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Rotina de skincare é a nova febre entre crianças e pré-adolescentes; o que pais devem saber

SBT News conversou com psicóloga e dermatologista sobre o fenômeno que tem preocupado adultos

Rotina de skincare é a nova febre entre crianças e pré-adolescentes; o que pais devem saber
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A gerente-geral artística Andressa Guirado, 45, se assustou quando a filha de 12 anos, que até então não ligava para maquiagem, começou a lhe pedir produtos dermatológicos. A menina faz parte do fenômeno “Sephora Kids”, no qual crianças entre 8 e 12 anos – movidas por influenciadores no YouTube, TikTok e outras redes sociais – se interessam pelas rotinas de “skincare”, algo que geralmente faz parte do cotidiano de adultos.

+ Quase metade dos pais não sabe o que os filhos fazem nas redes sociais

"Eu sempre fui muito vaidosa – sou muito adepta a cremes e procedimentos estéticos. E percebi que ela nem ligava. Bastou fazer 12 anos e ir para a sétima série que, no segundo dia de aula, ela começou: ‘mãe, preciso de cremes, porque eu vou fazer meu skincare’. Todas as amigas fazem e a minha não foi diferente. Mas é assim, é creme para o olho, é creme para a pele, para o cabelo, para a olheira”, conta Andressa.

Ela diz ainda que tanto a filha como as amigas têm perfis privados no Instagram, criados apenas para compartilhar a rotina de cuidados com a pele entre si. As publicações são feitas diariamente e rendem resenhas dos produtos, que chegam a custar até R$ 500.

O alto interesse da filha fez Andressa marcar uma consulta com um dermatologista, já que a pele infantil é mais sensível do que a dos adultos. “Cheguei a conversar com uma dermato, porque isso era prejudicial para ela, que tem 12 anos e não tem nenhum tipo de problema na pele. E a dermato foi bem clara: nessa idade a única coisa que é viável é a vitamina C. Mas não tem jeito, se eu não compro, ela pega do meu”, conta a mãe.

Assim como a filha de Andressa, outras crianças buscam cada vez mais por produtos de skincare, o que é percebido até mesmo por funcionários de lojas de produtos de beleza, entre elas a francesa Sephora.

Ao SBT News, uma especialista da loja revelou haver até mesmo embates entre pais e filhas por causa dos produtos. Isso porque, alguns dos cremes e maquiagens que parecem ter caído no gosto das meninas são feitos, na verdade, para peles mais maduras. Alguns exemplos são produtos de limpeza facial, máscaras com retinol – usadas para retardar o envelhecimento da pele – e hidratantes faciais para evitar rugas.

“Em loja tentamos ao máximo explicar para o público quais são os produtos liberados para eles, mas é uma linha tênue. Metade do público aceita, a outra metade, não. O que percebemos é que existe uma melhor aceitação por parte dos pais. Já as crianças são as que demonstram resistência, porque elas já vão com uma ideia formada por causa do que assistem nas redes sociais”, conta a funcionária, que preferiu não se identificar.

De acordo com a consultora, as marcas mais visadas pelas consumidoras mirins são: Drunk Elephant, Rare Beauty e Sol de Janeiro. A procura pelos produtos fez ainda lojas infantis começarem a investir em linhas específicas para o nicho, como a Estrela. A tradicional fábrica de brinquedos começou a comercializar maquiagens e produtos dermatológicos, como batons e água micelar, na chamada “Estrela Beauty”.

+ Harmonização facial pode causar infecção, dermatologista explica

Dados do portal Statista mostram que a receita global no segmento 'Baby & Child' do mercado de beleza e cuidados pessoais deve aumentar constantemente entre 2024 e 2028 em cerca de US$ 1 bilhão (+22,36%). A estimativa é que o indicador alcance a casa dos US$ 5,7 bilhões, registrando um novo pico em 2028.

Procure um dermatologista

Apesar de parecer negativa, a médica Talita Pompermaier, especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, com atuação na Harvard Medical School e na Michigan University, defende que o fenômeno “Sephora Kids” pode ser positivo, desde que “bem dosado e orientado”. Isso porque o movimento está mobilizando a faixa etária a se cuidar precocemente, o que vai ajudar as crianças a adotarem uma rotina adequada para a pele. O ponto negativo, contudo, é utilizar produtos que não são adequados para a idade, prejudicando a pele.

“Eu oriento que os pais procurem um profissional especialista na área, que é um dermatologista, para diagnosticar o tipo da pele e para orientar qual o melhor produto”, recomenda Talita. “A ideia de uso de protetor solar é indicado a partir dos seis meses de idade, então essas crianças já começam a ter esses primeiros cuidados, retardando possíveis doenças de pele como melasma e manchas solares”, acrescenta a sócia-fundadora do Instituto Pompermaier.

Implicações no desenvolvimento

O mesmo é dito por Priscila Netto de Campos, psicóloga da Clínica Dra. Maria Fernanda Barca. Segundo ela, o interesse por skincare na juventude deve ser dosado, uma vez que a rotina pode ter implicações no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças. Enquanto a exploração e experimentação com esses produtos são partes naturais do desenvolvimento, é importante reconhecer que a intensificação desse interesse pode refletir influências externas significativas, como pressões sociais, culturais e midiáticas.

“Para muitas meninas, o foco excessivo na aparência pode levar a uma preocupação excessiva com a perfeição estética e à internalização de padrões de beleza inalcançáveis”, pontua Priscila. “Isso pode resultar em comparações prejudiciais com os outros e uma diminuição da autoestima, especialmente quando confrontadas com a discrepância entre a realidade e as imagens idealizadas encontradas nas redes sociais e na mídia", acrescenta.

Diante disso, a profissional dá dicas de como os pais podem auxiliar as filhas durante esse momento de exploração e experimentação.

Dicas para os pais

Diálogo Aberto

A comunicação é fundamental. Os pais devem criar um espaço seguro para discussões abertas sobre autoimagem, beleza e influências externas. É importante questionar e entender as motivações por trás do interesse em maquiagem e skincare, sem julgamentos, promovendo uma reflexão crítica sobre os padrões de beleza.

Educação sobre Mídias Sociais

Ensinar as crianças a ter uma relação saudável e crítica com as redes sociais é essencial. Isso inclui discutir a natureza muitas vezes fabricada do conteúdo online e encorajar o questionamento crítico de padrões de beleza irreais.

Promover a Autoaceitação

Auxiliar as crianças a desenvolverem uma autoimagem positiva, enfatizando valores que vão além da aparência física. Encorajar habilidades, talentos e qualidades internas pode ajudar a fortalecer a autoestima e diminuir a dependência da aprovação externa.

Limites Saudáveis

Embora proibir o uso de maquiagem e skincare possa ser contraproducente, estabelecer limites saudáveis é necessário. Isso pode incluir restringir o uso de produtos inadequados para a idade e monitorar o tempo gasto nas redes sociais.

Exemplo Pessoal

Os pais devem ser modelos de comportamento, demonstrando uma relação saudável com a própria imagem e com as mídias sociais. Praticar o autocuidado, a autoaceitação e a crítica à cultura da beleza idealizada são práticas que os pais podem adotar para inspirar seus filhos.

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