Deputada pinta o rosto e defende exploração de recursos em terra indígena
Silvia Waiãpi (PL-AP) foi ouvida na CPI das ONGs no Senado nesta 3ª feira
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs ouviu nesta 3ª feira (01.jul) o depoimento da deputada federal indígena Silvia Waiãpi (PL-AP). A CPI investiga atividades de organizações não governamentais financiadas com dinheiro público na região da Amazônia e também quer investigar o uso de recursos do Fundo Amazônia.
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Waiãpi começou o discurso falando na língua indígena e leu uma nota da Apina - Conselho das Aldeias Wajãpi que repudia a representação que ela faz da etnia. Segundo a deputada, as críticas fazem parte de um "modus operandi" das ONGs. "Querem é impedir o povo de ter acesso ao desenvolvimento", considerou. Silvia acusou a Apina de impedir a entrada de energia elétrica nas aldeias e de impedir o desenvolvimento dos indígenas. A ONG Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, Iepé, que organiza a Apina, também foi acusada pela deputada. O SBT News tentou contato com a Apina e com o Iepé sobre as acusações, e até agora não recebeu resposta.
Silvia mostrou vídeos de indígenas - inclusive de um irmão dela - reclamando da falta de recursos. No depoimento, a deputada defendeu a exploração de recursos minerais na região como uma alternativa para o desenvolvimento, e citou o Nióbio como um dos metais que poderiam ser explorados.
Após pintar o rosto com urucum, a deputada apelou para a emoção para defender a tese de que os indígenas estão sendo mantidos em "cárcere verde". "Um ideal imaginário nos condenou a viver no passado", afirmou.
A terra indígena Waiãpi, localizada entre os municípios de Pedra Branca do Amapari e Laranjal do Jari no Amapá, foi homologada e registrada em 1996. Em 2019, os indígenas denunciaram que garimpeiros assassinaram o cacique Emyra Wajãpi. O corpo do indígena foi achado em um rio da região e chegou a ser exumado para procurar traços de violência, que não foram confirmados.
Continência para Cid
A deputada Waiãpi foi a primeira indígena a se tornar oficial do Exército e é aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na sessão em que a CPMI do 8 de janeiro tentou ouvir Mauro Cid, Waiãpi bateu continência para o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
A comissão das ONGs foi instalada no Senado em 14 de junho e ocorreu após 4 anos de pedidos de abertura. Ela é presidida por Plínio Valério (PSDB-AM) e a relatoria é do senador Márcio Bittar (União-AM), que declarou na sessão desta 3ª feira (01.jul) que as ONGs constituem um "poder paralelo mundial".
O relator também afirmou que "mais da metade do Brasil" tem a "soberania" perdida, ao citar as terras indígenas e também defendeu a exploração das áreas pelo agronegócio.
Bittar também atacou o Fundo Amazônia. "Eu concordei que ele fosse interrompido, porque dinheiro é bem vindo no Brasil desde que esteja alinhado com o interesse nacional". Ele considera que as "contas não batem" nas transferências para ONGs, sem citar nomes. O presidente da CPI, Plínio Valério, afirmou que as ONGs estão "mancomunadas" ao poder judiciário.
No dia 20 de junho, a CPI aprovou o plano de trabalho do colegiado e 57 requerimentos, incluindo um de convite à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Há também um convite à presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana; e convite ao ex-ministro do Meio Ambiente e atual deputado federal, Ricardo Salles (PL-SP).