Filme "Canina", com Amy Adams, traz a experiência visceral da maternidade
Filme estreia está sexta-feira (24) no Disney+. Longa mistura realismo e fantasia para explorar a transformações da maternidade
Cleide Klock
O filme “Canina”, que estreia nesta sexta-feira (24) no Brasil, na Disney +, traz um retrato visceral e simbólico da maternidade e promete tocar profundamente e, principalmente, as mães. Talvez surpreenda ou até dê um alerta a quem nunca viveu essa experiência. Dirigido por Marielle Heller e estrelado por Amy Adams, o longa mergulha em uma história que mistura o realismo cru com toques de fantasia para explorar desafios, transformações e isolamentos que acompanham a maternidade real, aquela não romantizada. O SBT News fez entrevistas exclusivas com a atriz principal e com a diretora.
Quando chega uma criança em nossas vidas, dizer que nada vai ser como antes não é exagero. A mãe deste filme sente isso a cada momento. Ao deixar sua carreira para cuidar do filho pequeno, a personagem de Amy Adams se sente cada vez mais desconectada de sua identidade anterior e da sociedade. Aos poucos, ela começa a se achar mais selvagem – literalmente –, transformando-se em um cachorro. Pode parecer extremo, mas a transformação é carregada de simbolismo, como explica Amy Adams, que fala também por que a personagem não tem nome e é apenas: mãe.
“É basicamente para expressar essa falta de identidade nessa parte da vida dela. A nova identidade como mãe meio que devora toda a sua antiga, e ela está entre dois lugares nesse senso de si mesma. Acho que, nesse momento, ela só se vê como mãe e sente que todo o mundo só a vê assim”.
Amy Adams, que também é mãe, descreveu a emoção intensa de revisitar esses sentimentos durante as filmagens.
“Definitivamente houve muitos aspectos da minha experiência pessoal. A transformação do corpo ao engravidar e depois dar à luz, se familiarizar com o seu depois, com o eu depois de ter dado à luz, para mim foi uma nova realidade. É preciso muita aceitação e paciência”, conta Amy.
Uma direção pessoal e poderosa
O filme foi baseado no livro Nightbitch, de Rachel Yoder. A diretora Marielle Heller escreveu o roteiro enquanto cuidava da filha recém-nascida e tinha outro filho pequeno.
“Foi uma experiência catártica escrevê-lo. Eu só tinha um tempinho todo dia para escrever. Honestamente, quando minha filha ia para a primeira soneca de manhã, eu colocava meu filho na frente da TV e tinha uma ou duas horas para focar apenas no roteiro. Isso se tornou um tipo de refúgio seguro para mim. Pelo menos quando eu estava na monotonia da minha vida naquele momento, eu podia usar tudo para o roteiro e sentir que tinha um lugar para canalizar isso. Parecia quase uma terapia escrever o roteiro", disse a diretora ao SBT News.
Realismo e Humor
O longa equilibra momentos de humor e profundidade emocional. Adams ressaltou que, embora a protagonista seja uma mãe em crise, o filme também explora o papel do pai de forma honesta.
“Meu marido ama o filme. Ele sente que foi colocado de uma forma divertida. Gosto da maneira como Mari lida com o relacionamento em que o pai não é realmente um cara mau. Ele simplesmente não está realmente conectado, sabe? Ele é um cara ótimo e está fazendo o que acha que é melhor para sua família, mas a comunicação deles está ruim. Então, acho que tem muita coisa para os homens, acho que os homens vão se ver nisso, mas também vão poder gostar de rir e ir junto com a mãe e com essa cadela da noite”
Não romantizar a maternidade
Mas talvez o aspecto mais marcante de "Canina" seja sua recusa em romantizar a maternidade. Em tempos de idealizações nas redes sociais, o filme é uma lembrança crua de que, apesar do amor imenso, incondicional e que cresce a cada dia pelos nossos filhos, criar um serzinho é um processo desafiador e, muitas vezes, solitário para as mães.
“Muitas pessoas que foram às exibições desse filme me disseram: 'isso me fez pensar na minha mãe e liguei para ela logo depois' ou, 'mal posso esperar para assistir a esse filme com minha mãe'. Eu acho que a verdade é que muitos de nós temos essa experiência de meio que ver nossa mãe com novos olhos quando temos filhos. Você vê do que seus pais abriram mão por você ou do que talvez eles não abriram mão, a maneira como fizeram as coisas certas ou como fizeram as coisas erradas ou a maneira como eles tiveram sua própria dor", reflete Marielle.
"Quando somos crianças, não podemos realmente ver nossos pais como pessoas completas. Isso simplesmente não faz parte da experiência. Um amigo gosta de dizer que os pais são vistos como uma mistura entre deuses e escravos. Nossos filhos sentem que estamos lá apenas para servi-los, mas também somos a coisa mais importante que já existiu. Mas, à medida que envelhecemos, esperamos ver nossos pais como seres humanos completos. E, para muitos de nós, isso acontece quando temos nossos filhos. De repente, olhamos para nossos pais com novos olhos. Mas espero que, com o filme, você possa olhar para seus próprios pais com novos olhos, pode meio que lhe dar essa perspectiva sobre o que sua mãe pode ter passado", conclui Mari.