Montanha de lixo desaba em área de preservação ambiental no Entorno do DF
Aterro, que já operava sem licença ambiental, foi alvo de ações do MPGO e do ICMBio; deslizamento contaminou afluente do rio Descoberto e afetou moradores

Warley Júnior
Uma montanha de lixo do Aterro Sanitário Ouro Verde, em Padre Bernardo (GO), desabou na manhã de quarta-feira (18) dentro da Área de Preservação Ambiental (APA) do Rio Descoberto. Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), o deslizamento não causou surpresa, já que a instituição há anos vinha pedindo a interdição do local por irregularidades ambientais.
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O lixo desceu por uma encosta de cerca de 200 metros e atingiu um dos principais afluentes do Rio Descoberto, que abastece parte do Distrito Federal e do Entorno. Técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) classificaram os danos ambientais como "gravíssimos". O instituto já havia multado e embargado o local em setembro de 2023 pela falta de licenciamento ambiental. Durante o colapso, moradores próximos relataram forte cheiro de gás. Pelo menos uma pessoa foi intoxicada e levada ao hospital. O estado de saúde da vítima não foi divulgado.
Histórico de irregularidades
Em nota oficial, o Ministério Público de Goiás (MPGO) afirmou que o desabamento não causou surpresa. A instituição já atuava desde 2016 pela interdição do aterro. Em 2021, o MPGO e o Ministério Público Federal (MPF) ajuizaram uma ação civil pública na Justiça Federal de Luziânia exigindo o fechamento do aterro por ausência de estudos ambientais e por estar localizado em área de preservação.
Na ocasião, foi concedida uma liminar que suspendeu temporariamente as atividades. No entanto, a decisão foi posteriormente cassada pelo Tribunal Regional Federal, permitindo a continuidade da operação sem a apresentação dos estudos ambientais exigidos por lei.
“O Ministério Público de Goiás informa que o desabamento ocorrido hoje (18/6) no aterro Ouro Verde, em Padre Bernardo, não constituiu surpresa para a instituição, que atua há anos buscando a interdição do local”, diz a nota do MPGO.
A instituição informou ainda que já notificou os órgãos competentes e seguirá acompanhando os desdobramentos do caso.
Aterro segue em operação com base em liminares
O aterro Ouro Verde funciona em uma área de mais de 10 hectares e é apontado por órgãos ambientais como uma ameaça à biodiversidade da Chapada onde está inserido. Relatórios técnicos do ICMBio e da Universidade de Brasília (UnB), elaborados em 2024, indicam que a atividade no local compromete a integridade de nascentes, córregos e outros corpos hídricos da região de Padre Bernardo, especialmente o Córrego Santa Bárbara.
Prefeitura e responsáveis pelo aterro
A equipe do SBT Brasília procurou a Prefeitura de Padre Bernardo e os responsáveis legais pelo Aterro Ouro Verde, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado com as manifestações.
O Ministério Público reitera que seguirá atuando para garantir a responsabilização dos envolvidos e o cumprimento da legislação ambiental. O caso deve ser investigado por órgãos estaduais e federais nas próximas semanas.