Acidente no Voo 447 que deixou 228 mortos completa 10 anos
A data foi lembrada por familiares das vítimas em um ato ecumênico, neste sábado, no Rio de Janeiro. Dentre as vítimas, 55 eram brasileiras
SBT News
O acidente com o voo 447 da Air France, que ia do Rio de Janeiro a Paris, completa dez anos. Duzentas e vinte e oito pessoas morreram. Destas, cinquenta e oito eram brasileiros.
No dia 31 de maio de 2009, o "Airbus A330" saiu do Rio de Janeiro e caiu no Oceano Atlântico, às duas da manhã do dia 1º de junho. O avião estava a trinta e cinco mil pés de altura, o que corresponde a cerca de dez mil metros.
Neste sábado (01), a data foi lembrada em um ato ecumênico, reservado às famílias das vítimas, realizado na Zona Sul do Rio de Janeiro. No local, foi erguido um monumento com o nome dos mortos.
Familiares também aproveitaram a data para cobrar respostas. Os parentes não concordam com o resultado das investigações conduzidas pelas autoridades francesas.
Segundo o irmão de uma das vítimas, Maarten Van Sluys, as circunstâncias da tragédia deveriam ser melhor apuradas.
"Os pilotos não tinham treinamento adequado para enfrentar essa situação, e isso foi comprovado. Isso está nos autos do processo. Eles foram lançados à própria sorte, numa situação de incompreensão do que estava acontecendo no avião", disse o familiar que perdeu a irmã Adriana, que viajava a trabalho.
Os pilotos acabaram recebendo a maior parte da culpa pela tragédia. Segundo as autoridades, eles teriam tomado decisões que levaram à queda do avião depois de uma pane nos sensores de velocidade, os chamados tubos de pitot.
Ao passar por uma nuvem de tempestade, os tubos teriam congelado. O entupimento destas peças fez com que o sistema de piloto automático fosse desligasse.
A condição que causou o acidente foi recriada pelo engenheiro mecânico da UFRJ, Renato Cotta. A experiência aconteceu dentro de um túnel de vento, que simula, em terra, as condições climáticas de um voo.
O túnel, construído na Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi o primeiro a ser desenvolvido no hemisfério sul e pode ajudar a prevenir que outros acidentes, como o do voo 447, aconteçam.
"Na aviação moderna, praticamente todos os acidentes são causados por uma sequência de eventos, e não uma única coisa. Eu diria que o menos importante tenha sido exatamente a atuação dos pilotos, que eu até louvo, porque eles nunca tiveram treinamento para aquela situação específica", explica o engenheiro.
Os anos de trabalho dedicado ao projeto tiveram ainda uma motivação pessoal. A filha de Renato, Bianca Cotta, de 25 anos, viajava ao lado do marido, Carlos Lopes, a bordo do 447.
"Essa é uma perda orgânica. Você perde uma parte de você, quanto a isso não tem remédio. A cada acordar, a cada dormir, você vai lembrar desse filho. E eu faço exatamente por saudade", diz Renato, emocionado.
O processo criminal está próximo do fim. A Airbus não quis se manifestar sobre o incidente. Já a Air France afirmou que vem trabalhando para melhorar a segurança nos voos.