Taxa de juros pode voltar a subir no Brasil? Saiba o que isso significa e como impacta a vida de todos
Comitê de Política Monetária se reúne nesta terça para definir a Selic; economistas discordam sobre movimentos
O Comitê de Política Monetária (Copom) vai se reunir, nesta terça-feira (17) e quarta-feira (18), para definir o futuro da taxa de juros no Brasil. A expectativa do mercado é de que ocorra um aumento na taxa Selic, a taxa básica de juros, mas o acréscimo no indicador não é consenso entre os economistas.
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O Relatório Focus — que resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado e publicado pelo Banco Central —, divulgado nesta segunda-feira (16), estimou que a taxa de juros no Brasil deve subir de 10,5% para 11,25%, um aumento de 0,75 p.p, até o final de 2024. O mercado financeiro espera que, após a reunião do comitê, a taxa seja reajustada em 0,25 p.p. Este seria o primeiro aumento na Selic desde agosto de 2022, retornando aos patamares de dezembro do ano passado.
Apesar da previsão, o valor que deve ser aumentado não é consenso entre os economistas. Alguns argumentam que a taxa não deveria sofrer acréscimos. Instituições financeiras como Santander, Itaú e XP preveem o mesmo aumento do mercado, de 0,25 p.p. Já em relatório compartilhado pelo C6 Bank, o grupo acredita que os juros devem se manter no mesmo valor.
De acordo com o economista da Highpar, Maykon Douglas, a queda do IPCA de 0,02% no último dia 10 "é um pequeno alívio", mas não anula o cenário de inflação dos próximos meses, motivado sobretudo pela bandeira tarifária vermelha nas contas de energia e por possíveis consequências das queimadas e secas no país.
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Para Carla Beni, economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não há motivos para que o Banco Central aumente a Selic.
"Pela ótica do IBGE, pela ótica da inflação, não teria justificativa para o Banco Central aumentar a taxa de juros. [...] Mas há uma pressão do mercado financeiro para que ela suba. Então, eu te diria que, se a Selic subir, é porque o Banco Central está cedendo à pressão do mercado financeiro", argumenta a professora.
Carla explica que a taxa real de juros no Brasil (que é a taxa Selic menos o IPCA) está em cerca de 6,9% atualmente, valor muito acima do patamar histórico do Brasil, que fica na faixa dos 4% e 4,5%. Dessa forma, não há justificativa para um aumento na Selic.
O outro argumento é de que a projeção atual da inflação, segundo o próprio mercado financeiro, que é de 4,35%, não está acima do teto para 2024, que é de 4,5%, de forma que a taxa de juros não precisaria ser elevada para conter o IPCA.
Para a professora, o dólar, que subiu no Brasil para mais de R$ 5,50 também não explicaria um aumento na Selic. Isso porque a reunião do Copom acontecerá na chamada "Superquarta", dia que coincidem as reuniões que definem as taxas de juros do Brasil e dos Estados Unidos, e o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED) já sinalizou uma diminuição na taxa de juros do país — criando um alívio na taxa cambial brasileira.
"O mercado financeiro ganha com as taxas elevadas, porque as rentabilidades do mercado financeiro estão ancoradas nesses indicadores (taxa Selic). [...] O que é mais valioso dessa reunião do Copom não é se a taxa vai subir ou descer, ou quanto, mas se o governo vai ceder à pressão do mercado", conta a professora.
Como a taxa de juros afeta o bolso do brasileiro?
As mudanças na taxa Selic tem efeitos diretos em diversas áreas do cotidiano dos brasileiros. A elevação dos juros aumenta o custo do dinheiro e tem como principal intuito colocar um "freio" no setor produtivo da economia para diminuir a inflação.
Assim, com Selic elevada, o consumo tende a diminuir, pois o custo de produtos e serviços aumenta. A taxa de juros também é responsável por tornar os empréstimos mais caros. Ou seja, quem precisar pegar um dinheiro a mais do banco, irá pagar mais por ele. O mesmo acontece para quem irá buscar um consórcio para comprar uma casa, um carro, entre outros — o valor será mais alto.
"Então, pro dia a dia das pessoas, se a Selic sobe, imediatamente todos os financiamentos são corrigidos pra cima", explica Carla.
Assim como o poder de compra das pessoas diminui, o mesmo acontece para as empresas, que são desestimuladas a investir em infraestrutura, insumos e tecnologia, por exemplo.
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Por outro lado, os investimentos em renda fixa — atrelados à taxa Selic — tendem ser mais atrativos para a população, pois eles teriam um rendimento maior, já que é o investidor quem está "emprestando" o dinheiro.
O que é a taxa Selic?
A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é a taxa básica de juros no Brasil. Por ser o indicador base, a Selic influencia outras taxas de juros no país, como empréstimos, investimentos, consórcios, entre outros.
A taxa Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação, medida pelo IPCA. Quando a inflação no Brasil está em alta, a tendência é de que a Selic também aumente, diminuindo o consumo e segurando a pressão nos preços. Contudo, a alta da Selic também pode diminuir o crescimento do PIB de um país.