Ex-presidente do Banco Central, cotado para o BID, vê 2023 mais difícil
Ilan Goldfajn foi indicado por Paulo Guedes para presidir o Banco regional, posição que o Brasil jamais ocupou
Guto Abranches
No universo dos grandes economistas do país, aqueles que podem e devem ser chamados para os momentos mais importantes da condução da economia, convenhamos, não há muitos nomes. Até por isso, o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles ganhou até um bordão que volta e meia reaparece -- "chama o Meirelles" -- como senha pra resolver pendengas calibre macro-blaster na economia. Sem arriscar fazer uma lista que, certamente, deixaria muitas gentes boas de fora, dá para abordar uma dessas "vagas" que uma vez mais vem bater à praia -- mais da política do que propriamente da Economia. Na 6ª feira passada, durante encontro semestral do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (World Bank), o ministro da Economa do Brasil, Paulo Guedes, lançou o nome de um destes devidamente incensados pensadores: Ilan Goldfajn.
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A indicação foi feita por Guedes a Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos, que teria reagido de maneira receptiva ao nome do brasileiro. A eleição é em 20 de novembro e um voto a favor do maior dos acionistas do Banco, os Estados Unidos, tem peso que pode ser determinante. A ideia é que Ilan assuma o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), fonte relevante de financiamento para países latino-americanos. O Brasil jamais ocupou a presidência do organismo, nos 50 anos de existência do BID.
Credenciais
Ilan atualmente dirige o Hemisfério Ocidental do FMI, posição de grande reconhecimento dentro da instituição. É responsável pelas nações do continente americano, inclusive em negociações de socorro financeiro. Como foi presidente do Banco Central brasileiro, é nome conhecido e reconhecido entre os executivos dos organismos multilaterais. Goldfajn também já foi economista-chefe do Banco Itaú e presidente do Conselho do Credit Suisse no Brasil. Na 3ª feira (18.out), Ilan concedeu entrevista ao canal colombiano NTN24. Veja algumas opiniões do brasileiro.
Presente cotidiano
Na opinião de Ilan Goldfajn, atualmente, os países da América Latina, em geral, experimentam um bom momento. O cálculo, segundo ele, é de um crescimento ao redor de 3,5% das economias regionais no fechamento de 2022. Mas o cenário para o ano que vem é mais "difícil", diz Ilan. Em decorrência, principalmente, do pé no freio das grandes economias: " Os motores de crescimento do mundo, Estados Unidos, China e Europa, vão ter uma baixa na atividade econômica", pontua o brasileiro. E exemplifica:
"Sensação [que se vai ter] é a de que se cresce menos, desemprego que estava caindo vai parar de cair ou até subir. É uma sensação de desaceleração. Vai em outra direção e não na direção de economia forte".
Logo adiante
É em função desta conjuntura que Ilan calcula que o crescimento regional, no ano que vem, será perto da metade do projetado para 2022: 1,7% para o PIB. "Creio que teremos perspectivas mais duras, mais difíceis no ano que vem. E creio que todos os país têm que reforçar seus buffers [reservas, provisões], suas políticas para que tenhamos as melhores respostas para a região", acrescenta o brasileiro. E quando o aspecto tratado é o das políticas para sustentar saudavelmente as condições econômicas, ele liga umbilicalmente o equilíbrio fiscal ao combate à inflação. "Os gastos fiscais têm que ter um foco maior naqueles que são mais vulneráveis. É importante que a política fiscal apoie a política monetária para baixar a inflação. Se quiser mais gastos sociais e mais recursos, educação, saúde, serviços públicos, tem que ter uma reforma que permita isso. A Colombia está fazendo isso. Prover mais arrecadação pra poder gastar em objetivos sociais que a população demanda", sentencia.
3º choque
O ex-banqueiro central não comenta a menção de seu nome como candidato do Brasil para o BID. Discreto, de perfil avesso inclusive a aparições públicas e na mídia em geral, Goldfajn não abre brecha para comentar a indicação. Ao contrário. Concentra suas respostas no concreto, no posto e nas atribuições que carrega no FMI. Sobre eleições no Brasil, igualmente, tergiversa: são decisões democráticas dos países e o Fundo (FMI) terá prazer em trabalhar com o governo que vier a partir de primeiro de janeiro do ano que vem. E dá indicações que justificam sua concentração: "O mundo está enfrentando o seu terceiro choque em pouco tempo. Primeiro foi a pandemia de covid-19, a guerra na Ucrânia e, agora, a escalada dos juros em várias das principais economias do mundo. Muitos países com desafios, com preços subindo, taxas de juros maiores tanto nos países como fora, então estou muito focado neste desafio que é muito relevante", finaliza.