Maior facção do Rio expande controle territorial, enquanto milícia perde força, mostra estudo
Pesquisa mostra que 4 milhões de moradores do Rio de Janeiro vivem sob controle ou influência do crime organizado

Murillo Otavio
O novo Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, produzido pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni/UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado (IFC), revela uma reconfiguração territorial, marcada pela ascensão do Comando Vermelho (CV) e pelo recuo das milícias. Cerca de 4 milhões de moradores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro vivem sob controle ou influência do crime organizado.
O Comando Vermelho (CV) se consolidou como o grupo com maior domínio populacional efetivo. Seu crescimento, que totalizou 30,9% do controle populacional entre 2007 e 2024, foi impulsionado pela tomada de territórios rivais, como ocorreu na Rocinha e no Vidigal em 2018.
As milícias ainda detêm a maior extensão territorial total (201 km²), mas enfrentam retração desde 2020. O recuo abriu espaço para o avanço do CV.
Entre os fatores do colapso parcial das milícias, destacam-se a atuação do Ministério Público e as crises de liderança. A morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko, em 2021, e a prisão de seu sucessor, Zinho, em 2023, desestabilizaram a maior milícia do estado, acelerando a perda de território.
O relatório também destaca que o domínio armado não é aleatório, estando profundamente ligado à desigualdade estrutural do Rio. Moradores de áreas controladas têm uma renda média per capita significativamente menor e a população é majoritariamente não branca (69,1%), especialmente em regiões como a zona sul e o centro.
A partir de 2020, o mapa registrou uma "gradual retração" do domínio armado na Região Metropolitana, movimento inédito na série histórica de 18 anos e diretamente associado ao enfraquecimento miliciano. Apesar disso, a metrópole continua muito mais dominada do que em qualquer momento anterior ao início da série.
Os autores concluem que enfrentar a violência no Rio exige mais do que ações policiais, demandando políticas públicas que intervenham em questões como renda, racismo estrutural, regulação econômica e fortalecimento institucional contínuo.









