Mercado financeiro tem segunda alta consecutiva mesmo com paralisações
Pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro depois de quase dois dias em silêncio não interferiu nas cotações
O mercado financeiro recebeu com tranquilidade o primeiro pronunciamento de Jair Bolsonaro (PL) depois da derrota na eleição presidencial. O presidente falou no fim da tarde, ainda a tempo de pegar os últimos minutos de funcionamento do pregão na B3.
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A fala de Bolsonaro era aguardada por mais de um motivo: primeiro, porque ele não havia reconhecido a derrota e muito menos cumprimentado o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em segundo lugar, porque o vácuo causado pelo silêncio presidencial deixava no ar um e outro motivo de apreensão quanto a um eventual percurso de choque institucional. E em terceiro plano, mas não menos importante, porque uma ausência de palavra de Bolsonaro até chegava a ser entendida -- por quem assim preferia -- como algum estímulo para as paralisações nas estradas do país. Ao falar rapidamente -- foram dois minutos e meio de discurso --, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro se dirigiu ao púlpito em frente aos jornalistas e, antes de iniciar o discurso, cochichou com Ciro Nogueira: "Vão sentir saudade da gente". Para entendedores atentos, sinal explícito de quem reconhecia, assim, a derrota.
Presencialmente
Apareceu, falou, agradeceu aos 58 milhões de votos recebidos, desferiu críticas aos governos de esquerda. Foi no ponto onde, para muitos observadores sutilmente até demais, tratou da questão dos protestos. "Nossos métodos não podem ser iguais aos da esquerda", afirmou. Houve quem avaliasse, no mercado financeiro, que, falando assim, o presidente pediu implícitamente que os manifestantes desobstruam as vias. O problema é que, usando desse tom, o pronunciamento presidencial chegou a ser adotado por manifestantes que assim o desejavam como uma autorização para seguir com os caminhões obstruindo o tráfego Brasil afora.
Menos é mais
Mas o conjunto da obra, incluindo a ausência absoluta de qualquer contestação ao resultado das urnas, pareceu ser o que os investidores queriam ouvir. Por mais que não tenha reconhecido explícitamente a vitória de Lula, Bolsonaro agradeceu os votos que recebeu, garantiu que vai seguir atuando dentro das quatro linhas da Constituição e, com isso, emitiu os sinais de que não vai trabalhar por ruptura institucional. "Quem agradece os votos recebidos reconhece que pelo menos estes estavam corretos, sugerindo que a contagem total também o estivesse. Quem joga nas quatro linhas da Constituição, pode, em tempos normais, passar a faixa a diante. Por fim, quem encarrega alguém de uma transição, admite que a 'fila andou', aposta Étore Sánchez, economista-chefe da Ativa investimentos.
A alusão ao início do processo de transição se justifica porque, ao final do discurso de Bolsonaro, o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, permaneceu no púlpito para informar que, "autorizado pelo presidente", ele estava dando início ao processo de transição. Etapa a ser liderada, pelo lado da chapa vencedora na eleição, pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB). Outro nome que, desde a campanha, o mercado financeiro tem gostado de ouvir.
Ao final do dia, Ibovespa emplacou a segunda alta consecutiva em +0,77% até os 116.928 pontos. Os papéis de estatais já deixaram de figurar no terreno negativo: destaque para Banco do Brasil com +2,38% (BBAS3). Dólar em queda de 0,91% cotado para venda a R$ 5,12.