"Democracia pode punir governante muito leniente com a inflação", diz Pedro Malan
Nos 30 anos do Real, ex-ministro da Fazenda revela qual era sua principal preocupação na implementação do plano econômico
Um dos pais do Plano Real e ex-ministro da Fazenda, o economista Pedro Malan refletiu sobre a implementação do programa que conseguiu acabar com o problema que assolava os brasileiros há décadas: a hiperinflação. Para ele, o sucesso do plano de estabilização da economia brasileira, que completa 30 anos neste 1º de julho, não aconteceu em um “passe de mágica” e só foi possível porque houve liderança política e a rápida aceitação da população em relação à nova moeda.
A entrevista faz parte de uma série de três episódios sobre o Plano Real que começa a ser exibida pelo SBT Brasil a partir desta segunda-feira (1°).
Ao SBT Brasil, Malan enfatizou que a introdução da Unidade Real de Valor (URV) foi um passo essencial, que ajudou a ancorar as expectativas de preços antes da introdução do real como moeda corrente. Ele também admitiu que tanto ele quanto os outros criadores do plano sabiam que havia um risco envolvido, mas a maior preocupação era outra:
“Havia uma visão compartilhada de que o esforço podia dar bons resultados se a ele fosse dado continuidade. Esse ponto sempre foi importante para mim. Uma coisa é você ter uma primeira vitória e reduzir dramaticamente a hiperinflação e a outra é você assegurar a consolidação dessa vitória”, afirmou.
“Para vários de nós, a preocupação era como assegurar a continuidade dos esforços para que a estabilidade social fosse incorporada de maneira mais definitiva à cultura brasileira, à sociedade brasileira, e ela passasse a exigir de governos que fossem responsáveis na condução da economia e na preservação da inflação sob controle”.
Para o economista, isso aconteceu. Questionado se existe alguma ameaça à estabilidade monetária do Brasil após três décadas de Plano Real, ele disse achar que não e explicou o porquê.
“Depois de 30 anos de inflação relativamente baixa, na média, estou convencido e espero não estar equivocado que, qualquer governo, atual ou que venha no futuro no Brasil, cujo presidente tenha uma atitude de negligência, complacência, essa pessoa será punida nas urnas pelo eleitorado, porque acho que o trabalhador brasileiro aprendeu que a inflação baixa é a preservação do poder de compra do seu salário”, disse.
“A democracia terá esse efeito de punir nas urnas um governante que se mostre muito complacente, muito leniente, em relação à inflação”, concluiu.