Nas redes sociais, busca por likes em vídeos desafiadores coloca vidas em risco
Em troca de curtidas e visualizações, pessoas se arriscam em situações perigosas, e podem pagar caro por isso
Marco Pagetti
A corrida pelo sucesso nas redes sociais está ultrapassando os limites da segurança. Cada vez mais pessoas têm se colocado em situações de risco para produzir conteúdos que chamem a atenção e viralizem na internet. Seja em cima de um trem em movimento ou à beira de penhascos, a busca por likes e visualizações pode acabar em tragédia.
O eletricista Rodrigo Ferreira é um exemplo disso. Nas horas vagas, ele grava vídeos arriscados: pedaladas em alta velocidade e até viagens clandestinas em cima de trens de carga entre São Paulo e o litoral paulista. “Se não for pra gravar e postar, eu nem saio de casa. Meu sonho é viralizar”, revela .
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Em locais turísticos, como pontes e mirantes em regiões de mata, o problema é recorrente. O instrutor Willian Thomaz, que trabalha com esportes de aventura, conta que é comum visitantes ignorarem as orientações de segurança para conseguir a “foto perfeita”.
“A gente vê muito isso: o pessoal quer aquele ângulo diferenciado e acaba se expondo demais. Um passo a mais e o passeio termina em acidente”, comenta.
Na cidade de Juquitiba, interior paulista, a cena se repete: visitantes chegam próximos demais da borda para registrar imagens com a paisagem ao fundo, sem perceber o perigo real. Quedas de pontes são constantes por ali.
Casos que viraram notícia
Infelizmente, casos de acidentes envolvendo selfies perigosas estão se multiplicando pelo mundo: a busca por uma selfie em locais arriscados já casou a morte de mais de 500 pessoas desde 2008, segundo a Fundación iO, organização que desenvolve projetos em saúde especialmente no campo de doenças infecciosas e da medicina do viajante,
No Brasil, histórias trágicas também surgiram nos últimos anos, como o caso de jovens que caíram de cachoeiras e prédios enquanto tentavam tirar fotos arriscadas para as redes sociais.
Recentemente, em São Paulo, jovens em motos invadiram um supermercado, arriscando a vida de pessoas que faziam compras. Eles gravaram a "façanha" e publicaram nas redes. O vídeo viralizou.
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Para a psicóloga Juliane Malet, especialista em saúde pública, esse comportamento vai além da vaidade. “A busca por aprovação social, pela validação digital e pelo reconhecimento imediato faz com que as pessoas se arrisquem mais. Vivemos em uma cultura onde ser visto é sinônimo de existir”, explica.
Juliane alerta que essa necessidade, somada à pouca fiscalização das plataformas digitais, torna o ambiente ainda mais propício para atitudes irresponsáveis. “Infelizmente, muitos não percebem que estão colocando a própria vida em risco por algo passageiro. E quando percebem, pode ser tarde demais.”
Na busca insana por curtidas, fica o alerta para os riscos envolvidos: a consequência de um único clique pode ser fatal.