Banco Central americano quer juros um pouco mais altos contra a inflação
Jerome Powell fala em elevar a taxa básica para além do juro neutro; demanda pressiona os preços
A economia dos Estados Unidos suporta um pouco mais de juros para combater um custo de vida que não para de subir. É o recado que o presidente do Banco Central dos Estados Unidos, Jerome Powell, mandou nesta 4ª feira (22.jun) em audiência de rotina no Senado americano. Mais ainda. A leitura de alguns analistas é a de que Powell se mostra disposto a pelo menos tentar responder à pergunta de um bilhão de dólares: qual o calibre da taxa de juros para segurar os preços sem comprometer o crescimento da economia?
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Em outras palavras, seria esta uma boa definição para o "juro neutro" de que falam os economistas. Aquela taxa que não promove, por exemplo, desemprego, mas consegue segurar a alta do custo de vida. E Powell deu um número. Falou em 2,5%. Ou até um pouco além disso. "O presidente do Federal Reserve deu sinais de que acha que uma nova alta, de 0,75pp na próxima reunião, é a cifra mais adequada", aponta Paulo Gala, economista chefe do Banco Master. Entre os analistas de mercado não é raro ouvir opiniões que, a seguir por esta trajetória, projetam os juros americanos em 3% para fechar o ano de 2022.
Mercado de trabalho
Motivos existem. Os parlamentares perguntaram a Powell com insistência sobre a inflação. O dirigente do Fed salientou que os índices já estavam em ritmo ascendente antes da guerra da Ucrânia. Instalado o conflito, os efeitos sobre preços, sobretudo de energia, só fizeram se intensificar. E a economia americana também exibe duas faces de uma moeda unica. O mercado de trabalho. De um lado, o consumo se vê estimulado pelo pleno emprego. De outro, a demanda é quem puxa a alta dos preços. Diante deste quadro, o atual nível de juros nos EUA é considerado baixo pelo chefe do FED. Não é à toa que Powell considere até levar os juros para um patamar de maior aperto, ainda que moderado. A tarefa do Banco Central americano é agora "desafiadora", resumiu ele.
Confira abaixo as análises do mercado financeiro sobre o que disse Powell no Senado:
Pedro Paulo Silveira, corretora Nova Futura
"Powell não disse nada muito novo e, por isso mesmo, o mercado até achou bom. A posição adotada é por um combate mais efetivo a inflação, o que os investidores veem com bons olhos. A questão é convencer o mundo econômico de que os resultados são factíveis. Há uma certa desconfiança com o risco de uma recessão global. Por isso, as bolsas tiveram tendência de queda hoje."
Paulo Gala, economista chefe do Banco Master
"Powell foi bastante otimista ao afirmar que confia que a economia americana esteja forte o suficiente para suportar juros mais altos. No 1° trimestre do ano, o PIB dos Estados Unidos já caiu. No resultado do 2º, se houver nova queda, será o sinal de que a recessão já chegou."
Eduardo Velho, economista chefe da gestora JFTrust
"Ele não descartou que haja sempre risco de recessão. Nos mercados internacionais, a crença numa recessão nos próximos quatro trimestres agora é superior a 50%. Tanto que as bolsas europeias, depois de ouvir Jerome Powell, fecharam em queda [ Paris - 0,81% , Londres - 0,88% e Frankfurt - 1,11%]."
Jason Vieira, Infinity Asset
"O Fed colocou com clareza que quer evitar que a inflação americana se torne intrínseca, se torne normal, e aí fique mais difícil combatê-la. Estas respostas agradaram aos mercados."