EUA mostram interesse em minerais críticos do Brasil, e Lula diz que "ninguém põe a mão" em recursos; entenda
Em meio a tensões envolvendo tarifaço de Trump, representante da embaixada norte-americana citou projeto sobre terras raras preparado pelo governo federal
SBT News
O interesse dos Estados Unidos em minerais estratégicos ou críticos do Brasil, também conhecidos como terras raras, tem chamado atenção de autoridades nacionais em meio a tensões comerciais envolvendo tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a exportações nacionais.
O assunto ganhou novos capítulos na última quarta-feira (23), com uma visita do encarregado de negócios da embaixada norte-americana no Brasil, Gabriel Escobar, ao Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em Brasília.
A reunião foi solicitada pelo representante dos EUA e, segundo a entidade, "tratou da missão comercial de mineradoras que atuam no Brasil ao mercado daquele país e do interesse dos Estados Unidos em possíveis acordos com o setor mineral brasileiro, principalmente com relação aos minerais críticos e estratégicos".
Escobar confirmou interesse dos EUA na Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, projeto em preparação pelo governo brasileiro, e em iniciativas do Congresso Nacional nesse setor. O encarregado também demonstrou apoio a uma visita de empresários brasileiros do ramo da mineração aos EUA para dialogar com pares norte-americanos. Disse que meses de setembro e outubro seriam ideais para esse intercâmbio.
Reações do governo brasileiro
O assunto repercutiu diretamente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem tentado negociar acordo e dialogar com os EUA sobre a taxa de 50% a produtos nacionais. Tarifa começa a valer em 1º de agosto, próxima sexta. Até o momento, não há sinalização de recuo ou abrandamento da medida por parte de Trump.
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Lula comentou atenção que EUA têm dado a recursos minerais brasileiros durante agenda oficial em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha (MG), nessa quinta (24). E afirmou que o país não vai aceitar interferência estrangeira em materiais do solo nacional.
"Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro", criticou o mandatário.
Peça-chave na interlocução do governo sobre tarifaço, o vice presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), revelou ontem (24) uma conversa de 50 minutos que teve com os secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, no último sábado (19).
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Alckmin reforçou que Brasil segue disposto a dialogar. Perguntado por jornalistas sobre possível conexão entre interesse dos EUA nos minerais críticos brasileiros e negociações em torno da taxação, o vice-presidente não descartou, nem confirmou conversas atuais ou futuras nesse contexto.
"Existe uma pauta muito longa que pode ser explorada e avançada", falou. Nas últimas semanas, Alckmin tem se encontrado com representantes do empresariado nacional preocupados com impactos do tarifaço, incluindo o setor mineral.
"[O setor] exporta para os Estados Unidos apenas 3%, mas importa em máquinas e equipamentos mais de 20%. O que mostra, de novo, o enorme superávit [dos EUA] na balança comercial", acrescentou.
Por que terras raras são tão cobiçadas pelos EUA?
Minerais estratégicos ou críticos compõem um grupo de 17 elementos químicos que podem ser encontrados de forma abundante em vários países, sobretudo Brasil e China.
Essas reservas de minerais são fundamentais para diversos setores da indústria, como tecnologia (semicondutores, células de bateria de veículos elétricos, sistemas de geração de energia fotovoltaica e eólica, chips, televisões digitais, smartphones) e defesa (aviões de caça, submarinos e equipamentos).
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Substâncias como neodímio e praseodímio servem para produção de ímãs permanentes, que conservam capacidades magnéticas por décadas e possibilitam fabricação de itens mais leves, duráveis e menores.
A China monopoliza esse mercado e, por tabela, exportações de itens como células de bateria e ímãs, já que também domina a indústria de refino de minerais. E isso tem gerado preocupação dos Estados Unidos e da União Europeia, dependentes do comércio chinês.
O Brasil entra na jogada porque tem na China o principal parceiro comercial de minério. Cerca de 70% de recursos nacionais são exportados ao gigante asiático, como ferro, manganês, alumínio, nióbio, cobre e terras raras.