Palestino é retido pela PF em aeroporto e repatriado junto com família
Agentes disseram que o professor universitário Muslim M. A. Abuumar tem ligação com o Hamas; defesa alega "preconceito étnico e político"
A Justiça Federal de São Paulo autorizou, neste domingo (23), a repatriação do palestino Muslim M. A. Abuumar, de 37 anos, que ficou retido no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, por dois dias. A Polícia Federal alega que o homem é suspeito de ter ligação com o grupo terrorista Hamas.
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Às 20h15 de ontem, o professor universitário Muslim e seus familiares – a esposa Siti, de 33, grávida de 7 meses; o filho Mohamad, de 6; e a sogra Khatijan, de 69 – embarcaram em um voo para Doha, no Catar, que depois seguirá para Kuala Lumpur, na Malásia, onde moram. O advogado do palestino, Bruno Henrique de Moura, afirma que a repatriação aconteceu por "preconceito étnico e político" e negou a acusação de envolvimento com terrorismo.
A juíza plantonista Millena Marjorie Fonseca da Cunha, da 5ª Vara Federal de Guarulhos, revogou a liminar que ela mesma havia concedido no sábado (22) para impedir a extradição. Para a magistrada, não há nos autos "nada que permita concluir que autoridade impetrada teria agido por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política".
Ela havia pedido, no dia anterior, que a PF explicasse em até 24 horas os motivos para a retenção do palestino. Segundo informações apuradas pelo SBT News, agentes federais apresentaram uma lista de pessoas ligadas ao grupo terrorista Hamas com o nome de Muslim M. A. Abuumar. O documento, chamado de No Fly List, teria sido entregue aos brasileiros pelo TSC (Terrorist Screening Center, no português Centro de Triagem de Terroristas) do FBI (Departamento Federal de Investigação americano).
Além da lista de supostos terroristas, a PF também considerou o risco da esposa de Muslim, Siti, ter o filho no Brasil. Ela está grávida de 7 meses e, caso o parto acontecesse aqui, o bebê teria cidadania brasileira. A suspeita dos agentes é de que eles usariam isso para pedir a aprovação da cidadania para o resto da família – a grande quantidade de bagagens foi considerada um indicativo.
Oficialmente, a Polícia Federal afirmou que a Justiça "entendeu legítimos os motivos de impedimento, conforme acordos e convenções internacionais, e autorizou a repatriação" e que o processo de retenção "seguiu estritamente os acordos e tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário para combater ameaças terroristas".
A defesa do palestino contesta as informações. Segundo o advogado, Muslim é professor universitário e diretor do Centro de Pesquisa e Diálogo da Ásia e Oriente Médio. Ele teria vindo com os familiares em uma viagem de férias e passaria 18 dias em São José dos Campos (SP), onde o irmão dele – que tem cidadania brasileira – vive.
Ele já tinha viajado ao Brasil em 2023, ficando em solo brasileiro por 17 dias, sem intercorrências.
Dessa vez, Muslim tentou entrar no Brasil com um visto de turista, válido até 12 de junho de 2025 e concedido pela embaixada brasileira na Malásia. A esposa, o filho e a sogra, como cidadãos malaios, não precisam de visto para entrar no Brasil, por causa de acordo entre os dois governos. Os quatro já tinham passagem de volta comprada, com saída no dia 9 de julho.
"Na porta do avião, Muslim foi abordado por agentes da Polícia Federal que o levaram para interrogatório. No ato, agente que não foi identificado questionou suas predileções políticas, se ele apoia e a resistência palestina à ocupação da Faixa de Gaza pelo Estado de Israel e suas motivações para viajar até o Brasil", diz a defesa.
O palestino alega que não foi acompanhado por tradutor ou advogado. A PF também não apresentou para ele nenhum documento que comprovasse as acusações feitas.
"Se ele é terrorista, por que a PF não prendeu ele? Seria dever da entidade. A lei de terrorismo determina às autoridades fazê-lo imediatamente", diz o advogado em entrevista ao SBT News.
Pouco mais de 50 horas após pousarem no Brasil, Muslim e a família foram colocados em outro avião e despachados de volta para a Malásia. O irmão do palestino não conseguiu nem entregar um carrinho que tinha comprado para o sobrinho de 6 anos.