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Jornalismo

Volta de eventos em SP anima organizadores e preocupa especialistas

Apesar da promessa de segurança nos eventos, infectologistas criticam medidas de flexibilização

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a imagem mostra quatro pessoas brindando com cervejas em um evento
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Há pouco mais de 1 ano e 8 meses, desde o início da pandemia por covid-19, São Paulo organiza uma reabertura gradual dos grandes eventos no estado. Com o avanço da vacinação, o Plano São Paulo, de retomada econômica das atividades, começa a ser flexibilizado, permitindo que a população aos poucos volte, com segurança, à "vida normal".

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Na capital paulista, toda a população maior de 18 anos já foi vacinada com ao menos com a primeira dose. A taxa de adultos com o esquema vacinal completo é de 69,41%. Ao todo, mais de 60 milhões de vacinas foram aplicadas desde o início da imunização, em janeiro deste ano. 

Desde 17 de agosto não há mais restrições de horários e ocupação nos comércios, bares e restaurantes paulistas. Museus e feiras corporativas também foram autorizados a funcionar, desde que haja distanciamento. Já o retorno dos grandes eventos, como shows com público em pé, ocorrerá somente após 1º de novembro, data estimada pelo governo para que 90% da população adulta do estado esteja com esquema vacinal completo.

Apesar da liberação tanto da prefeitura da capital quanto do estado de São Paulo, ainda há preocupação quanto à segurança da sociedade frente ao novo coronavírus.

Primeiros eventos após retomada

Recentemente, eventos corporativos marcaram presença em São Paulo, sendo dois deles no centro de convenções Expo Center Norte: o ABCasa Fair 2021, entre 30 de agosto e 3 de setembro, e o Olympia Amateur Brasil 2021, que ocorreu nos dias 10, 11 e 12 deste mês. 

De acordo com o diretor superintendente do Expo Center Norte, Paulo Ventura, diversas medidas de segurança contra a disseminação da covid-19 foram tomadas, entre elas: tótens e câmeras de segurança para medição da temperatura; dispensers de álcool em gel espalhados pelos pavilhões; limite de 30 mil pessoas no centro de convenções; distanciamento de 1 metro e meio entre os presentes; utilização de uma planta única para todos os promotores de evento; funcionários utilizando máscaras e protetores faciais; e a obrigatoriedade de apresentação do passaporte da vacina.

O Expo Center Norte, como alocador de espaço para realização das convenções, orienta a todos os organizadores do evento seguirem as regras de segurança contra a covid-19, impostas tanto pelo espaço quanto pela prefeitura de São Paulo. Contudo, no evento de fisiculturismo Olympia Amateur Brasil 2021, a realidade foi outra.

Segundo um casal de visitantes -- que preferiu não se identificar --, o evento estava lotado, com aglomerações em diferentes espaços do centro de convenções. Eles ainda contam que, na contramão dos protocolos sanitários, os atletas e expositores não utilizavam máscaras, além de remover o equipamento de proteção individual para tirar fotos. O casal afirmou também que eram poucos os que estavam cumprindo as medidas de segurança contra o novo coronavírus, mesmo entre os funcionários do local.

Expectativa dos organizadores

Importado de Munique, na Alemanha, o festival São Paulo Oktoberfest é realizado uma vez por ano, com início na segunda quinzena de setembro. Depois de um ano sem edição por conta da pandemia, o fundador e embaixador Walter Cavalheiro Filho conta que, em conjunto com o comitê de eventos-modelo do governo de São Paulo, decidiu adiar o início da celebração para 25 de novembro.

"O estado de SP foi muito feliz na montagem de um comitê, que eu sou parte, formado por especialistas e alguns secretários do estado. Dentro desse comitê, a partir de maio, a gente começou a se reunir semanalmente e, juntos, começamos a costurar essa retomada, para que ela fosse segura e também parecesse segura", afirma Cavalheiro Filho.

No evento ao ar livre, que conta com área de 22 mil m², as medidas de segurança vão além do uso de máscara, álcool em gel, fiscalização e distanciamento de um metro entre indivíduos, imposto pelo governo municipal. A capacidade, que antes era de mais de 20 mil pessoas, se limitará a 6 mil por dia. Os frequentadores terão de mostrar o comprovante de vacinação com as duas doses ou teste negativo realizado até 48 horas antes do festival. 

Ele ainda ressalta a obrigatoriedade de aderência à vacina por parte dos 1,8 mil colaboradores responsáveis pela realização do evento: "Os funcionários são obrigados a se vacinarem, porque não tem jeito de você dar exemplo, pedir a colaboração do público, se o nosso staff mesmo não está colaborando com isso".

Retomada preocupa infectologistas

Mesmo com os cuidados, a retomada dos eventos recebeu críticas por parte de especialistas. Ao SBT News, o infectologista Roberto Focaccia criticou o retorno atrelado à flexibilização das medidas de prevenção. O médico classificou a volta dos espetáculos como um "erro quase fatal", ressaltando que os governos vêm atuando com condutas baseadas em acertos e falhas.

"Apesar da vacinação em massa ainda ser insuficiente, a flexibilização está ocorrendo em toda a parte. Não se sabe qual é o percentual necessário de vacinados para a contenção da transmissão do vírus, nem quais variantes virão. As medidas de prevenção estão sendo deixadas de lado, especialmente o uso de máscaras", pontua Focaccia.

Para o infectologista, a flexibilização em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro é reflexo da pressão dos organizadores dos festivais junto aos Poderes estaduais e municipais. Na 4ª feira (22.set), a prefeitura carioca permitiu a realização de quatro eventos-testes em outubro, onde o uso de máscaras e o distanciamento social não serão obrigatórios, devendo os frequentadores apenas apresentar uma testagem que comprove o diagnóstico negativo para a covid-19 e o comprovante de vacinação. 

Focaccia reitera a opinião de que a decisão é errônea, visto que apenas a população com mais de 50 anos estará com o esquema vacinal completo até a data do evento, e a compara com as medidas adotadas em São Paulo: "Liberar apenas com uma dose da vacina é uma irresponsabilidade sem limites. O governo paulista segue o mesmo erro do Rio de Janeiro. A pandemia não acabou".

Os Estados Unidos, que autorizaram a volta dos eventos seis meses antes do Brasil, ainda estudam a relação entre as festividades e o aumento de casos de infecção por coronavírus. O que se pode adiantar é que um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) aponta que uma pessoa contaminada com a variante Delta da covid-19, mais contagiosa que a original, pode transmitir o vírus para outros oito indivíduos.

Em agosto, pelo menos 160 pessoas que compareceram ao Watershed Music Festival, um festival de música em Washington, foram infectados com a covid-19. No Reino Unido, o caso foi ainda mais grave. Segundo o jornal britânico The Guardian, 4.700 pessoas foram infectadas após comparecerem ao festival Boardmasters. O público era de 50 mil pessoas e o uso de máscaras foi encorajado, mas não exigido.

*Estagiários sob supervisão de Ariane Ueda e Fernando Jordão

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