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O que são os scams, golpes ou fraudes virtuais, e como se proteger

Golpistas têm aprimorado seus métodos para fraudes na internet; estimativas indicam que scams causam prejuízo trilionário no mundo

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Com o aperfeiçoamento de tecnologias de inteligência artificial, golpistas têm aproveitado para induzir consumidores e internautas a realizarem pagamentos ou fornecer informações pessoais. O scam pode ser usado em diferentes tipos de golpe, inclusive alguns sobre os quais o Comprova já falou, como fraudes aplicadas por mensagens de texto, o smishing e o golpe do “pix errado”.

O scam é uma estratégia de golpe ou esquema ilegal aplicado principalmente no ambiente digital. Ela se aproveita de vulnerabilidades legais e psicológicas para ganhos de dados pessoais, dinheiro e outros bens das vítimas. Este tipo de fraude é considerado uma das principais ameaças do espaço virtual e pode ser aplicado de diferentes maneiras, como vendedores on-line que comercializam itens falsificados ou inferiores aos anunciados, ofertas de emprego mentirosas, promoção de investimentos com promessas de alto retorno, entre outras.

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Qualquer pessoa pode ser vítima de um scam. De acordo com o relatório “Anti-Scam Handbook v2.0”, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), a suscetibilidade de risco para cair em golpes considera múltiplas dimensões de identidade, como idade, educação e status socioeconômico.

“Anatomia” dos golpes

O relatório da UNDP mostra, na página 66, o “Mapa da Jornada”, uma ferramenta para mapear o passo a passo das fraudes, a partir das perspectivas do golpista e da vítima.

A “jornada” do golpista possui fases anteriores à realização do golpe, como definir quais serão os esquemas de pagamento e pesquisar os perfis e comportamentos dos alvos, passando pelas interações iniciais com táticas de persuasão, até a conclusão do pagamento. Depois, os criminosos apagam vestígios de suas atividades.

Já as etapas do processo associadas aos alvos incluem a motivação para engajar com o vendedor, como o desejo de comprar algum objeto, e, por fim, o encontro virtual com o golpista. Após o pagamento, a vítima pode perceber a fraude ou ser informada de outra forma sobre o scam e sofrer consequências sociais ou pessoais, em meio à tentativa de recuperar a perda.

O documento ainda explica que golpes compartilham várias táticas psicológicas de manipulação, explorando gatilhos emocionais universais como medo, excitação ou urgência para anular o pensamento racional. Criminosos que anunciam opções de investimentos financeiros prometem altos e rápidos retornos financeiros, um poderoso motivador para pessoas em situação de vulnerabilidade.

Outra característica comum é o esquema de taxas antecipadas, ou seja, a promessa de uma grande recompensa, como um prêmio, doação ou empréstimo em troca do pagamento de uma taxa adiantada.

De acordo com o advogado Márcio Stival, especialista em direito digital, a pressa e a emoção são dois pilares da maioria dos scams. “Os criminosos tentam fazer a pessoa agir rápido, sem pensar, dizendo que é uma promoção que vai acabar logo, um problema com a conta ou um pedido urgente de um amigo. Também costumam prometer vantagens muito boas para parecerem irresistíveis. É sempre bom lembrar que, se a oferta parece boa demais para ser verdade, provavelmente é um golpe”, explica.

Tipos de golpes

O relatório da UNDP apresenta diferentes tipos de scams, aplicados via canais online e de telecomunicação. Veja, a seguir, os mais comuns:

Golpes de engenharia social: quando criminosos usam táticas de persuasão para induzir indivíduos a divulgar informações sensíveis ou transferir fundos. Nesses casos, golpistas tendem a se passar por familiares, amigos e agentes públicos para exigir pagamentos de imediato. Esta modalidade pode ser feita por meio de telefones, redes sociais e e-mails.

Golpes de e-commerce: falsos vendedores oferecem produtos a preços baixos. As vítimas ou não recebem os bens ou recebem itens falsificados ou de qualidade inferior. Alguns exemplos são lojas on-line falsas que imitam marcas respeitáveis ou vendedores que bloqueiam as vítimas após receberem o pagamento.

Golpes de investimento: nesta modalidade, golpistas atraem internautas a operações financeiras falsas, com promessas de retornos altos e rápidos. Elas podem ser executadas em grupos de investimento fraudulentos, plataformas de jogos de azar online fakes ou esquemas de pirâmide disfarçados.

Golpes de empregos falsos: quando criminosos oferecem oportunidades de emprego para extorquir dinheiro de candidatos ou coletar informações pessoais deles.

Golpes de caridade falsa: solicitações fraudulentas de doações, frequentemente durante crises, em que os fundos são desviados.

Inteligência artificial usada em golpes

O uso de inteligência artificial por parte de golpistas tem se tornado uma ferramenta cada vez mais comum na sofisticação de fraudes, por meio da criação de conteúdos realistas, como vídeos e áudios.

Os criminosos também podem utilizar o recurso para elaborar mensagens realistas de phishing, quando se passam por instituições confiáveis para roubar informações ou dinheiro dos internautas. Este é um dos golpes mais comuns aplicados no Brasil, conforme o advogado. “Também são frequentes os golpes de investimento com promessas de lucro rápido, as vendas falsas em redes sociais, a clonagem de WhatsApp e os golpes envolvendo o Pix. Muitos golpistas também criam páginas ou perfis falsos para enganar pessoas e empresas.”

Prejuízo global

De acordo com a Aliança Global Anti-Scam (GASA), as perdas globais com golpes digitais ultrapassaram US$ 1,03 trilhão no último ano (cerca de R$ 5,49 trilhões na cotação atual), o que representa mais de 1% do PIB mundial. A estimativa ainda é considerada conservadora, já que muitos scams não são reportados.

O relatório ainda aponta que o prejuízo é significativamente maior em países em desenvolvimento, que chegam a perder 3% a 4% dos seus PIB em comparação a países desenvolvidos, onde as perdas podem ser inferiores a 0,2%.

Segundo dados divulgados pela Serasa Experian, o Brasil registrou quase 7 milhões de tentativas de fraude no primeiro semestre de 2025, o que representa um aumento de quase 30% em relação ao mesmo período do ano anterior, aponta Márcio Stival.

“Isso significa que ocorre, em média, uma tentativa de golpe a cada poucos segundos no país. A maior parte dessas fraudes tem como alvo o setor bancário e os emissores de cartões, mas o comércio eletrônico e os serviços digitais também aparecem entre os mais atingidos. Esses números mostram que o golpe virtual já se tornou uma ameaça constante para o consumidor brasileiro e reforçam a importância de medidas preventivas, como a verificação de informações antes de qualquer transação e o uso de autenticação em dois fatores nas contas online.”

Além do aspecto financeiro, os scams também podem ter impactos sociais e psicológicos nas vítimas, causando sentimentos como depressão, vergonha, ansiedade e, em casos extremos, pensamentos suicidas, além de tensões em relações familiares. Além disso, as fraudes podem reduzir a confiança da população em instituições como bancos e governos.

Como se proteger?

Márcio alerta que a melhor forma de se proteger de scams é desconfiar de tudo que parecer muito urgente e vantajoso. “Nunca clique em links recebidos por mensagens ou e-mails sem verificar a origem. Sempre confirme informações pelos canais oficiais das empresas e evite compartilhar códigos de verificação ou dados pessoais. Ter senhas diferentes e ativar a verificação em duas etapas nas contas ajuda bastante a evitar invasões”, disse.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) detalha formas para os consumidores se prevenirem de golpes na internet:

-Diminuir a exposição de dados pessoais nas redes.

-Tomar cuidado com a coleta de informações privadas, minimizando o uso de cookies, arquivos de texto que sites enviam ao internauta para lembrar informações sobre você, como login, preferências e o conteúdo.

-Apagar histórico de navegação, de tempos em tempos. Além disso, é importante criar senhas fortes, atualizá-las de tempos em tempos, evitar salvá-las no navegador e ativar a autenticação de dois fatores.

Além disso, a UNDP sugere campanhas de conscientização para segurança on-line, sistemas de detecção de fraude para evitar golpes de e-commerce, filtros de spam para monitoramento de atividades suspeitas na internet e suporte aos cidadãos que perderam dinheiro por causa de um scam.

Soluções

Ainda conforme o relatório da UNDP, o combate aos scams por parte das autoridades deve ser feito de forma multifatorial, com medidas como o estabelecimento de centros anti-scam nacionais, para coordenar esforços entre governo, polícia e setor privado, até uma cooperação internacional, por causa da natureza global dos golpistas, através de tratados e acordos entre países.

O documento também aponta que bancos e instituições financeiras devem adotar políticas focadas na proteção dos consumidores, resguardando-os de transações irregulares e aprimorando seus sistemas de segurança.

Fontes consultadas: Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), Anatel, Aliança Global Anti-Scam (GASA), Serasa e o advogado Márcio Stival.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova, grupo formado por 42 veículos de imprensa brasileiros para combater a desinformação, monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Quando detecta, nesse monitoramento, um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança. Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já fez outras checagens sobre golpes virtuais recorrentes, como fraudes aplicadas por mensagens de texto, o smishing, o “pix errado” e o golpe do cupom falso.

News fazem parte dessa aliança. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp 11 97045-4984.

Investigação e verificação: O Dia participou desta investigação. A revisão das informações foi realizada pelos veículos UOL, A Gazeta e Folha SP.

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