“Brasil estava em uma 'cracolândia' da inflação”, diz Gustavo Franco sobre economia pré-Plano Real
Uma das mentes por trás do plano, o ex-presidente do Banco Central conversou com o SBT Brasil; confira série especial
Uma das mentes por trás do Plano Real, o economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco comparou o período de hiperinflação no Brasil ao vício destrutivo em crack e alertou que, assim como um ex-adicto, é necessário ter zelo. "Pequenas dosagens daquele comportamento do passado podem ter consequências proporcionalmente graves", disse o economista ao SBT Brasil.
"Tivemos uma das maiores inflações que a humanidade já conheceu, aprendemos alguns truques, não apenas sobreviver com esse tipo de barulho, como também sobre como combater a doença".
A entrevista faz parte de uma série de três episódios sobre o Plano Real que começa a ser exibida pelo SBT Brasil a partir desta segunda-feira (1°), data que marca 30 anos da implementação do processo de estabilização econômica do Brasil.
“ (A inflação) É uma espécie de vício que a gente abandonou e está sempre com a gente. Como os vícios estragam os organismos, é onde eles se manifestam, se instalam, a gente nunca vai ficar livre disso, mas a gente pode viver normalmente, como temos vivido nos últimos 30 anos e espero que nos próximos 30 também”.
Para Franco, a implementação do Plano Real, em 1994, marcou um ponto de virada para o país, com a introdução da Unidade Real de Valor (URV) e a subsequente estabilização da moeda após 15 anos de economia brasileira completamente descontrolada, com taxas inflacionárias atingindo níveis de até 12.500% ao ano.
"Tínhamos medo até mesmo de mencionar a palavra 'hiperinflação'. Era uma doença que afetava o tecido social de maneira profunda", explica Franco, que enfatiza que o Brasil não apenas recuperou sua saúde econômica, mas também reconquistou sua posição no cenário econômico global com o Plano Real.
"Aí, sim, se podia dizer que o Brasil voltou para o mundo econômico da vida inteligente, não é isso? Estávamos no meio de uma espécie de cracolândia da inflação, onde nada funciona, um organismo econômico estragado, que recobrou a sua saúde.”
O economista destaca ainda a importância da disciplina fiscal e da gestão responsável da política monetária para manter os ganhos conquistados.
"O Conselho Monetário Nacional não pode funcionar capturado como funcionou no passado. O fiscal tem que estar organizado, o comércio exterior tem que funcionar como disciplina da competição, várias coisas precisam estar funcionando e a autoridade monetária [o Banco Central] é a principal delas todas. É quem manda na moeda", afirma.
"Estamos super bem defendidos hoje, com a disciplina de metas, e a atuação que o Banco Central tem tido nos últimos anos. A ameaça doméstica é o fiscal, e sobretudo quando as autoridades não entendem a importância disso, acham que gastar dinheiro público é bom e não tem consequência", completa.