Mulheres em cargos de liderança ganham cerca de 33% a menos que homens, aponta Dieese
Estudo mostra que mulheres gastam 10 horas a mais por semana do que os homens em afazeres domésticos

Ellen Travassos
Um estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) neste sábado (8), Dia Internacional da Mulher, revela que as mulheres em cargos de liderança no Brasil ganham, em média, 33% a menos que os homens ocupando as mesmas funções.
A pesquisa, que analisou dados do terceiro trimestre de 2024, aponta que, enquanto diretoras e gerentes mulheres recebiam R$6.798 mensais, os homens no mesmo cargo ganhavam R$ 10.126, diferença de R$ 3.328 ao mês, que, em um ano, equivale a R$ 40 mil a menos para as mulheres.
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Conforme o Dieese, essa média representa todas as empresas do Brasil, de grandes e pequenas cidades, e gerentes e diretores de todo tipo de estabelecimento, não apenas de grandes empresas e multinacionais.
A desigualdade salarial entre gêneros é ainda mais acentuada quando considerada a interseccionalidade de raça. Mulheres negras com ensino superior completo ganham, em média, R$3.964, enquanto homens não-negros com o mesmo nível de formação recebem R$8.849, uma diferença de R$ 4.885 mensais. Isso significa que as mulheres negras ganham menos da metade do salário dos homens não negros em posições equivalentes.
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O estudo também destaca que, embora as mulheres representem 43% da força de trabalho ocupada no Brasil, elas são maioria entre os 10% com os menores rendimentos (55%) e minoria entre os 10% mais bem pagos (34%). No topo da pirâmide salarial, apenas 22% dos 1% mais bem remunerados são mulheres, e entre os 0,1% mais ricos, essa proporção cai para 11%.
Dupla jornada e sobrecarga de trabalho doméstico
Além da disparidade salarial, as mulheres enfrentam uma sobrecarga de trabalho não remunerado. Em média, elas dedicam 21,3 horas por semana a afazeres domésticos, enquanto os homens gastam 11,7 horas. Isso significa que, ao longo de um ano, as mulheres trabalham 499 horas a mais que os homens em tarefas domésticas, o equivalente a 21 dias a mais de trabalho não remunerado.
Essa dupla jornada — que inclui o trabalho remunerado e as responsabilidades domésticas — impacta diretamente a participação das mulheres no mercado de trabalho e sua ascensão profissional. A pesquisa do Dieese sugere que políticas públicas, como a ampliação da licença-paternidade e o aumento da oferta de creches públicas, são essenciais para redistribuir as responsabilidades domésticas e reduzir a desigualdade de gênero no trabalho.
O estudo também analisou as cláusulas de gênero negociadas em acordos coletivos em 2023. Entre os temas mais frequentes estão o combate ao assédio (6% das negociações), a garantia de creches (27,8%) e direitos relacionados a gestantes e lactantes (8,2%). Essas cláusulas buscam garantir direitos além dos previstos em lei, mas sua efetividade depende da implementação e fiscalização.
O Dieese reforça a necessidade de ações em múltiplas frentes, incluindo a ampliação da participação das mulheres em cargos de liderança, a implementação efetiva da Lei de Igualdade Salarial e políticas públicas que promovam a redistribuição das responsabilidades domésticas.
Os dados têm como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do 3º trimestre de 2024.