Quase 90% das mortes em ações policiais na Maré contém traços de assassinato, diz ONG
Ações policiais mataram duas vezes mais do que as realizadas por bandidos
Wagner Lauria Jr.
A cada dez mortes ocorridas durante operações policiais, das Polícias Militar e Civil, no Complexo da Maré em 2022, nove apresentam indícios de execução extrajudicial. É o que diz a ONG Redes da Maré na 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, divulgado nesta 2ª feira (13.mar).
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Foram levados em conta a observação direta de colaboradores da ONG, relatos de testemunhas, evidências físicas dos locais dos crimes e laudos do Instituto Médico-Legal (IML) para a constatação dos números.
"Teve uma operação que aconteceu em setembro, na Baixa do Sapateiro, em que 19 pessoas foram mantidas em cárcere privado [por policiais], numa casa. Houve uma mobilização muito grande dos moradores e das lideranças locais. Se não tivesse toda essa mobilização, possivelmente teria mais uma chacina naquela ocasião. Mesmo assim, duas pessoas foram executadas. O relato que a gente tem é que foram escolhidos a dedo e executados com um tiro na cabeça", afirma a pesquisadora Camila Barros, coordenadora do estudo.
Em 2022 houve um crescimento de 145% em comparação ao ano anterior, com 27 mortes frente a 11 no conjunto de favelas. Em relação a 2020, quando cinco pessoas foram assassinadas nas operações, o número é 440% maior.
Ainda segundo Camila, as mortes haviam diminuido em 2020, mas já apresentaram alta exponencial nos anos subsequentes. A causa atribuida para a diminuição no período é a ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 365) das Favelas, aprovada no Supremo Tribunal Federal (STF) e responsável por restringir as operações.
Dentre as operações analisadas, 19 eram da Polícia Militar, duas da Polícia Civil e seis eram ações conjuntas entre as duas forças.