Ibovespa tem maior queda do ano após decisão do Comitê de Política Monetária
Manutenção dos juros e comunicado "duro" do BC sobre possíveis altas da Selic azedam humor do mercado
Guto Abranches
O Ibovespa encerrou a primeira sessão pós-Copom (Comitê de Política Monetária) em queda acentuada: 2,95% e abaixo do patamar psicológico dos 100 mil pontos. Na verdade, o índice cedeu bem mais que isso, perdeu até o piso dos 98 mil pontos, ao fechar em 97.926 pontos, menor nível desde julho de 2022. É também o pregão mais negativo do ano, e a bolsa já estoca perda de quase 10% em 2023.
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O resultado é reflexo direto da manutenção dos juros básicos da economia, a taxa Selic, em 13,75% ao ano na noite desta 4ª feira (22.mar). Mas não apenas. Além da decisão propriamente dita, a reunião do Copom mais aguardada - e pressionada - dos últimos meses trouxe a público um comunicado de parte do Banco Central (BC) considerado bastante duro em relação à política monetária.
Enquanto os analistas e investidores esperavam ouvir da autoridade alguma sinalização quanto ao início do corte de juros, mesmo que muito lá na frente, no limite da interpretação os diretores do Copom chegaram a falar até na possibilidade de novas(s) alta(s) se julgarem necessário para debelar a inflação.
"Os principais pontos que nos conduziram a conclusão sobre o tom duro do BC foram as perspectivas inflacionárias. Mesmo ponderando sobre as incertezas, o IPCA projetado pelo BC para 2023 no cenário de referência subiu de 5,6% para 5,8%, ao passo que para 2024 saltou de 3,4% para 3,6%", salienta o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. Na opinião do analista, o foco será sempre a inflação, que pode inclusive forçar a permanência da taxa de juros elevada por mais tempo.
"Se o arcabouço fiscal, a reforma tributária e outros forem apresentados e defendidos, mas não tiverem efeito sobre as expectativas de inflação, será pouco provável que o BC afrouxe o aperto monetário" - Étore Sanchez, Ativa Investimentos
Dia a dia
Além da análise dos investidores e economistas, a decisão do Copom gerou também ruídos na política. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamou o comunicado de "muito preocupante"; o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a manutenção dos juros e, paralelamente, o comando do BC por Roberto Campos Neto.
E o círculo vicioso volta a se fechar. "Os bons modos monetaristas do BC não se traduziram em maior confiança dos investidores, o que faria os juros longos caírem na esteira da maior vigilância da Autoridade Monetária, mas antes abriram a porta dos medos que a dinâmica institucional entre Planalto e Banco Central vai se deteriorar", aponta o economista e consultor André Perfeito.
Daria para ser diferente? André acha que sim. "Tudo isso poderia ter sido evitado com facilidade, o BC deixaria os juros altos e falaria que continuará vigilante de um lado, mas sinalizaria que o Arcabouço Fiscal e as restrições no crédito (por conta dos juros e de questões outras que ocorreram no início deste ano) poderiam auxiliar na tarefa de acomodar a inflação em horizontes mais longos", completa.
Em meio ao fogo cruzado, papéis muito sensíveis a crédito e financiamentos amargaram perdas importanes na bolsa.
Confira:
- Magazine Luiza (varejo): - 13,37%
- Via (varejo): - 7,04%
- MRV (construção): -6,81%
No campo oposto, o dólar subiu fortemente: + 1,02%, cotado para venda a R$ 5,289.
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