Crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre do ano não surpreende analistas
Inflação e juros altos devem atuar, principalmente no 2º semestre, para segurar a recuperação da economia
Guto Abranches
O crescimento de 1% registrado pelo Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano veio um pouco abaixo da média das estimativas dos economistas e analistas de mercado. Havia apostas pontuais de crescimentos a partir de 0,9% e de até 1,6% para o período de janeiro a março deste ano. O consenso entre os profissionais da área é de que, sim, poderia ter sido melhor. Mas ao menos houve um crescimento. Vale destacar esta observação porque no início de janeiro havia apostas firmes de que o primeiro trimestre do ano iria apontar um desempenho negativo para o PIB, até uma recessão. Diante do número positivo, cabe salientar a surpresa causada, aí sim, pela intensidade da recuperação demonstrada por alguns indicadores em particular.
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O item Consumo das Famílias, durante praticamente todo o ano passado, se manteve "represado" para desafogar do 4º TRI/21 para cá: alta de 0,7%, o mais significativo desempenho positivo entre fatores isoladamente. No extremo oposto, a Formação Bruta de Capital Fixo, que reflete os investimentos para a produção " continuar produzindo", despencou 3,5%. Indústria + 0,1%. Agro - 0,9%. E investimento em geral baixando de 19,7% do PIB no trimestre anterior para 18,7% agora.
Veja as opiniões dos economistas e outros indicadores do PIB.
CAIO MEGALE, XP INVESTIMENTOS ==> É Importante levar em consideração a revisão do PIB no quarto trimestre do ano passado, de 0,5% para 0,7% ante o trimestre imediatamente anterior. Olhando adiante, projetamos crescimento do PIB do segundo trimestre deste ano em 0,7% na margem (e 2,5% no comparativo interanual), uma vez que as atividades de serviços e varejo permaneceram em trajetória ascendente sólida em abril e maio. Mesmo esperando desaceleração relevante da atividade doméstica no 2º semestre do ano, principalmente devido ao aperto da política monetária, a combinação dos fatores nos leva a reforçar a projeção de que o PIB do Brasil crescerá 1,6% em 2022.
LUIS PAULO ROSENBERG, ROSENBERG PARTNERS ==> Não vejo razão para otimismo com o dado do primeiro trimestre: a massa salarial caiu 8 por cento em termos reais, debilitando o consumo. Pior: o efeito recessivo pleno da elevação sufocante dos juros ainda está por concretizar-se. Vamos ter um segundo semestre de queda significativa da inflação e recessão brava. Fecharemos o ano com o PIB crescendo próximo de zero.
LUIS FERNANDO FIGUEIREDO, MAUÁ CAPITAL ==> O resultado do PIB foi ok, um pouco abaixo do esperado, mas razoavelmente robusto. Dentro do resultado os investimentos surpreenderam negativamente, caíram mais de 3%. Anualizado este PIB cresceu 4%, o que Brasil não vê há um bom tempo.
ANDRÉ PERFEITO, NECTON INVESTIMENTOS ==> O PIB veio em 1%, abaixo das expectativas de 1,2% na mediana do mercado. Vale notar que o PIB do 4T de 2021 foi revisado para cima, saindo de 0,5% para 0,7%, o que pode explicar em parte essa diferença. Com a elevação da Selic é consenso que a atividade deve desacelerar ao longo do segundo semestre, mas por ora não iremos alterar nossas projeções.
SIMÃO SILBER, USP/FIPE ==> O número é baixo mas se a gente olhar numa perspectiva de longo prazo, o país ta crescendo pouco há 45 anos. É um comportamento desviante e qualquer governo que venha pela frente tem que ter uma preocupação dramática com o crescimento da economia porque isso significa condenar o brasileiro a ser pobre.
GUSTAVO LOYOLA, TENDÊNCIAS CONSULTORIA ==> Os números do PIB no primeiro trimestre de 2022 mostram que o Produto Interno Bruto está 1,6% acima do nível pré-pandemia. Considerando ainda o resultado do primeiro trimestre e os indicadores iniciais de alguns setores isoladamente, já para o período de abril até junho, estamos revendo os cálculos para o fechamento do ano: de crescimento zero do PIB para uma alta de 1,0% em 2022.
DANNY RAPPAPORT, INVESTPORT OFFICE ==> O PIB do primeiro tri veio ligeiramente abaixo das expectativas, mas de modo geral mostra uma recuperação da atividade puxada pela demanda das familias e pelo comércio exterior. Por outro lado os investimentos ficaram abaixo do esperado. Para frente vemos a atividade em recuperação moderada.
Do lado da oferta, A agricultura ficou abaixo do esperado, o que fez o PiB igualmente ficar abaixo.
O efeito da divulgação do PIB somou-se ao bom humor do mercado financeiro nos Estados Unidos e, ainda no cenário externo, ao otimismo com possíveis medidas de estímulo a economia na China. No fechamento do dia, Ibovespa em alta de 0,93% aos 112.392 pontos, com volume negociado de R$ 24,3 bilhões.