Mercado financeiro oscila em dia de IPCA negativo e de olho em Brasília
É a primeira deflação desde setembro de 2022; em 12 meses, taxa é de 3,16%, dentro da meta do governo
O mercado financeiro nacional viveu uma 3ª feira de oscilações com tendência predominante de queda, na maior parte da sessão. Chegou a baixar do nível dos 116 mil pontos. No radar dos investidores, o andamento da Reforma Tributária no Congresso - agora já com boa parte do caminho percorrido depois da aprovação na Câmara - que ampara, inclusive, a sustentação do arcabouço fiscal. Ao final dos trabalhos, a bolsa se recuperou e o principal índice do mercado acionário nacional marcou queda bem menor, de 0,66%, do alto de seus 117.235 pontos.
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O número da macroeconomia no dia teria tudo para ajudar nos ganhos e no otimismo dos investidores: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo IBGE, fechou junho com queda de 0,08%. É a primeira deflação desde setembro do ano passado, menor variação do mês em seis anos. Na comparação com maio, o indicador tinha registrado alta de 0,23%. O resultado traz o IPCA acumulado em 12 meses para 3,16% (contra 3,94% do período anterior equivalente). De janeiro a junho, estoque em alta de 2,87%. No mês, destaque para os grupos Alimentação e Bebidas (queda de 0,66%) e de Transportes (- 0,41%). Eles contribuíram sozinhos com 0,22 ponto percentual para o cômputo do mês. Entre as altas, Habitação marcou 0,69%; Despesas pessoais 0,36% e Vestuário 0,35%, entre os mais relevantes. Sinais claros para a maioria dos investidores e analistas engrossarem o corto em defesa de um corte de juros na próxima reunião do Copom.
Por que não, então?
A cifra (- 0,08%) é ligeiramente pior do que os 0,10% estimados pela média das apostas do mercado financeiro e, mesmo assim, não seria este o motivo para uma puxada para baixo do andamento do Ibovespa. Mas foi. É que olhando os núcleos do indicador, notadamente a marca para Serviços, a concentração dos preços teve alta de 0,62%, contra deflação de 0,06% de maio. Neste sentido, apesar de ainda contar com corte nos juros na reunião do Copom nos dias 1 e 2 de agosto, a aferição para a proporção deste corte ficou mais difícil de precisar; e mais analistas passaram a contar com redução de 0,25 pp para a decisão. Antes, havia mais apostas em corte até superior a 0,50pp. "O headline veio em linha com a nossa estimativa de -0,08%. O quadro qualitativo da inflação foi pior que o antecipado por nós, com serviços mostrando uma dinâmica ainda longe de dar conforto adicional para o Banco Central. Desta forma, mantemos nossa projeção de -0.25bps [0,25pp] para agosto", afirma Daniel Cunha, estrategista da BGC Liquidez.
Já para o economista e consultor André Perfeito, o momento da inflação doméstica é benigno exatamente porque boa parte da queda está no grupo Alimentação e Bebidas, e este bom momento deve durar mais tempo. Os critérios estabelecidos pelo Copom para levar aos cortes, diz Perfeito, estão sendo cumpridos.
"Apesar de não ser consensual vejo que há espaço para que o início do corte dos juros seja mais forte que 25 pontos base. Levando em conta o estilo da atual diretoria eles tendem a serem mais incisivos nos seus movimentos. Eles cortaram a SELIC mais forte que o mercado esperava, subiram mais que o mercado esperava e depois deixaram de lado por mais tempo que o mercado esperava. Não vejo motivo para que não iniciem o corte de juros com 50 pontos base fazendo que a taxa básica chegue a 11,75% ao final do ano" - André Perfeito, consultor e economista
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