FALSO: Lula não comprou novo avião presidencial por 400 milhões
Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova
FALSO: É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha comprado um avião de "400 milhões", diferentemente do que afirma homem em vídeo que viralizou. A postagem traz ainda três fotos internas de aeronaves luxuosas dizendo se tratar do novo avião presidencial, o que não é verdade. A primeira foto, que mostra uma sala de estar, é de um avião vendido em 2016 pelo governo da Tunísia. A segunda imagem é de um Boeing 747 modificado em 2017, enquanto a última foto é de uma propaganda da Emirates Airlines.
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Conteúdo investigado: Vídeo em que homem diz que o presidente Lula (PT) "acabou de pagar 400 milhões" (não diz qual moeda) na compra de uma nova aeronave de luxo. O autor do post mostra três fotos de cabine de avião ? uma de sala de estar, uma de suíte e uma de bar ?, dizendo se tratar do modelo comprado pelo governo.
Onde foi publicado: TikTok.
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Conclusão do Comprova: Não é verdade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha comprado um avião para uso presidencial de 400 milhões, em qualquer moeda que seja, diferentemente do que diz post viral.
Segundo reportagens, o presidente quer a troca do Aerolula, apelido do avião oficial da Presidência da República, que começou a ser usado em 2005, durante seu primeiro mandato. O modelo da nova aeronave ainda não foi escolhido nem a compra realizada. Ele teria determinado que a Força Aérea Brasileira (FAB) apresentasse opções de aeronaves maiores e com mais autonomia do que a atual.
O post desinformativo mostra três fotos de cabines internas de aviões. A primeira delas, de uma sala de estar, é a mesma imagem usada em reportagem de 2012 da IstoÉ sobre a FAB ter retomado os estudos para a compra de um avião. O texto informa que "o modelo em avaliação custa R$ 400 milhões".
A imagem da sala de estar, no entanto, é do avião de luxo que pertenceu à Tunísia, usado pelo então presidente Zine El Abidine Ben Ali. Em 2016, segundo reportagem da BBC, a aeronave foi vendida para a Turkish Airlines por US$ 78 milhões, depois de ter ficado cinco anos estacionada em Bordeaux, na França.
Questionada se as fotos mostram aeronave comprada para a Presidência da República, a FAB respondeu ao Comprova que não, e que o avião usado para "transportar com segurança o presidente a diversas localidades do Brasil e do exterior" é o Airbus 319 VC-1, ou seja, o Aerolula.
O vídeo ainda traz outras duas imagens internas de aeronaves. A segunda é uma suíte de luxo que faz parte, na realidade, de um Boeing 747-8 Vip, cujo valor estimado em 2017 era de R$ 1,8 bilhão. A aeronave havia sido reformulada pela empresa Greenpoint Technologies e entregue a um comprador cuja identidade foi mantida em sigilo.
Sobre a última imagem, o homem que aparece no vídeo fala que não poderia faltar um bar no avião. O bar mostrado, no entanto, é de aeronaves da Emirates Airlines e a foto faz parte da propaganda da companhia aérea. As imagens externas do avião presidencial do Brasil são divulgadas pela FAB.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post verificado aqui teve 9,3 mil visualizações, 7,7 mil curtidas e 1,3 mil comentários até 22 de junho.
Como verificamos: O Comprova pesquisou notícias sobre a compra ou intenção de aquisição do governo federal, na atual gestão, de um novo avião para a Presidência da República. Também analisou as imagens mostradas pelo vídeo aqui verificado usando o Google Lens, com o objetivo de identificar a origem das fotos e a veracidade com o conteúdo apresentado.
Houve ainda contato com o Ministério da Defesa, a FAB e com a assessoria de comunicação da Presidência da República para verificar a situação do avião presidencial e o processo de compra de uma nova aeronave. Por fim, entramos em contato com o autor da postagem.
Avião presidencial é o mesmo desde 2005
A aeronave usada por Lula, como informado acima, começou a ser utilizada em 2005, em seu primeiro mandato. Ela substituiu o Boeing 707, comprado da Varig em 1986 e que era apelidado de Sucatão.
O modelo, segundo informou a FAB ao Comprova, é baseado na versão civil do Airbus 319 e tem aproximadamente 34 metros de comprimento e envergadura e cerca de 12 metros de altura. Ainda segundo o órgão, ele pode atingir até 830 quilômetros por hora na velocidade máxima de cruzeiro e voar até 8,5 mil quilômetros.
De acordo com O Globo, a aeronave tem suíte e chuveiro, espaço reservado com duas mesas e oito cadeiras e "se aproxima da metade do ciclo de vida, o que exigirá passar por um processo de reformulação".
Mas esta não é a primeira vez que um presidente pensa em trocar o avião, batizado oficialmente de Santos Dumont. Em novembro de 2010, no governo de Dilma Rousseff (PT), a Folha noticiou que a FAB estava negociando um avião. "O Aerodilma, caso seja adquirido mesmo com o cenário de contenção de gastos do governo, deverá ser um aparelho europeu da Airbus ? um modelo de reabastecimento aéreo A330-MRTT, equipado com área VIP presidencial e assentos normais", publicou o jornal. A compra, porém, não foi efetivada e Dilma continuou usando o Aerolula.
Em julho de 2017, o então presidente Michel Temer (MDB) optou por viajar à Alemanha no Boeing 767-300ER alugado pela FAB ? com mais autonomia, ele não precisaria fazer a escala exigida pelo Airbus 319. À época, o governo federal decidiu que o Boeing seria usado para viagens que exigissem duas ou mais escalas, mas, pouco mais de um mês depois, Temer voou para a China no Airbus 319.
Quando presidente, Jair Bolsonaro (PL) também usou o Aerolula, mas, em 2022, a FAB comprou dois Airbus 330-200, conhecido como KC-30, da companhia aérea Azul. Lula voou no A 330-200 em fevereiro, no trajeto Brasília-Rio e Washington. O modelo é uma das opções da FAB para o pedido de Lula sobre a troca do Santos Dumont.
O que diz o responsável pela publicação: A reportagem tentou contato com o autor do post, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
O que podemos aprender com esta verificação: "Queria que vocês compartilhassem esse vídeo ao máximo." "Compartilha aí até cair o dedo." Quando criadores de vídeos fizerem pedidos apelativos como estes do post verificado aqui, desconfie. É comum que desinformadores insistam para que seus seguidores republiquem seus conteúdos, fazendo com que a desinformação se dissemine. Então, ao se deparar com publicações assim, desconfie e procure o que está sendo dito na imprensa profissional.
A mesma sugestão vale ao ver conteúdos que citam grandes gastos de governos. No vídeo, o autor diz que Lula gastou 400 milhões na compra de um novo avião. É um gasto que chamaria a atenção da imprensa e, se fosse verdadeira, tal informação teria sido publicada pela mídia.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: A relação de Lula com aeronaves foi objeto de desinformações checadas anteriormente, como na campanha eleitoral de 2022. Em setembro daquele ano, o então candidato foi alvo de um vídeo em que afirmava que ele teria alugado o avião mais caro do mundo para viajar ao Nordeste, o que foi checado como falso pelo Comprova. Em 2018, a Folha desmentiu que Lulinha, o filho do presidente, fosse dono de uma aeronave avaliada em US$ 50 milhões.
Investigação e verificação
O Popular e Folha participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos A Gazeta, UOL, Plural, Estadão, AFP, Correio Braziliense, Poder 360, SBT e SBT News.
Projeto Comprova
Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.
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