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Para analistas, inflação pode ter deixado o pior para trás. Juros não

Taxas forçam inflação para baixo mas crescimento da economia deve ser muito fraco pelo menos até 2024

Para analistas, inflação pode ter deixado o pior para trás. Juros não
Prateleiras de supermercados
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Num momento em que as prateleiras dos supermercados, as barracas nas feiras e todo tipo de estabelecimento comercial ainda exibem cifras salgadas para a maioria dos consumidores, pode parecer difícil entender a afirmação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele disse nesta segunda-feira (27.jun), durante um Forum em Lisboa, que "o pior da inflação já passou". Mas não é raro encontrar, entre analistas e demais observadores da realidade brasileira, aqueles que tendem a concordar com a autoridade do BC. 

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Muito se deve às projeções futuras observadas para a economia brasileira. O IPCA ( Índice de Preços ao Consumidor Amplo ), que expressa o resultado oficial da escalada de preços, acumula nos últimos doze meses 11,73%, pelas contas do IBGE. ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para o fechamento do ano, a maioria das instituições calcula que os preços vão estocar alta entre 8% e 9%. Isso em função direta de uma política de juros reconhecidamente elevados. E que deve se manter. Para a reunião dos dias 2 e 3 de agosto, por exemplo, é esperada nova alta de 0,5 ponto percentual, puxando a Selic, que é a taxa básica dos juros brasileiros, para 13,75%. É o nível mais alto de juros em cinco anos. 

"O debate não é mais se a inflação vai cair. O presidente do Banco Central está no papel dele, ele tem que falar isso mesmo", diz Roberto Padovani, economista chefe do Banco BV. " A questão que está colocada agora é o ritmo dessa queda. E isso depende dos juros", afirma.  Na análise dos observadores, os prognósticos para inflação e para a curva de juros andam juntos. Para que o custo de vida comece a mostrar sinais de que irá "subir menos", os juros terão que necessariamente permanecer altos ainda por um bom tempo. Ainda será inflação, lembra Padovani. Só que crescendo em menor intensidade. " Inflação na casa de 8% pra fechar 2022 ainda é muita inflação", salienta ele. "Mesmo que os juros puxem a inflação do ano que vem para a casa de 5%, é bom lembrar que será o terceiro ano consecutivo de inflação acima da meta", diz. 

Na real

O professor titular do departamento de Economia da Puc-rio, Márcio Garcia, faz ainda outra ponderação importante.  Feitas as contas na ponta do lápis, com taxa de juros acima de 13%, descontada uma inflação de hipotéticos 9%, quer dizer que os juros reais serão de cerca de 4%. Mais ainda. Havendo a projetada redução do crescimento da inflação, e com a manutenção dos juros altos, a taxa real de juros vai se tornando cada vez maior. "Este é um dos efeitos mais pesados para o consumidor", lembra ele.  Neste sentido, quanto mais tempo os juros permanecerem altos, mesmo com diminuição do ritmo da inflação, mais a economia sente o aperto monetário. " Consumidor não vai perceber mudança radical na vida dele", diz Padovani. É que mesmo que a inflação suba menos, a atividade econômica vai ser impactada. "Crédito mais caro, economia esfriando. Vai ser mais difícil encontrar emprego e por aí vai. O crescimento da economia brasileira deve ser fraco pelo menos até 2024", diz.

Ajuda global

Pelo menos um fator tem influência unânime e positiva, entre os analistas. O processo de alta de juros no Brasil começou antes de muitas das grandes economias, num cenário em que a alta de preços se espalha mundo afora. Indicação de que há, afinal, alguma chance de o ciclo de juros altos igualmente conhecer um término mais cedo. Seja quando isso for.

E se já houve surpresas que vieram pra jogar por terra estimativas do próprio Banco Central - no sentido da redução da inflação - há elementos que podem atuar a favor. O horizonte é apontado pelo professor Márcio Garcia. " Se tivermos um cenário externo um pouco mais favorável, com o fim da guerra da Ucrânia, ou com a cadeia de suprimentos voltando a entregar chips, ou até com sinais mais firmes de que não haverá novos fechamentos na China motivados pela Covid -19, os preços podem se comportar melhor", avalia ele. Não são, de fato, hipóteses fáceis de se realizarem. Mas não saem do radar. Até lá, a crua realidade dos juros altos com alguma inflação vai obrigar um crescimento deprimido. " Os juros só têm chance de começar a cair no ano que vem", aponta Padovani. Até lá os ponteiros vão rondar um cenário muito próximo a estagflação, diz ele. Juros altos, com inflação e crescimento tímido. " Neste sentido, o pior ainda não passou", finaliza. 

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