Produtores rurais do Rio Grande do Sul tentam se reerguer após tragédia climática
Fortes chuvas que atingiram o estado comprometeram a produção de alimentos e impactam preços em todo o país
A catástrofe climática no Rio Grande do Sul comprometeu a produção de alimentos no estado e já impacta os preços em todo o país. Milhares de produtores rurais gaúchos tentam se reerguer.
"Eu não chorei, mas a vontade eu tive. De tanto serviço, tantos anos trabalhando aqui, é um atraso, é um retrocesso, até para a família, filhas, eles pensam duas vezes antes de dizer que vão ficar na atividade", afirma o produtor rural Celso Reichert.
O pomar de Celso, que deveria estar carregado de tangerinas, não sobreviveu às cheias do Rio Caí, em Pareci Novo. A produção orgânica, que chegava a seis mil caixas por ano, caiu para menos da metade.
Já se passaram quase dois meses desde que as chuvas históricas inundaram o Rio Grande do Sul. Além da perda das frutas, até as árvores começaram a apodrecer. Em alguns lugares, o solo fértil sumiu e o acúmulo de areia chega a dois metros de altura.
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de tangerinas no Brasil. Segundo a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), a tragédia climática impactou a maioria dos pomares gaúchos. 40% da safra foram perdidos (62.053 toneladas a menos). O prejuízo se repete em lavouras, pomares e criações de animais nas mais de 206 mil propriedades rurais afetadas em maio.
Para o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a catástrofe climática está influenciando o preço dos alimentos em todo o país, especialmente nos estados do sul.
"É uma situação preocupante, porque a inflação de alimentos afeta sempre os menos favorecidos. O brasileiro de baixa renda pode ser muito afetado porque vai ver sua principal despesa subindo muito mais do que a inflação média. E para esse ano a nossa expectativa, pelo menos por enquanto, é que a alimentação suba 6%. É o dobro do estabelecido para a meta de inflação desse ano, que é 3%", diz o especialista.