Galípolo cita meta de inflação para 2026 e diz que ainda há muito esforço a ser feito pelo Banco Central
Presidente do BC reconheceu que atual nível da Selic, de 15% ao ano, é alta e comentou que mercado de trabalho vive "melhor momento das últimas três décadas"

Reuters
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira (29) que ainda há "muito esforço" a ser feito pela autoridade monetária, destacando que nenhuma projeção de economistas ou do setor produtivo aponta para uma inflação na meta em 2026.
"Tanto a Focus quanto a Firmus, nenhuma projeção indica inflação na meta em 2026", comentou Galípolo, em referência às pesquisas feitas pelo BC com profissionais de instituições do mercado e de empresas não financeiras.
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"A meta é 3%. Estamos assistindo convergência lenta para estes 3%", acrescentou, durante participação no evento Itaú Macro Day, em São Paulo.
A meta contínua de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Na pesquisa Focus mais recente, divulgada nesta segunda, a projeção de inflação para 2026 está em 4,28% – dentro da margem, mas ainda distante do centro da meta. A Firmus aponta para um IPCA de 4,5% no próximo ano.
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Ao tratar dos esforços do BC para conduzir a inflação para a meta, Galípolo reconheceu que o atual nível da Selic, de 15% ao ano, é elevado.
"O BC jamais falou algo diferente, de que 15% é uma taxa de juros alta", afirmou, acrescentando que a taxa de juros no Brasil é de fato mais elevada quando comparada com as de outros países emergentes. "Mas o comando que o BC recebe é para colocar a inflação em 3%."
Ele destacou que mais difícil do que ter levado a Selic a um patamar em que pudesse interromper o ciclo de alta será "o período de permanecer com a taxa de juros por período bastante prolongado".
Galípolo afirmou que a atual desancoragem das expectativas de inflação no Brasil é algo que "incomoda bastante" e que a instituição seguirá "consumindo dados" para conduzir a convergência à meta.
Ao mesmo tempo, ele pontuou que o BC não pode incorporar ao seu cenário "aquilo que não existe" ainda na economia.
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Não é possível incorporar ao cenário "se vai haver algum tipo de resposta ou impulso adicional na economia que tende a mitigar os efeitos da política monetária ao longo dos próximos meses ou anos", exemplificou o presidente do BC.
"Ser preventivo contra algo que nem exista ainda, a governança do BC tem menos espaço para isso."
Em sua fala, Galípolo pontuou ainda que o mercado de trabalho brasileiro está atualmente "no melhor momento das últimas três décadas", mas que os dados da economia subsidiam o cenário-base do BC, de desaceleração da atividade.