Por que shows e festivais são tão caros no Brasil?
Empresas responsáveis pela contratação do evento são encarregadas de cobrir todos os custos dos artistas e bandas que vêm ao país
Iris Tavares
Neste mês de setembro, o Rio de Janeiro recebe o tradicional Rock in Rio, evento criado em meados dos anos 1980, focado em receber grandes nomes do Rock in Roll, mas, com o passar dos anos — e das décadas — reúne artistas de todos os gêneros musicais.
Com valores que variam de R$ 337,85 a R$ 795, o festival recebe em 2024 nomes como Cindy Lauper, Travis Scott, Katy Perry, Ed Sheeran, Karol G, Shawn Mendes, Ne-Yo e Akon.
Em 2025, é a vez de São Paulo receber outro grande festival: o Lollapalooza. Com vendas do "Lolla Pass" já disponíveis, os ingressos do evento variam de R$ 1.099 a R$ 2.199.
Você já se perguntou por que os ingressos de shows e festivais internacionais são tão caros? O SBT News procurou especialistas em finanças e economia para entender o motivo do alto valor cobrado em apresentações de cantores conhecidos dentro e fora do Brasil,
Impostos e a cotação do dólar
O consultor tributário e presidente da Fradema Consultores Tributários, Francisco Arrighi, explica que um dos principais motivos desses festivais serem tão caros no Brasil é a cotação do dólar, que tem grande influência nos impostos sobre serviços.
A CEO da Double Check Consultoria, Daniela Pederneiras, concordou com o consultor tributário e explicou ao SBT News que a maior parte dos contratos é firmada em moeda estrangeira e qualquer variação cambial impacta diretamente no custo da turnê.
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"Se o "Real" estiver desvalorizado, os custos sobem e refletem diretamente nos preços dos ingressos", ressalta.
Arrighi também conta que o preço aumenta porque os impostos sobre serviços e importações são comuns no país: "Na importação de serviços, que é o caso dos cantores e bandas internacionais, temos uma carga tributária que começa em 15% podendo chegar a 25% do valor total."
O consultor tributário esclarece que os impostos relacionados ao show são responsabilidade das empresas contratantes e, dependendo do regime tributário, a receita pode chegar a 34% sobre o valor total do show.
Ou seja: as contratantes do evento são encarregadas de cobrir todos os custos dos artistas e bandas, desde a montagem do palco até as hospedagens e transportes.
Para a CEO da Double Check Consultoria, a oferta limitada de shows também favorece a alta nos ingressos, além do custo de trazer uma equipe inteira com bailarinos, seguranças e equipe técnica.
"Sabemos que o Brasil tem uma carga tributária alta, e isso impacta diretamente o valor dos ingressos. Impostos como o ICMS, PIS, Cofins pesam muito no orçamento do evento, refletindo no preço do ingresso", detalha Daniela Pederneiras.
Preço da alimentação
O preço da comida e das bebidas nas arenas e espaços destinados a grandes eventos internacionais também são impactados pelos impostos.
Alexsandra Ventura, fã da banda Rebelde, achou um "absurdo" o valor de um sanduíche no dia do show do grupo, no Rio de Janeiro, em novembro.
"Um simples lanche, só pão, queijo e carne, estava R$ 20. Eu achei completamente fora da minha alçada. Então, eu até levei biscoito e tudo mais, mas só podia entrar com biscoito fechado [no estádio]", conta a jovem, de 24 anos.
Ela também disse que um copo de 200ml de água estava sendo vendido por R$ 6 no dia do show.
"Não é questão de show só de artistas de fora, não. Daqui do Brasil também. Eu já fui em show que um simples hambúrguer estava 20 reais", lembra Alexsandra Ventura.
Procurados, o Rock in Rio não comentou sobre o alto valor dos ingressos dos shows. Tentamos contato com a produção do Lollapaloza, mas não obtivemos retorno.