Após invasão russa, especialista comenta riscos em torno de Chernobyl
Em 1986, usina protagonizou um acidente nuclear que deixou 31 mortos, segundo dados da então União Soviética
Victoria Nogueira
Após o anúncio de que tropas russas tomaram a antiga Usina Nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia, o mundo lembrou abril de 1986, quando a cidade protagonizou o maior acidente nuclear da história, provocado depois da explosão de um dos reatores da instalação. Passados mais de 30 anos, o cenário, agora palco do conflito entre russos e ucranianos, no entanto, ainda esconde o inimigo do passado: a radiação.
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O SBT News conversou com o professor Marcos Antonio Fernandez, do Laboratório de Ecotoxicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que comentou o risco de um ataque na região, levando em consideração os efeitos deixados pelo acidente na usina, localizada em uma zona estratégica da Ucrânia. Próxima à fronteira com Belarus, país aliado da Rússia, e a 100 km da capital ucraniana, Kiev, a Usina Nuclear de Chernobyl foi fechada gradativamente depois de 1986. Em 2000, os três reatores foram desativados. Mesmo passados tantos anos, a área em torno da construção continua inabitada.
Segundo dados oficiais divulgados pelo governo da então União Soviética, 31 pessoas morreram após o acidente nuclear. Em 2005, um novo levantamento desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que 4 mil teriam morrido no acidente ou em decorrência dele. O número foi questionado no ano seguinte pelo Greenpeace, que fez uma relação de 100 mil mortos.
Para o docente, o conflito pode causar problemas, desde que o complexo de Chernobyl seja danificado.
Confira a entrevista:
Como um conflito pode impactar o meio ambiente na região?
Chernobyl teve uma explosão no reator, que está coberto com um sarcófago, para evitar que a radiação se espalhe. Ainda há radiação remanescente da explosão. Além disso, o complexo tem outros três reatores que sobreviveram relativamente bem, mas estão desativados. É possível que os reatores ainda tenham combustível nuclear, estejam só desligados. Em princípio, não vai acontecer nada, desde que ela não seja alvo de combate.
Caso a Usina de Chernobyl seja atacada, a radiação pode se espalhar pela Ucrânia e outros países da Europa?
Uma coisa é você deliberadamente atacar uma usina. Chernobyl não é um objetivo militar, é uma área abandonada, isolada. Não tem população humana em volta -- só animais. A radiação pode se espalhar, você vai destruir a contenção, comprometer os reatores que estão lá. Como havia muita radiação no prédio que ficou danificado, é questionável que os outros tenham tido o material nuclear retirado. É possível que estejam só desligados e perdendo a radioatividade devagar. A área [em que a radiação pode se espalhar] depende do tipo de dano que for causado na instalação.
Soldados russos e ucranianos podem ser contaminados e transmitir a radiação para outras pessoas?
Se houver um acidente na usina, os soldados que estiverem próximos vão ser afetados pela radiação como foram os soldados e bombeiros que participaram da contenção do vazamento radioativo em 1986. Muitos morreram. Eles não vão passar a radiação para outras pessoas, porque ela provoca danos no organismo de quem está exposto. Você não acumula radiação para continuar transferindo para outra pessoa.
O que explica o aumento da radiação no local desde o início do conflito, como divulgado pelas autoridades ucranianas?
Não temos maiores detalhes de quanta radiação foi medida. A medição foi feita de uma forma tecnicamente correta? Nós podemos torcer para que isso não represente um dano na usina, porque, se de alguma forma a usina foi atingida, as consequências podem ser desde um pequeno vazamento até um muito maior. Detectaram um nível acima, mas não foi uma explosão.