Plano Real trouxe investimentos e foi pré-requisito para privatizações no Brasil
Nos anos posteriores à implementação do plano, país desestatizou empresas como a Telebras, que era responsável pelo sistema de telefonia
As ligações telefônicas, que hoje são feitas rapidamente e com custo relativamente baixo, transformaram o telefone de disco em peça de museu. Esses e outros avanços registrados no Brasil nas últimas três décadas só foram possíveis graças ao Plano Real, que trouxe estabilização monetária ao Brasil após décadas de hiperinflação.
A reportagem faz parte de uma série de três episódios sobre os 30 anos do Plano Real que começou a ser exibida pelo SBT Brasil na segunda-feira (1°).
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A estabilização da economia brasileira proporcionada pela nova moeda foi um pré-requisito para a privatização do sistema de telefonia no país. Gustavo Franco, integrante da equipe do Plano Real e ex-presidente do Banco Central, explica a relação: "A estabilização funcionou como um pré-requisito para o programa de privatização, trouxe também muito investimento direto estrangeiro, que espontaneamente veio para cá. Não existe futuro quando a inflação é de 12.500% ao ano, quem é que compra uma empresa com inflação desse tamanho?"
“Brasil estava em uma 'cracolândia' da inflação”, diz Gustavo Franco sobre economia pré-Plano Real
Financiamentos mais longos e com parcelas iguais também são uma conquista que veio apenas com o Real. Embora hoje pareça simples, a transição não foi fácil. Quando o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso explicou a implantação da nova moeda no programa de Silvio Santos, havia muita incerteza e tensão.
Muita gente andava com uma calculadora de bolso para fazer a conversão de preços do Cruzeiro para a URV (Unidade Real de Valor) e depois para o Real, consultando uma tabela corrigida diariamente.
"Todos tínhamos uma ideia de que havia risco envolvido, como tudo no Brasil tem risco, e o Real não foi exceção. Uma coisa é reduzir dramaticamente a hiperinflação e outra é assegurar a consolidação dessa vitória em uma perspectiva de médio e longo prazo", pontua o economista e também criador do Plano Real Pedro Malan.
Quando o plano econômico foi lançado em 1º de julho de 1994, R$ 1,00 valia US$ 1,00. Em 1999, o Brasil abandonou a política de paridade e adotou o câmbio flutuante, que é mais imprevisível, mas ajudou o país a diminuir a dívida externa e a ficar mais forte ante crises internacionais.
+"Democracia pode punir governante muito leniente com a inflação", diz Pedro Malan
Hoje, um real equivale a apenas R$ 0,12 de 1994, ano da sua implementação. Mas, se o país seguisse com a inflação galopante como era antes do Plano Real, os preços seriam tão astronômicos que ficaria difícil até mesmo pronunciar.
É o caso da dúzia de ovo. Uma dúzia custava, há trinta anos, R$ 0,99, menos de um real. Hoje, custa cerca de R$ 12
Se a inflação ainda continuasse naquele ritmo de 1994, o preço seria esse: R$ 1.015.667.481.973.600.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000,00
Um número seguido de 67 dígitos.