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ONG acusa H&M e Zara de ligação com desmatamento no Brasil

Relatório aponta que as empresas usam algodão de produtores brasileiros com "histórico de processos judiciais e milhões de dólares em multas por desmatamento"

ONG acusa H&M e Zara de ligação com desmatamento no Brasil
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Uma investigação da ONG britânica Earthsight - realizada durante um ano - revelou que a Zara e H&M, duas gigantes das fast fashion, estão ligadas ao "desmatamento ilegal em grande escala no Brasil, ocupação de terras, corrupção e violência no campo" que ocorrem nas plantações de seus fornecedores de algodão.

Utilizando imagens de satélite, decisões judiciais, registros de remessas e até mesmo se disfarçando em feiras comerciais globais, a organização conseguiu rastrear 800.000 toneladas de algodão utilizadas pelas fast fashion e descobriu que eles são cultivados no oeste do estado da Bahia por dois dos maiores produtores do país: Grupo Horita e SLC Agrícola.

Segundo a ONG, tanto o Grupo Horita como a SLC Agrícola têm uma longa ficha corrida de desmatamento ilegal e infrações ambientais no oeste da Bahia.

O relatório aponta que, em 2014, o órgão ambiental da Bahia identificou 25.153 hectares de desmatamento ilegal nas fazendas do Grupo Horita na Estrondo, e que, em 2020, o mesmo órgão indicou que não conseguiu encontrar licenças autorizando 11.700 hectares de desmatamento realizado pela empresa entre 2010 e 2018. De acordo com a investigação, o Ibama multou a Horita mais de 20 vezes entre 2010 e 2019 (totalizando R$ 22 milhões) por infrações ambientais.

A Earthsight acusa a SLC de ter um histórico "igualmente preocupante". Segundo a ONG, "suas fazendas Piratini, Palmares e Parceiro, todas produtoras de algodão, perderam pelo menos 40 mil hectares de vegetação nativa do Cerrado nos últimos 12 anos, e, apesar da política de desmatamento zero adotada em 2021, a empresa foi acusada de desmatar 1.365 hectares de vegetação nativa em sua fazenda Palmares em 2022.

Qual é o papel da H&M e Zara nisso?

O relatório destaca que as gigantes da fast fashion não compram esse algodão diretamente dos produtores. Como a maioria das grandes marcas de moda da Europa e dos EUA, elas adquirem suas peças de roupa principalmente de fornecedores localizados na Ásia. E, segundo a ONG, o problema está aí.

São essas empresas asiáticas que transformam o algodão cru nos produtos finais encontrados nas lojas. Examinando milhares de registros de exportação, a ONG descobriu que os fornecedores de H&M e Zara adquirem algodão cultivado pelo Grupo Horita e SLC Agrícola.

Esse algodão cru, chega as fábricas asiáticas certificados como sustentável pela organização sem fins lucrativos Better Cotton (BC), um sistema de certificação ética que apresenta falhas graves e é acusado por especialistas de greenwashing e falha na proteção dos direitos, segundo a ONG, que revela ainda que o Brasil produz a maior quantidade mundial de fibra licenciada pela Better Cotton, ou 42% do volume global.

O relatório afirma que, apesar da Better Coton ter atualizado suas regras em 1º de março de 2024 , elas "continuam repletas de lacunas, conflitos de interesse e aplicação fraca"

De acordo com as novas regras, o algodão proveniente de terras desmatadas ilegalmente antes de 2020 ainda pode ser certificado como sustentável pelo BC, mesmo que a terra tenha sido roubada das comunidades locais, aponta a Earthsight.

Qual o impacto disso?

Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), o Brasil é hoje o segundo maior exportador de algodão do mundo e tem projeção de se tornar o maior até 2030. Quase todo esse algodão é cultivado no Cerrado.

Um dos biomas mais ricos do planeta, o Cerrado teve 50% do seu território desmatado nos últimos 40 anos. Segundo o Sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 2023, as taxas de desmatamento no bioma aumentaram 43% em comparação com o ano anterior.

De acordo com a ONG, o impacto climático disso é enorme. "A retirada da vegetação do Cerrado para fins de produção agrícola gera tanto carbono por ano quanto as emissões anuais de 50 milhões de carros", afirma a Earthsight.

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