Indústria brasileira perde força com juros altos e invasão de importados, alerta CNI
Mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) em alta de 1,4%, indústria encolhe e sente impacto dos juros de 14,75%

Rafael Porfírio
Os juros elevados e o aumento das importações atrapalharam o desempenho da indústria brasileira no primeiro trimestre de 2025, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, enquanto a agropecuária cresceu 12,2% e o setor de serviços avançou 0,3%, a indústria foi o único dos três grandes setores da economia a registrar queda, com recuo de 0,1%. O Produto Interno Bruto (PIB) do país subiu 1,4% no período.
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Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, os números mostram um cenário preocupante. Ele destaca que setores fundamentais, como a indústria de transformação e a construção, perderam fôlego devido aos juros altos, atualmente em 14,75%, e à entrada crescente de produtos importados.
“Setores como a indústria de transformação e a construção, fundamentalmente ligados ao aumento da capacidade produtiva do país, recuaram, como consequência dos juros altos e da intensa entrada de bens importados”, afirmou Alban.
A CNI também aponta que o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que pode custar R$ 19 bilhões às empresas neste ano, e as mudanças previstas na Medida Provisória do Setor Elétrico vão gerar novos custos, pressionando ainda mais o setor industrial.
O cenário piora condições já muito difíceis para a indústria, a principal prejudicada pelo Custo Brasil. Não é possível crescer num ambiente assim", afirma Alban.
Importações ganham espaço
Apesar de o consumo das famílias ter crescido 1% no trimestre e a demanda por produtos industriais ter subido 1,2%, a produção industrial nacional aumentou apenas 0,1%. Segundo a CNI, essa diferença foi ocupada pelas importações, que avançaram 5,9% em relação ao último trimestre de 2024 e 14% comparado ao mesmo período do ano passado.
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Quem puxou a economia?
O crescimento do PIB no início do ano foi puxado principalmente pela agropecuária, que teve uma safra recorde de soja, e pelos investimentos, que cresceram 3,1%, embora parte desse aumento seja pontual, por conta da importação de uma plataforma de petróleo. O consumo das famílias também ajudou, com alta de 1%, impulsionado por crédito, aumento do salário mínimo, antecipação do INSS e liberação de recursos do FGTS.
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Previsão de desaceleração
Para o restante do ano, a expectativa da CNI é de que a economia cresça 2,3% em 2025, mas em um ritmo mais lento. A agropecuária não deve repetir o bom desempenho do primeiro trimestre, e os juros elevados continuam sendo um obstáculo para novos investimentos.
Além disso, a concessão de crédito deve ser menor e o mercado de trabalho deve crescer pouco, já que a taxa de desemprego está baixa e há pouco espaço para expansão.
Segundo Alban, para que a indústria volte a crescer com força, será fundamental reduzir a Selic. Caso contrário, o setor continuará travado, e o país terá dificuldades para sustentar um crescimento mais robusto.
“Nesse ambiente, é fundamental criar condições para que a Selic começa cair o quanto antes. A indústria já perdeu o forte ritmo de crescimento observado no ano passado. Sem redução de juros, a indústria vai demorar a ganhar força de novo. A indústria tem sido fundamental para o crescimento vigoroso da economia. Com o cenário atual, fica cada vez mais difícil sustentar esse desempenho”, destacou Alban.