Bolsa tem queda forte na véspera da decisão sobre os juros: 2,36%
Cautela entre os investidores foi palavra de ordem; atenção voltada ao arcabouço fiscal e à "super-quarta"
O mercado financeiro na volta do feriado deu claros sinais de que anda com os dois pés atrás diante do cenário da economia no Brasil -- sem esquecer o ambiente político -- e no exterior. Nesta 3ª feira (2.mai), o Ibovespa caiu 2,36% aos 101.971 pontos. Na outra ponta da gangorra, a moeda americana terminou o dia cotada a R$ 5,04, em alta de 1,11%.
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Um dia antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidir como fica a taxa referencial de juros no Brasil, a Selic, os investidores preferiram não se arriscar. O Boletim Focus do Banco Central voltou a apontar alta para a inflação, medida no IPCA. E preços mais altos não jogam a favor de menos juros
Entraram nas contas ainda os ecos de um dia negativo nas bolsas internacionais na 2ª feira -- nos centros financeiros onde não foi feriado do dia do Trabalho e houve pregões em andamento. Tudo pra dizer, ao final, que as atenções estão todas voltadas para a decisão dos juros -- nos Estados Unidos também -- e, principalmente, sobre as sinalizações que se seguirão às definições de taxas.
Nos Estados Unidos, é praticamente consenso que haverá nova alta de juros, na casa de 0,25 ponto percentual, elevando os juros por lá para o intervalo entre 5% e 5,25% ao ano. O que o mercado quer mesmo saber é se o Fomc (Comitê de Mercado Aberto, na sigla em inglês) vai dar alguma indicação de que esta será a última alta de juros no presente ciclo de aumentos.
Coisa nossa
No que diz respeito ao cenário doméstico, os analistas e investidores querem igualmente saber o que o Copom vai comunicar depois de decidir a nova taxa de juros -- que o mercado inteiro aposta que vai permanecer nos mesmos 13,75% onde está desde agosto do ano passado. Corte agora está praticamente descartado, mas quando virá? Virá?
As apostas mais otimistas falam genericamente em um "segundo semestre" que, bom lembrar, está logo ali, começa em julho - mês que não tem reunião do Copom. Daí a existirem opiniões dando como certo o início dos cortes da Selic em setembro. Tem de tudo um pouco. "O mercado tem falado muito em baixar juros no segundo semestre, mas creio que ainda faltam muitos dados bons pra isso começar a acontecer. Se for um cenário mais recessivo no segundo semestre, o Banco Central brasileiro não deve baixar juros. Vai ser muito difícil, ainda mais que a inflação também deve se manter na casa dos 6%, tudo configurando um cenário para que o BC mantenha os juros altos por mais tempo", aponta Piter Carvalho, economista chefe da Valor Investimentos.
Muita convergência há quanto à preocupação com a votação do pacote de ajuste fiscal, que está no Congresso e tem de ser aprovado para encaminhar o equilíbrio das contas nos próximos anos. E olha que o governo bancou o reajuste do salário mínimo e mais gente sem ter de pagar imposto de renda, o que tem impacto direto sobre este balanço entre receitas e despesas do governo.
Leia-se: mais pressão sobre a política monetária, a dos juros. "A percepção é de que o governo vai fazer ajuste nas contas públicas via aumento de arrecadação de imposto, mas sem mexer na questão dos gastos que também é fundamental para o país. E isso acaba impactando na percepção de risco aqui pra Brasil e consequentemente na nossa moeda", avalia Cristiane Quartaroli, economista do banco Ourinvest. A depender do que for comunicado - muito mais do que for decidido, não deve acontecre corte de juros tão cedo, dizem analistas.
"Embora gere entusiasmo, parece que um aceno sobre a redução do risco fiscal e eventualmente a viabilidade para corte de juros aconteça só após a tramitação do novo arcabouço fiscal no Congresso, porque a gente sabe que no Congresso o texto pode sofrer alterações que são importantes. Então, nessa reunião não está sendo esperada uma alteração relevante no comunicado. Se houver, pode influenciar os vértices mais curtos da curva de juros [apontar redução]. Se......" - Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos
Mais um banco a menos
Nos Estados Unidos, durante o feriado brasileiro do Dia do Trabalhador, o First National Bank foi comprado pelo J.P.Morgan. Mais um movimento no mercado inter bancos que visa botar panos quentes nas preocupações com a crise bancária. Só que, do outro lado, a operação de cerca de US$ 200 bilhões, que constitui um bom negócio para o J.P.Morgan, funciona igualmente para lembrar que, afinal, a onda de quebras ainda não passou. No fechamento desta 3ª feira, o Dow Jones perdeu 1,08%; o S&P 500 cedeu 1,16% e a tecnológica Nasdaq baixou 1,08%.
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