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Pandemia e cassinos online aumentaram tráfico humano em Mianmar e sudeste asiático

Embaixadas tiveram, pela 1ª vez, mais pedidos de ajuda a vítimas do trabalho forçado do que em exploração sexual; brasileiro estaria entre vítimas

Imagem da noticia Pandemia e cassinos online aumentaram tráfico humano em Mianmar e sudeste asiático
Performance teatral sobre tráfico de pessoas | Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Mianmar, no sudeste asiático, é um dos principais destinos do tráfico humano internacional para firmas de crimes virtuais, que fazem vítimas em diversas partes do mundo. No Brasil, é crescente os casos de pedido de ajuda vindos da região, que concentra alguns dos centros de cibercrimes do mundo. Um negócio ilegal que faz cada vez mais vítimas em busca de oportunidade de emprego, e que acabam caindo nas redes de traficantes de pessoas para trabalho forçado.

Brasileiros, como Luckas Viana Santos - cuja família tenta repatriação de Mianmar junto ao governo federal, como mostrou o SBT News -, também são atraídos pelas falsas propostas de emprego, mas acabam nas mãos de quadrilhas.

Um dado inédito sobre o aumento do tráfico internacional de pessoas mostra que, nos últimos três anos, foi registrado mais brasileiros no exterior em possíveis casos de trabalho forçado do que de casos de exploração sexual.

São 109 possíveis casos de pessoas exploradas por trabalho forçado, que buscaram ajuda nas embaixadas brasileiras, segundo o Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Dados 2021 a 2023.

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O documento indica ainda que o sudeste asiático tem relação direta com essa mudança de motivo para o tráfico humano. "Esse considerável aumento de vítimas brasileiras em contexto de submissão a trabalhos forçados possui relação direta com os casos de exploração no sudeste asiático."

"Foi documentado pelo Ministério das Relações Exteriores que, de forma inédita, registrou um número significativamente superior de brasileiros/as explorados/as laboralmente no exterior. Foram identificadas 109 possíveis vítimas de exploração laboral, 21 de exploração sexual e 45 de exploração mista. Dos relatórios nacionais publicados anteriormente o tráfico internacional de brasileiros/as era fundamentalmente para a exploração sexual. Esse considerável aumento de vítimas brasileiras em contexto de submissão a trabalhos forçados possui relação direta com os casos de exploração no sudeste asiático."

O Plano Nacional de Combate ao Tráfico Humano, lançado em julho pelo governo federal, destaca o problema dos brasileiros que vão para Mianmar, Tailândia, Filipinas, Laos e Camboja, e são capturados pelas redes de traficantes que abastecem os centros de golpes virtuais na região.

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Mianmar é um dos países mais pobres do sudeste asiático, e faz divisa com a China. Desde 2021, o país sofre com um golpe militar sangrento e conflitos internos entre milícias, situação perfeita para o agir de criminosos.

O documento brasileiro usa dados da ONU, que destacavam o problema de golpes online no sudeste asiático, em agosto de 2023. Segundo publicação oficial do órgão, 120 mil pessoas detidas em Mianmar e 100 mil no Camboja.

"Pelo menos 120 mil pessoas podem estar detidas em Mianmar, forçadas a aplicar golpes online. No Camboja, estima-se que sejam cerca de 100 mil cidadãos nesta situação. Outros Estados da região, incluindo Laos, Filipinas e Tailândia, também foram identificados como locais de destino ou trânsito deste tipo de tráfico humano", sobre relatório de tráfico humano de 2023, do Escritório do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU .

Na divisa da Tailândia e Mianmar, o KK Park seria um desses centros de golpes cibernéticos, fraudes digitais e destino de vítimas do tráfico de humano. A família do brasileiro Luckas Viana Santos acredita que ele esteja no local. Em dezembro de 2022, seis brasileiros vítimas do tráfico humano foram resgatados pelo governo brasileiro em Mianmar e trazidos de volta. Eles narraram terem sido mantidos neste mesmo endereço (KK Park).

Os relatos são bem parecidos aos da família do brasileiro Luckas, que conta sobre jornadas de 15 horas de trabalho, passaportes retidos pelos contratantes e agenciadores, violência física e psicológica, dívidas impagáveis e incomunicabilidade.

A pandemia e os novos costumes tecnológicos tem impulsionado essa rede do crime transnacional no mundo, nos últimos anos. Segundo o relatório brasileiro, a "vulnerabilidade socioeconômica aumenta a suscetibilidade" das vítimas. Outro problema, é que "a tecnologia, em especial a internet, mudou radicalmente o modus operandi do tráfico".

Anualmente, 49 milhões de pessoas são negociadas entre países para exploração do trabalho, para venda de órgãos, para exploração sexual e adoção, denuncia a ONU.

"Como efeito da pandemia de Covid-19, fecharam-se cassinos e locais habilitados para jogos, e, paralelamente, o aumento da vulnerabilidade econômica de um grande número de pessoas se constituiu em um terreno fértil para que traficantes atuassem de forma fraudulenta no ambiente digital, seja via jogos de azar ou investimento em criptomoedas, por exemplo", trecho do Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Dados 2021 a 2023, lançado em junho de 2024.

A conclusão é que as "plataformas digitais expandiram significativamente o alcance territorial dos perpetradores em fraudes online", afirma o relatório. "O que lhes permitiu recrutar pessoas em diferentes países e de distintos idiomas".

A ONU destaca que a pandemia impactou muito "nas atividades ilícitas em todo o sudeste asiático". "As medidas de saúde pública fecharam cassinos. Com isso, as operações foram transferidas para áreas de fronteira afetadas por conflitos e Zonas Econômicas Especiais, bem como para o espaço online cada vez mais lucrativo."

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O Itamaraty, a ONU e entidades de combate ao tráfico humano têm emitido alertas sobre o problema e os riscos nos últimos anos. "Autoridades brasileiras têm se deparado com um fluxo considerável de brasileiros migrando para essa região", informou o governo em um alerta oficial do final de 2022 – quando foi lançada uma cartilha sobre Mianmar e região.

O MPF criou a Unidade Nacional de Enfrentamento ao Tráfico Internacional de Pessoas e ao Contrabamdo de Migrantes (UNTC), em agosto deste ano. Uma série de reportagens em vídeo do canal do órgão no YouTube dimensiona o problema do tráfico humano e as ações na Justiça contra traficantes. No quarto capítulo, o tráfico para o sudeste asiático é tratado.

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