CPI da Covid investiga denúncias de médicos contra a Prevent Senior
Depoimento de diretor-executivo da operadora foi remarcado para a próxima semana
Soane Guerreiro
O SBT teve acesso a um dossiê que está sendo elaborado por integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia com base na denúncia de 12 médicos da operadora Prevent Senior, que afirmam que a rede teria pressionado profissionais de saúde para uso de medicamentos do chamado "Kit Covid" e também para a realização de um estudo com pacientes vítimas de covid-19, sem a autorização da Comissão Especial de Ética em Pesquisa (Conep).
O dossiê, que já foi compartilhado com vários parlamentares, relata que, em março de 2020, médicos e enfermeiros afirmavam que a Rede Prevent Senior limitava o uso de Equipamentos de proteção individual (EPIs) no atendimento aos clientes, chegando até a proibir o uso de máscaras para algumas solicitações. De acordo com a denúncia, "essa proibição teria o propósito de facilitar a disseminação do vírus no ambiente intra-hospitalar para supostamente iniciar um protocolo de testes para tratamento da covid-19. Tal protocolo de testes teria sido acordado com o governo federal".
O documento aponta que a pesquisa pactuada "deveria comprovar a eficácia da combinação de cloroquina ou hidroxicloroquina com azitromicina no tratamento da covid-19" e que, em março de 2020, os médicos receberam mensagens, que foram printadas, com a seguinte orientação: "Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR sobre a medicação e nem sobre o programa". E quando a pesquisa foi autorizada junto à Conep, em 6 de abril de 2020, "os pacientes da Rede Prevent Senior, sem ciência, já estavam servindo de 'cobaias humanas' desde 26 de março".
A pesquisa foi autorizada pela Conp somente em 14 de abril de 2020, porém, o colegiado suspendeu a autorização seis dias depois, segundo o documento, em virtude da identificação de irregularidades, como "inexistência de grupo de controle, diferença entre o número de participantes declarados (700) do ensaio clínico com o número definido no projeto de pesquisa (200); burla no dever de notificar casos de covid-19, notificando número inferior ao real".
Além disso, os profissionais de saúde, que entraram com ação na Justiça, também denunciaram à CPI que a equipe médica deveria seguir um fluxo de atendimento determinado, sem autonomia, com a prescrição de medicamentos do chamado "Kit Covid" mesmo ao receber pacientes com sintomas gripais, que não tinham a confirmação do vírus por meio dos exames laboratoriais. E que os profissionais passaram a ter "metas" de prescrição de medicamentos, e quando não atingidas as metas, eram desligados.
A CPI tenta ouvir um dos médicos mas, por enquanto, nenhum aceitou depor. Senadores da Comissão tiveram acesso às provas apresentadas e comentaram durante a sessão desta 5ª feira (16.set)
"Nós temos uma situação gravíssima; os dados, os prints de conversas, os áudios, os relatos de médicos são aterradores, uma coisa fora do normal, um desrespeito à vida, um descumprimento da obrigação ética", afirmou o senador Alessandro vieira (Cidadania-SE).
O presidente da CPI, Omaz Aziz (PSD-AM), pediu informações ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo a respeito das investigações sobre a possível pressão a médicos conveniados.
"Um dos profissionais de saúde foi ameaçado e fez essa denúncia ao CRM, e espero que o CRM de São Paulo possa contribuir, colaborar", pontuou Aziz.
O depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, foi remarcado para a próxima 4ª feira (22.set). A defesa do diretor conseguiu, no Supremo Tribunal Federal (STF), que ele tenha direito ao silêncio para não se incriminar.
A rede Prevent Senior divulgou nota rebatendo as acusações. Veja abaixo:
"NOTA À IMPRENSA
A Prevent Senior vai pedir investigações ao Ministério Público que apure as denúncias infundadas e anônimas levadas à CPI por um suposto grupo de médicos. Estranhamente, antes de as acusações serem levadas à comissão do Senado, uma advogada que representa esse grupo de médicos insinuou que as denúncias
não seriam encaminhadas se um acordo não fosse celebrado. Devido à estranheza da abordagem, a Prevent Senior tomará todas as medidas judiciais cabíveis."