Oscilações intensas marcam dia do pregão no Ibovespa
Mudança na Lei das Estatais é vista por investidores como brecha para interferência da política no BNDES
O mercado financeiro já começou o dia de mau humor. Ainda digerindo as notícias da 3ª feira (13.dez), cada movimento na compra-e-venda deixava claro que o ambiente político pressionava as cotações mais do que a economia propriamente dita. As nomeações na área econômica do governo eleito, notadamente a definição de Aloizio Mercadante para presidir o BNDES, permitiam que a visão dos investidores traduzida em operações flutuasse apenas no intervalo entre a dúvida e o pessimismo.
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Para piorar, no final da terça-feira a aprovação a toque de caixa da mudança na Lei das Estatais soou como um precedente perigoso a deixar no ar o risco de uma maior ingerência política sobre as decisões do banco de fomento. A mudança, pilotada artesanalmente por Arthur Lira (PP-AL), reduz de 36 meses para 30 dias a quarentena obrigatória para agentes de partidos políticos e/ou de campanhas eleitorais ingressarem no governo eleito. O mercado leu a aprovação como uma artimanha destinada a dirimir qualquer dúvida de que Mercadante poderia assumir o BNDES.
A partir deste ambiente, os investidores iniciaram o pregão vendo o Ibovespa baixar logo de cara mais de 1,5%. Papéis de estatais peso-pesado tinham quedas expressivas: Petrobras ON e PN desciam ao redor de 10%; Banco do Brasil beirou os 5% de perdas.
Radar
Entre os indicadores que não saíam da mira dos investidores e analistas dois merecem destaque: o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), do Banco Central, tratado como uma espécie de prévia da evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, teve recuo de 0,05% em outubro na comparação com setembro. Em tradução livre, equivale a dizer que a atividade econômica está praticamente parada, pela apuração do indicador. Não deixa de ser uma decepção para os observadores especializados: a expectativa era por uma alta de 0,50%.
Já nos Estados Unidos, o Federal Reserve divulgaria a nova taxa básica de juros. A julgar pela pressão menor sobre os preços apontada pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), que ficou em 0,1% em novembro, as apostas eram de que a autoridade monetária daquele país reduziria o ritmo de aperto nos juros. Após a divulgação da alta de 0,50 ponto percentual, contra quatro altas consecutivas de 0,75pp imediatamente anteriores, houve ainda algum tempo para que os negócios na bolsa paulista fossem feitos sob esta ótica.
Mesmo assim, no fim do dia o Ibovespa até conseguiu alguma recuperação, muito pautada por afirmações do futuro Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em tom moderado em relação mesmo a seus críticos. Em entrevista, o vocabulário de Haddad incluiu responsabilidade fiscal e o reconhecimento de "equívocos" na política de preços adotada para os combustíveis no governo Dilma.
O mercado parece ter gostado de ouvir. O Ibovespa consolidou uma virada para o terreno positivo, para fechar a + 0,82% aos 104.390 pontos. Petrobras reduziu as - ainda relevantes - quedas: - 7,93% (PETR4 -PN) e - 9,80% (PETR3 - ON). No câmbio, queda de 0,15% e cotação na venda a R$ 5,31.
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