Número de mortes de motociclistas no Estado de São Paulo chega a 1.500 em 2024
Excesso de velocidade, falta de fiscalização e desrespeito às leis de trânsito são apontados como principais causas
O número de mortes de motociclistas no Estado de São Paulo já alcançou 1.500 neste ano. As principais causas apontadas para essa tragédia incluem o excesso de velocidade, a falta de fiscalização e o desrespeito às leis de trânsito.
Levi Silva Castro, que cruzava a cidade de São Paulo diariamente de moto para trabalhar e estudar, viu sua vida mudar drasticamente após um acidente em fevereiro de 2022. O acidente o deixou tetraplégico, e hoje ele passa por reabilitação para tentar recuperar alguns movimentos.
De acordo com dados do Infosiga, do governo paulista, Levi faz parte de um perfil comum entre as vítimas de acidentes envolvendo motociclistas. Nove em cada dez são homens, e a maioria, 68%, tem entre 18 e 30 anos. Os dados de 2023 também mostram que 44% das vítimas ficam paraplégicas ou tetraplégicas, e 23% sofrem amputações. Casos de múltiplos traumas também são frequentes, como explica a professora de medicina da USP, Linamara Rizzo Battistella.
"Quando o trauma é crânio-encefálico, as questões cognitivas são mais dramáticas e não são raras. A associação entre amputação e um trauma crânio-encefálico pode acontecer", explica Linamara.
A situação se agrava a cada ano. Até 31 de julho de 2024, o número de mortes de motociclistas no Estado de São Paulo atingiu quase 1.500, um aumento de 26% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Só na capital paulista, foram registradas 277 mortes, uma alta de 33%.
Nas ruas, cenas comuns revelam os motivos por trás dessas tragédias: motociclistas avançando sinais vermelhos, ultrapassando pela direita e pilotando em alta velocidade. O engenheiro civil e especialista em transporte Sérgio Ejzemberg lamenta a falta de fiscalização.
"Eu chamo de desobediência civil. É uma falta de controle absoluta, e vemos isso diariamente em São Paulo. As motocicletas não têm fiscalização adequada", ressalta Sérgio.
O Detran afirma que realiza ações constantes de fiscalização, como as operações "Direção Segura Integrada", que incluem a checagem de motocicletas. No entanto, São Paulo tem mais de um milhão de motos em circulação, muitas delas conduzidas por pessoas não habilitadas.
Ainda segundo Sérgio Ejzemberg, muitos motociclistas estão correndo riscos não por imprudência, mas pela necessidade de trabalhar e gerar renda.
"Quem está correndo de motocicleta por aí não faz isso porque é louco. Ele faz porque precisa de dinheiro. Está trabalhando, quer trabalhar mais para levar dinheiro para casa", comenta o especialista.
A professora Linamara Rizzo Battistella reforça que a busca pelo "perigo" é um grande equívoco.
"A ideia de que o perigo nos desafia é um erro. O perigo nos diminui, nos tira a oportunidade de viver plenamente a vida", finaliza.