Sindicato de Motociclistas do RS protesta contra abordagem abusiva da PM a motoboy negro
Rapaz teria sofrido uma tentativa de homicídio de um homem branco e ainda foi algemado pelos militares. Corregedoria da PM investiga o caso
O Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto) realizou uma manifestação, neste domingo (18), para protestar contra racismo, um dia após um motoboy negro sofrer uma tentativa de homicídio de um homem branco e acabar preso pela PM. Caso aconteceu em Porto Alegre.
+ VÍDEO: Homem negro é algemado no RS após sofrer tentativa de homicídio
Um representante do Sindicato afirma que a agressividade contra os motoboys aumentou nos últimos meses.
"Muitos consumidores, às vezes donos de estabelecimentos e inclusive até o estado, através da polícia militar, dos agentes de fiscalização de trânsito, tem efetuado movimentos no sentido de agressividade.", disse Felipe Carmona, assessor jurídico do Sindimoto
Segundo outro motoboy escutado pela reportagem do SBT, Angel Rosseti, casos semelhantes a esse acontecem diariamente "a gente passa por isso todos os dias e quando é um negro é pior ainda".
Everton Henrique Goandete, que foi agredido pelo homem branco, vai prestar depoimento, nesta segunda-feira (19), na Corregedoria da Polícia militar do Rio Grande do Sul. Testemunhas afirmam que ele teve uma faca apontada para o pescoço. Mesmo assim, foi imobilizado e algemado por policiais militares. Os dois foram levados para a delegacia, mas Everton também passou por exame de corpo e delito.
O que aconteceu?
No vídeo, o homem branco, sem camisa, que aparece atrás do carro, tem um objeto metálico nas mãos. Ele aparece discutindo com o motoboy no outro lado da rua.
Outro vídeo, gravado por pessoas que estavam no local, mostra o momento em que os policiais militares chegam. O homem branco ainda tem o objeto na mão, mas o primeiro PM se volta para o motoboy, que foi imobilizado e algemado com ajuda dos outros três policiais militares que participaram da ação.
"Estou parado, sentado, chega um cidadão que é residente da casa à frente onde eu estava, com uma faca e que vem para cima do meu pescoço. Depois chamamos a Brigada da PM e eles não souberam conversar normal. Aí eu eu conversei do mesmo jeito que eles vieram conversando e me agrediram.", disse Everton ao portal Sul 21.
Testemunhas também disseram que o homem branco, Sérgio Camargo Kupstaitis, apontou a faca para o pescoço de Everton. Nossa reportagem tentou contato com Sérgio, mas não obteve resposta.
Motoboy foi tratado como "cidadão de segunda classe"
Membro do Conselho dos Direitos Humanos, o advogado Ramiro Goulart, que representa o motoboy, disse que Everton foi "tratado como cidadão de segunda classe e o senhor branco como se fosse protegido" e reiterou que "esse tipo de abordagem que tem que mudar, porque a polícia não pode chegar no local, presumindo que o negro o seja o criminoso e o branco seja vítima."
O caso já está sendo investigado pela Polícia Civil. Além deste registro, outra ocorrência foi feita por abuso de autoridade. O motoboy relata que foi abordado de forma ríspida, mesmo estando diante de testemunhas.
Governador do RS, ministros e deputado se manifestaram sobre o caso
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse já determinou a abertura de uma sindicância na Corregedoria.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se manifestou e disse que as imagens causam revolta pelo indício de racismo institucional. Já o o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, afirmou que o caso demonstra, mais uma vez, a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes.
O deputado estadual Mateus Gomes (PSOL) disse que foi registrada queixa contra os policiais responsáveis pela abordagem e que o caso será levado para as Comissões da Assembleia Legislativa do estado. Segundo ele, Everton já foi iberado