Impulsionada pela alta dos juros, intenção de consumo atinge menor nível em 2 anos
Queda foi mais acentuada entre famílias com rendimento superior a 10 salários mínimos

Camila Stucaluc
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), registrou queda de 0,9% em setembro, em comparação ao mês anterior. Com isso, o patamar atingiu 101,6 pontos, menor nível desde julho de 2023.
Segundo a confederação, o resultado de setembro foi provocado pela alta da taxa de juros e pelo maior nível de endividamento. O cenário deixou as famílias mais cautelosas em relação ao consumo, sobretudo para adquirir produtos de maior valor, como eletrodomésticos e automóveis, geralmente comprados parcelados.
No geral, a intenção de consumo perdeu o fôlego entre todas as faixas etárias. Os lares com ganhos inferiores a 10 salários mínimos caíram 0,8% em relação aos últimos 30 dias e 1,4% no comparativo com 12 meses atrás. Entre as famílias com rendimento superior a 10 salários mínimos, a retração foi mais acentuada: 3,4% na variação anual e de 1,4% na mensal.
“O resultado de setembro indica que as famílias estão receosas sobre a continuidade da geração de empregos, ao mesmo tempo em que enfrentam restrições no crédito e juros elevados. Esse cenário limita o consumo e gera o alerta sobre a necessidade de preservar o poder de compra da população”, disse o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
Crédito divide opiniões
O Acesso ao Crédito foi o único item analisado pela CNC que apresentou crescimento no comparativo anual, com avanço de 1,5% (95,2 pontos). O percentual de famílias que consideram mais fácil a obtenção subiu para 33%, a maior taxa desde abril de 2020. No entanto, o indicador caiu 0,6% em relação a agosto, refletindo a cautela diante do aumento do endividamento e da inadimplência.
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“A pesquisa deixa clara a existência de um paradoxo: apesar da percepção do acesso ao crédito ser maior, o uso permanece contido, refletindo o impacto da taxa Selic elevada e o risco de desequilíbrio financeiro das famílias”, pontuou o economista da confederação, João Marcelo Costa.