Traficantes usam até peixe congelado para transportar drogas via aeroportos no Brasil
Apreensões em SP e RJ indicam que crime organizado busca alternativas para envio de skunk e cocaína ao exterior nos voos comerciais, com aumento das ações da PF
As apreensões de drogas nos aeroportos do Brasil vêm aumentando nos últimos anos, com operações de pente fino da Polícia Federal (PF), trabalho de inteligência e cooperação entre agências de segurança e controle. Alguns métodos usados por criminosos para tentar esconder as drogas, em voos comerciais, chamam a atenção, por se destacarem em meio aos constantes registros de flagrante de quilos e quilos de cocaína, skunk (maconha mais forte) e outros entorpecentes.
A PF, a Receita Federal e as polícias da Aeronáutica e Marinha, que passaram a reforçar o combate ao tráfico, têm feito prisões e apreensões diariamente em voos e aeroportos comerciais do país. Na maioria dos casos, a droga é escondida em fundos falsos de malas, nas roupas e dentro do organismo, levada em cápsulas (engolidas ou introduzidas) pelos chamados "mulas". São pessoas que recebem dinheiro do traficante para fazer o transporte da droga.
No mês de março, a PF registrou dois casos peculiares, em aeroportos com voos internacionais: em Viracopos (Campinas, interior de São Paulo) e no Galeão (Rio de Janeiro). Nos dois flagrantes, uma carga de peixes estava recheada de droga, em caixas de isopor. Tinham como origem o aeroporto de Manaus, na capital do Amazonas.
No estado, é comum esse tipo de artifício para ocultar droga, principalmente no transporte pelos rios, devido às fronteiras do Brasil com países produtores, com rios e córregos que ligam os territórios.
1ª apreensão em peixe em Viracopos
No começo da madrugada do dia 22 de março, um dos cães farejadores que trabalham com a polícia e a Receita Federal, na área onde ficam as bagagens e cargas a serem despachadas no Aeroporto Internacional de Viracopos (SP), suspeitou de uma caixa de isopor.
Com um aparelho portátil de raio-x, foi constatado que havia algo diferente dentro dos peixes congelados, que pertenciam a uma passageira de 20 anos. Ela havia desembarcado de um voo vindo de Manaus, capital do Amazonas.
A PF abriu as caixas e os peixes, que estavam dentro de sacos plásticos. Dentro deles, havia pacotes com skunk, que deveria ser destinada à exportação. No total, havia 5,6 kg da droga. Ela foi presa em flagrante.
"Foi a primeira vez que apreendemos droga em Viracopos dentro de peixes congelados", afirmou o delegado Edson Souza, chefe da Delegacia da PF em Campinas.
Dias depois, droga em peixe no Galeão
No dia 30 de março, no aeroporto do Galeão, a PF fez outra apreensão com características semelhantes à registrada dias antes em Viracopos. Era manhã de sábado, quando um passageiro que desembarcava de voo comercial vindo de Manaus foi preso em flagrante. Na fiscalização de rotina foi identificado conteúdo estranho dentro de uma caixa de isopor que ele despachou. A carga foi aberta pela PF e agentes encontraram 3,2 kg de skunk dentro de peixes.
A maior parte das apreensões no modal aéreo feitas pela PF ocorre no eixo Rio e São Paulo. Mas há casos em Fortaleza, Florianópolis e outras cidades, fazendo ou tráfico entre estados ou em escalas rumo aos aeroportos com voos internacionais.
Viracopos tem aumentado sua grade de voos internacionais e a PF tem verificado um aumento das apreensões de drogas, com destino ao exterior — parte disso, decorrente também das operações contínuas de fiscalização e combate ao tráfico.
A prisão da mulher de 20 anos em março, primeiro caso identificado com uso de peixes para ocultação de droga, foi a 15ª em flagrante em 2024, em Viracopos. Ao todo, foram aprendidos 52,7 kg de maconha/skunk, 24 kg de cocaína e 17 kg de MDMA (uma droga sintética estimulante), até março.
Em 2023, a Operação Sentinela fez 51 prisões em flagrante, com 55 pessoas presas (29 homens e 26 mulheres). Um total de 261 kg de drogas apreendidos: 113 kg de cocaína e 148 kg de skunk (maconha). Os dados são da PF.
Pinga batizada
No dia 24 de março, dois dias depois da apreensão do skunk escondido em peixes, a PF prendeu um passageiro de 48 anos que embarcaria em um voo para Orly, na França, no aeroporto de Viracopos. Ele carregava na mala três garrafas de cachaça, do tipo Ypióca, com acabamento de palha cobrindo o vidro.
Os policiais suspeitaram durante a triagem e ele foi chamado para checagem. Dentro delas havia cerca de 3 kg de cocaína diluídos em 3,6 litros de líquido, que ficava isolada da pinga colocada no gargalo para despiste, caso elas fossem abertas para teste.
No mesmo dia e no mesmo voo de Viracopos para Orly, a PF prendeu outras duas passageiras, que escondiam 17 kg de cocaína dentro das malas. Com 23 e 25 anos de idade, elas viajavam juntas e a droga estavam embaladas de forma idêntica, em fundos falsos. Elas, porém, não tinham qualquer relação com o passageiro que carregava a cocaína líquida na pinga, também no mesmo voo.
Mulas
Nos voos comerciais, a maior parte da droga apreendida é transportada pelos mulas, no corpo ou nas bagagens. Também é comum que os presos tenham origem estrangeira. Algumas vezes, elementos adicionais destacam o caso em meio a tantos registros, como na prisão de duas colombianas, em 13 de março, no Aeroporto do Galeão.
A movimentação das duas caiu no radar da PF e de autoridades aduaneiras. Os registros mostraram que elas entraram no Brasil por Letícia (AM), na tríplice fronteira, e de Tabatinga (AM) seguiram para Manaus. Na capital, elas pegaram as malas e o avião parou no Rio de Janeiro, no final de tarde, para uma escala. Dali, embarcariam em voo internacional para Paris, capital da França.
Nas malas das duas colombianas, a PF apreendeu 10 kg de cocaína, em fundos falsos. Mas o que destacou o caso dos demais foi que elas viajavam com um bebê de dois meses.
Uma semana antes, cinco colombianos, que viajavam com três crianças, foram presos em Guarulhos (SP), após suas bagagens caírem no faro dos cães K-9 da polícia. Em fundos falsos das malas, foram encontrados 15 kg de cocaína. Eles também entraram no Brasil pela fronteira e, de Tabatinga (AM), embarcaram para Manaus e depois para São Paulo.