, eu vou ter gente que tinha uma cirurgia muito simples para ser feita, já em um ponto de fazer uma cirurgia mais grave [devido à demora]. Aquele problema, aquele aneurisma que era pequenininho, agora já cresceu. Aquela hérnia, que era uma coisa de cirurgia que era pra ficar 24 horas no hospital, agora já é uma coisa mais grave. E tudo isso, de novo, por incompetência, porque nós poderíamos ter dividido a cidade em hospitais que atenderiam exclusivamente [casos de] "covid" e hospitais que continuariam dando vazão a essa fila de cirurgias eletivas. Então a gente vai ter que fazer mutirões, e mutirões com muita força para que essas pessoas que estão nas filas entrem num dia no hospital, façam de manhã o exame. Não adianta fazer o exame e mandar embora. Tem que fazer o exame, ficar no hospital, pegar o resultado à tarde, já se interna.
Por exemplo, alguém que tem uma hérnia. Tem gente morrendo de hérnia umbilical. Quem é que morre de hérnia umbilical em uma cidade como São Paulo? Pois está acontecendo. Eu tenho acesso a famílias que têm reclamado justamente desse problema específico.
Então, a pessoa vai entrar, vai fazer o exame, vai pegar o resultado do exame, vai ficar internado naquele dia mesmo. No outro dia de manhã faz a cirurgia, fica 24 horas no hospital e vai embora. Ela não vai precisar pegar um atestado médico, dois, três, quatro, dez atestados, como hoje tem que pegar. Com medo de perder o emprego, ela não pega. Ela diz "não, eu não vou. Demora demais. Vão me empurrar pra uma fila aqui".
Então tem que fazer gestão. Tem que fazer acelerar esse processo, e é fácil de fazer. Além disso, para aqueles pacientes que ficaram aguardando na fila, aguardando uma simples consulta, a gente tem que usar a tecnologia. Nós votamos no Congresso, eu votei e defendi a aprovação da telemedicina. Por que alguém atendido por um hospital como o [Albert] Einstein, por exemplo, não pode ser atendido por um grande médico, no seu celular? Ele pega o celular e vai lá, e o médico conversa com ele, e aí o médico vai saber com uma anamnese, que são aquelas perguntinhas todas que o médico faz para o paciente, se aquele paciente precisa de fato ir numa Unidade Básica de Saúde, a um pronto-socorro, a um hospital ou buscar um médico mais especializado; ou se ele está só com uma dor de cabeça, vai ter que tomar um "tylenol" e ficar em casa. O médico tem condições de fazer isso pelo celular, e essa pessoa não entra na fila. Então, gestão, parceria, parceria com hospitais privados e com os hospitais universitários, com as universidades e muita tecnologia pra gente resolver o problema da saúde. Dá pra resolver. Não resolveram porque não quiseram.
Candidata, há quantos anos a senhora vive em São Paulo?
Desde 2013 direto em São Paulo. Eu morei em todas as regiões do Brasil, Simone. Eu morei em todas as regiões do Brasil. Eu morei no Norte, morei no Sul, morei no Sudeste, morei no Centro Oeste, morei no Nordeste. Então conheço o Brasil como ninguém. Então, se você for me perguntar: "Ah, você acha que está pronta para administrar São Paulo conhecendo pouco São Paulo?". São Paulo é a representação do Brasil, e eu conheço melhor o Brasil que todos esses candidatos juntos. Então, sim, eu estou pronta.
Não era essa a minha pergunta. A minha observação seria: com esse tempo que a senhora já mora aqui, então já deu pra perceber que aqui cai uma chuvinha leve, dá um ventinho e os faróis apagam, as árvores caem, os buracos brotam do asfalto. O que eu queria saber da senhora é: quais são seus planos para que o paulistano não tenha a percepção, a ideia, de que vive numa cidade abandonada?
Não é a percepção não, Simone. A cidade está abandonada. Os últimos prefeitos, e quando eu falo os últimos, você pode ir empurrando lá pra trás? dez prefeitos atrás, quinze prefeitos atrás. Os últimos prefeitos ficaram dormindo em berço esplêndido. A cidade está abandonada.
Eu tenho andado em regiões com comunidades que existem há 40 anos, 50 anos, 60 anos. E me dizem: "nunca, nunca um prefeito pisou aqui. Nunca!". Então, a cidade está abandonada. O trabalho para resolver tudo isso é hercúleo. O que se tem que fazer para resolver? Tem que trabalhar. São Paulo virou a cidade das ideias, das maquetes, de estelionatos eleitorais que chegam, prometem, prometem, prometem, e que na hora de fazer, não fazem coisa nenhuma. Então tem que fazer. Que sentido tem, na maior cidade do país e a cidade mais rica do país, cair uma chuvinha no Itaim e o semáforo parar em Sapopemba? É isso que acontece e o inverso também é verdadeiro, então alguma coisa está muito errada.
A gente precisa rever todos os contratos dos prestadores de serviço, colocar vida inteligente no trânsito. Em relação à "buraqueira" da cidade, a gente sabe que parece que tem fila de buraco esperando a vez de entrar. É um buraco atrás do outro. A cidade está abandonada. O prefeito resolveu agora só fazer calçada em cima de calçada para fazer uma maquiagem na cidade. É um problema gigantesco. Isso não se resolve do dia pra noite, mas se resolve com equipe, com gente séria. Discutindo com a população, inclusive, quais são as prioridades, já que o orçamento é finito.
A gente tem uma peça, que é o orçamento. O orçamento é finito e eu ainda vou pegar o "abacaxi" de ter um orçamento bem menor do que pegou o Bruno Covas e não fez nada. Eu vou pegar aí uns R$ 9 bilhões a menos do que tem hoje. Então eu vou ter que resolver mais com menos. Como é que se resolve isso? Combatendo a corrupção, porque daí não vaza dinheiro pelo ralo da corrupção; botando gente eficiente para trabalhar, não como fez o atual prefeito botando os amiguinhos que enriqueceram em torno; rompendo contratos com quem tá "metendo a mão" no dinheiro público - tem que fazer isso, tem que ter coragem pra enfrentar - e enfrentando as máfias que hoje existem dentro da prefeitura nas mais diversas áreas. É máfia da saúde, é máfia da educação, você tem máfia do transporte. Virou uma esculhambação.
A maior cidade, a mais rica do país, hoje é a cidade que também mais concentra pobreza no país. Há locais aqui em São Paulo em que os índices são africanos. Eu vejo pessoas passando fome, convivendo com ratos que tem o tamanho de gatos, morando em cima de esgoto, e isso é aqui na nossa cidade mais rica. Então, assim, o leque para se resolver é: o que precisa resolver em São Paulo? Tudo, tudo! Nada foi resolvido. Precisa resolver tudo. E como é que resolve? Com trabalho, com gestão, com coragem, com eficiência. Eu posso oferecer isso.
Candidata, a senhora por muito tempo teve uma boa relação com o governador de São Paulo, João Doria. Ao mesmo tempo a senhora também teve um bom relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro. Evidentemente os mais otimistas diziam que durante a eleição a relação dos dois não era de aliados, mas sim de opositores. Onde estava a sua coerência? Já que os dois atualmente são inimigos políticos e fazem ataques públicos um ao outro.
Estava exatamente onde está, Diamante. A minha coerência permanece onde está. Eu não mudei uma vírgula do que eu era, do que o sou, e do que eu estou.
Aliás, muito antes de entrar no meio político. Por que eu me distanciei do atual presidente da República? Porque ele rasgou a bandeira de combate à corrupção para defender um filho bandido que pode ser preso a qualquer momento. Alguém que roubou dinheiro público.
A minha coerência está aqui. Onde está a coerência dele? Onde está a coerência de quem garantiu que iria defender a Lava Jato até o fim e que agora admite: "Eu acabei com a Lava Jato". Onde está a coerência de quem disse que eu jamais faria toma-lá-dá-cá, e prometeu isso para mim olhando nos meus olhos e para todos aqueles que votaram nele? E agora está lá, agarrado com o centrão para proteger filhos e amigos de corruptos ou envolvidos em outros esquemas.
Então a minha coerência permanece ilibada. A coerência do atual presidente, infelizmente, não. Ainda que eu continue ajudando o presidente, eu continuo deputada, continuo trabalhando por ele lá no Congresso, ou melhor, por ele não, pelo Brasil. Porque eu não vou deixar o nosso país e continuo trabalhando com eles, eu não serei jamais vaquinha de presépio de ninguém. Eu prometi lutar contra a corrupção e eu continuo. Se o presidente acabou com a Lava Jato nacionalmente, eu vou criar a Lava Jato municipal aqui em São Paulo.
Em relação ao governador de São Paulo, João Doria, eu sou deputada, tenho a obrigação de fiscalizar. E quando o governador toma decisões erradas, quando ele se descompromete com a segurança pública, com a polícia que prometeu tanto defender... Ele prometeu para mim. Eu levei parte das polícias militares civil que não queriam nem conversar com o PSDB a conversar com o governador. Ele disse: "nós vamos melhorar os salários desses guerreiros. Nós vamos trabalhar para que esses guerreiros sejam reconhecidos". Não fez. Então, eu tenho direito de criticar porque a promessa foi feita também para mim.
Quando eu vejo economia sendo quebrada, porque o governador de São Paulo fica fazendo queda de braço com o presidente da República, tipo duas crianças... A gente fala no sul, "piá pançudo", tipo duas crianças trocando ali, um jogando bolinha de papel no outro. E quem se lasca é a população. Quem se lasca é o comerciante que está quebrando. Comércio quebra e quando o comércio quebra as pessoas vão pra rua do desemprego. Então a minha coerência se mantém exatamente aqui onde esteve. A coerência deles, não. Então essa é a diferença entre mim e eles.
Quando a senhora foi eleita deputada federal, teve a maior votação que uma mulher já conquistou para a Câmara Federal. A senhora teve mais de 1 milhão de votos e, no entanto, agora, dois anos depois, nas pesquisas atuais, a senhora tem apenas 1% das intenções de voto. O que que aconteceu com seu capital político?
Não aconteceu nada. As pesquisas estão errando como erraram nas últimas seis eleições. Pelas pesquisas lá atrás, João Doria foi candidato a prefeito (em 2016) e ele não seria eleito, mas foi no primeiro turno. Bolsonaro não seria eleito, mas foi para o segundo turno. Witzel no Rio não seria eleito, mas foi. Então as pesquisas têm errado, e eu sou uma das maiores críticas das pesquisas.
Aliás, boa parte da imprensa que analisa a pesquisa eleitoral, se a gente dá uma olhadinha nas últimas eleições, a gente vai ver que nós, imprensa, divulgamos, e depois nós, imprensa, criticamos. Porque erram todas. Quando tem uma bolha de pessoas dentro da internet fazendo barulho, aquela coisa toda, isso é só barulho. As pessoas na vida real, as pessoas aqui em São Paulo, me recebem de braços abertos aonde quer que eu vá.
A minha candidatura é um reposicionamento nacional do meu partido, PSL. Que é um partido de direita, racional, e que é um partido liberal, que respeita as diferenças. É um partido que dialoga. Não é aquela direita maluca que quer explodir Congresso, que quer explodir o STF. Não, eu não faço parte disso. Eu liderei o governo Bolsonaro no ano mais difícil do governo, que foi o primeiro ano. Ninguém queria esse abacaxi. Eu lhe liderei o governo e consegui aprovar tudo o que o governo precisava. Incluindo a Reforma da Previdência, incluindo o projeto que hoje deu o dinheiro para o governo pagar o Bolsa Família. Como é que eu fiz isso? Sendo direita racional e conversando. Inclusive com a esquerda. Sentando em uma mesa e conversando. Então é assim que se faz política racional. E é assim que eu vou fazer. O meu capital político é um capital que deriva da racionalidade. Aqueles que querem irracionalidade, realmente não encontrarão em mim alguém que os represente.
A senhora foi alvo de muitos ataques na internet, de machismo, gordofobia. A senhora fez, inclusive, um pronunciamento bastante emocionado na Câmara dos Deputados. Eu queria lhe perguntar o seguinte: se a senhora fosse um homem, acha que teria sofrido todos esses ataques?
Nunca. Indique um só (homem) em toda essa guerra ideológica que nós passamos. De direita e esquerda. De Lula pra lá, de Bolsonaro pra cá. Me indica um homem que tenha passado 10% do que eu passei. Nenhum homem. Aliás, nenhuma outra mulher passou por isso, suportar uma máquina inteira de desgaste, de mentiras, de montagens e de sujeira em cima de mim. A ponto de eu ir parar no hospital, de ir parar na UTI, de perder o meu útero.
A senhora, inclusive, foi defendida por outras mulheres que são inimigas políticas, como Manuela D'Ávila. Como a senhora se sentiu nesse momento?
Ideologia... Quando a gente trata com as mulheres, Diamante, a ideologia não pode passar da nossa capacidade de ser humano. De ter empatia com o outro. De ter compaixão com outro. Eu jamais defenderia alguém agredir uma mulher, seja ela quem quer que seja. Seja de qualquer área ideológica, ainda que eu a considere equivocada. Mas que agrida no pessoal, que a chama de porca ou de palavras muito mais feias do que essa... Que faça montagens sexuais, como fizeram comigo.
Então quando uma mulher, independente da sua ideologia, se posiciona e diz "eu não concordo com isso", ela está sendo mulher. Eu faria exatamente a mesma coisa. Nós temos dentro da Câmara o nosso grupo de mulheres, que está muito suprapartidário. Nós defendemos pautas das mulheres. Então quando eu vejo as mulheres se identificando comigo, vendo o que eu passei e me defendendo, eu sinto um conforto muito especial. Porque o que eu passei pouca gente aguentaria. Se eu não tivesse estrutura eu não estaria aqui. Muitas mulheres me dizem: "Joice, se eu passasse metade do que você passou, eu não aguentaria viver". Mas eu aguentei e estou aqui firme. E agora estou representando as mulheres do país e aqui da cidade de São Paulo.
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